09/08/2013

Mundo desigual

Marcus Eduardo de Oliveira


As desigualdades socioeconômicas em escala mundial são cada vez mais assombrosas. Definitivamente, o mundo está mais desigual e menos fraternal. Parece mesmo que o mundo está de cabeça para baixo – The world turned upside down, como diz a letra da música do Coldplay, e como também foi intitulado o relatório sobre as desigualdades publicado pela prestigiosa revista inglesa The Economist. 

Os números da desigualdade formam um triste cenário: um em cada dois seres humanos vive com menos de dois dólares diários; um em cada três não têm acesso à eletricidade; um em cada cinco não têm acesso à água potável; um em cada seis é analfabeto. Num mundo ocupado por 7 bilhões de pessoas, um adulto em cada sete e uma criança em cada três sofre de desnutrição. A cada cinco segundos uma criança morre de fome; embora haja terras férteis para o cultivo dos alimentos, pois, apenas como exemplo, cabe apontar que o plantio destinado para produzir alimentos para o gado nos Estados Unidos da América é de 64% da quantidade de terras próprias, enquanto que a produção de frutas e alimentos ocupa apenas 2%. No desenrolar dos fatos e na somatória dos números, resulta que uma pessoa a cada sete padece de fome. 

Enquanto o consumo de alimentos cresce apenas para uma parte da população mundial, a outra parte se vê alijada desse banquete gastronômico: simplesmente 20% da população mundial – ou uma em cada cinco pessoas – está excluída da participação no consumo de alimentos. Nada mais que 300 milhões de pessoas no mundo têm uma expectativa de vida inferior a 60 anos; em parte, decorrente da má alimentação, além das patologias comuns pela carência de alimentos e nutrientes. 

Os números que corroboram a desigualdade mundial continuam: 35% da população mundial não têm energia e proteínas suficientes em sua dieta. Há dois bilhões de pessoas anêmicas, incluindo 5,5 milhões que habitam os países do capitalismo avançado.

No entanto, enquanto as sequelas da fome vitimam considerável parte da população, do outro lado da história a opulência dá um colorido todo especial a alguns “privilegiados”. Apenas quatro cidadãos norte-americanos – Bill Gates, Paul Allen, Warren Buffet e Larry Ellyson – poucos anos atrás concentravam em suas mãos uma fortuna equivalente ao PIB das 42 nações mais pobres que abrigam uma população de mais de 600 milhões de estômagos vazios e bocas esfaimadas. 

Essa desigualdade socioeconômica ganha contornos de aberração quando nos damos conta que 80% da riqueza mundial está nas mãos de 15% de “privilegiados”. Essa “turminha” afortunada se esbalda no consumo suntuoso. Exemplo disso? O consumo anual de cigarros, apenas na Europa, gira em torno de 70 bilhões de dólares. As diversas bebidas alcoólicas, também na Europa, atingem gastos superiores a 110 bilhões de dólares ao ano. Somente nos EUA, o gasto anual em cosméticos atinge 9 bilhões de dólares. 

De acordo com o International Institute for Strategic Studies, a quantia de dinheiro que os países ricos – especialmente os EUA - destinam aos gastos militares durante onze dias daria para alimentar e curar todas as crianças famintas e enfermas do planeta. Repetindo: apenas 11 dias seriam suficientes para eliminar a fome de inocentes crianças pelo mundo afora. 

Por fim, cabe apontar que especialistas no assunto acreditam que 200 milhões de dólares (menos de vinte vezes o que se gasta com sorvetes ao ano apenas na Europa ou o que as forças armadas dos países ricos gastam em apenas três horas de “bom trabalho” dizimando inocentes) poderiam “exterminar” (para usar um termo bem comum aos países bélicos) doenças como difteria, coqueluche, tétano, sarampo e poliomielite que, juntas, matam quatro milhões de crianças por ano. 

É por essas e outras que o mundo está cada vez mais desigual, mais injusto e mais selvagem configurando um triste cenário que agride o maior de todos os princípios: a vida humana. Até quando suportaremos um mundo tão desigual assim?
Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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