15/07/2013

Motoristas mal-humorados

Carlos Alenquer*


Mãos ao alto. Já foi dito aqui, em outras ocasiões, que campanhas de educação do trânsito, em vez de falar aos pedestres, deveriam dirigir seus apelos aos motoristas; os pedestres, como é óbvio – e por mais mal-educados que sejam – não têm o poder de atropelar, avançar sinais, estacionar em paradas proibidas, nem buzinar com insistência quando estão irritados.

Quanto aos motoristas, sabe-se que é incomensurável sua competência para sair das garagens como se estivessem acabando de se livrar de um pit stop, estacionar nos pontos de ônibus, nas faixas de pedestres e acelerar quando o sinal fica amarelo.

Dia desses, para confirmar a prepotência dos motorizados, um deles puxou de um revólver e atirou no carro vizinho, só pra mostrar quem manda no pedaço. Como era um carro da reportagem do jornal O Tempo, a violência ficou registrada. Fosse de um comum dos mortais sem câmera para documentar a agressão e teríamos mais um evento beirando a impunidade.

Prova de que, por via das dúvidas, é preferível fazer campanhas para educar os motoristas – e desarmá-los, se possível – posto que esses caras aborrecidos, atirando em quem consideram desafetos, são mais perigosos do que pedestres atravessando a rua na faixa em que deveriam ter preferência. [15/jul/2013]


Segredos íntimos. Fernando Pessoa dizia que todas as cartas de amor são ridículas, pelo simples fato de serem cartas de amor – e, portanto, ridículas. Mesmo assim, trilhões de mensagens enviadas como cartas de amor são captadas por desocupados das agências de espionagem para determinar se são cartas de amor ridículas ou se transmitem alguma mensagem subversiva sobre o que realmente desejariam dizer, ou fazer.

Este é o mistério nesses tempos de NSA, CIA, FBI e congêneres: um Big Brother que não deixa mais lugar para uma declaração de amor, promessa de uma vida inteira de felicidade e alegria, independente do que esteja acontecendo no mundo espião lá fora.

Para fugir do protocolo policial, talvez a solução seja voltar aos Correios (antigamente Correios e Telégrafos), instituição com crédito de algumas centenas de anos enviando e recebendo correspondências invioláveis – exceções feitas aos tempos das ditaduras.

Mesmo assim, se os Correios não forem suficientes, voltemos então aos tempos das mensagens enviadas pela garrafa, ao deus-dará. E embora ridículos, continuaremos amorosos. [13-14/jul/2013]

Lembrete. A propósito da espionagem que, dizem, a OEA vai condenar: Bob Fernandes já havia matado a charada tempos atrás. Leia aqui. [13-14/jul/2013]
*Carlos Alenquer começou como jornalista (repórter e redator de rádios e jornais) em Fortaleza, depois no Rio e em Belo Horizonte. Migrou para a propaganda, mas continuou colaborando em vários jornais e revistas. Tem dois livros publicados: Anúncios (Achiamé, Rio) e 21 Poemas (Mazza, BH).

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