16/08/2013

Homilia do Pe. José Fernandes nos 25 anos de sacerdócio do Pe. Geovane Saraiva

14 de agosto de 2013
Oração gratulatória pronunciada pelo Pe. José Fernandes de Oliveira, na solene concelebração eucarística dos vinte e cinco anos de ministério sacerdotal do Pe. Francisco Geovane Saraiva Costa. Pároco da Paróquia Santo Afonso de Ligório – Parquelândia.

José Fernandes de Oliveira (Pe. José Luis)*
Não são poucos, dentre os irmãos presbíteros, os que se alegram por ter como amigo o Pe. Geovane Saraiva, sacerdote tão zeloso quanto exemplar. E, com justa razão, porque ele, de fato, bem o merece. Por isso, qualquer um deles bem que poderia ter sido escolhido para, neste momento de rara emoção, proferir a homilia desta solene concelebração eucarística de ação de graças pelos seus vinte e cinco anos de ministério sacerdotal. Não sei por que coube a mim este privilégio. É bem verdade que nos une uma amizade de irmãos que se vem enraizando já de muitos anos.

Nesta solene concelebração eucarística não me parece fora de propósito recordar que o sacerdote é uma pessoa chamada por Cristo, porque é Ele quem toma essa iniciativa - não fostes vós que me escolhestes; mas eu vos escolhi - e, por isso, a história da vocação de cada sacerdote tem muito semelhante com a vocação dos apóstolos. Na verdade, as diferentes circunstâncias do chamamento dos apóstolos indicam a precisa realização de escolhas bem determinadas, independentemente do contexto existencial de cada um.

Desse modo, a peculiaridade do chamamento para o sacerdócio ministerial na Igreja constitui o que há de mais interessante na história pessoal de cada sacerdote, porque não foi o acaso que o trouxe para esse lugar social na Igreja. Ao contrário, a decisão de atender ao chamado de Cristo assinala o momento mais importante do uso de sua própria liberdade, que pensou, refletiu, quis e decidiu, provocando a grande e definitiva escolha da própria vida.

Por isso, caríssimo Pe. Geovane, neste dia de solene ação de graças, você não pode deixar de lembrar a página mais bonita de sua história, a da sua vocação sacerdotal. Nela está escrito o seu “sim”: o qual, num só momento, o separou de tudo - e, atracando as barcas a terra, deixaram tudo e o seguiram ­ firmado no propósito de colocar toda a sua vida a serviço da Igreja como ministro de salvação com Cristo e como Cristo.

Nesta belíssima página se encontra o registro do desígnio divino sobre sua pessoa, amada de
Cristo. Diante do olhar amoroso de Jesus, que o chamava para fazer parte do grupo mais intimo de seus amigos, você, com justa razão, deram vistas largas a tantos outros caminhos que bem poderiam ter obscurecido aquele olhar de amor de Cristo que o chamava para um caminho, quem sabe mais espinhoso, mas, com certeza, mais cheio de graças. E você se deixou contaminar por aquele olhar de pureza, de carinho, de afeto, que fez de você um amigo do Senhor Jesus - já não vos chamo de servos. Chamo-vos de amigos.

Agora, vinte e cinco anos depois de amizade profunda Àquele que nos ama por primeiro, certamente terá tempo suficiente para repassar diante dos olhos toda a história desse chamado divino, ou seja, a forma, a medida e a duração das dificuldades de diversos matizes que teve de superar, as grandes alegrias vividas, os sucessos obtidos, as graças recebidas, as pessoas que o ajudaram e ainda ajudam, e também aquelas que lhe trouxeram sofrimento e, quem sabe, ainda lhe trazem. Mas sempre fica a certeza de que Cristo, o Bom Pastor, se manteve ao longo de todo esse decurso de tempo, sorrindo e olhando para você por causa do seu amor generoso à pessoa dEle e porque sabia ter sido aquele sim de vinte e cinco anos atrás a oferta generosa de uma pessoa que o amava mais que todas e carregava o propósito de uma fidelidade sem medidas à missão de ser Ele próprio no seio de suas ovelhas. Depois daquele "sim" brotou um homem sabedor de suas fraquezas, mas também sabedor da coragem de Cristo que se derramou sobre você para se tornar aguerrido defensor da doutrina de Jesus Cristo que Ele confiou à sua Igreja.

Chamado por Cristo, o sacerdote torna-se mestre da Palavra de Deus, sempre atento à sua voz que lhe chega aos ouvidos através do magistério ordinário e extraordinário da Igreja, mas também mestre do Povo de Deus que o convoca para o zeloso cumprimento de seus deveres de Pastor e para o atendimento espiritual a que tem direito por força do sacramento do batismo.

O apóstolo Paulo, na sua primeira Carta a Timóteo, com poucas palavras, faz o elogio daqueles que procuram tornar-se mestre dos ensinamentos de Cristo e não dos próprios ensinamentos, quando afirma: Os que exercem bem o ministério recebem uma posição de estima e muita liberdade para falar da fé em Cristo Jesus.

Sua vida de sacerdote, estimado Pe. Geovane tem sido um atestado público de sua preocupação no exercício do seu ministério pastoral de estar sempre atento à voz de Deus, na piedosa escuta e no rigoroso e aplicado ensinamento da doutrina de Cristo, que nos vem pelo magistério da Igreja. Você nunca escondeu de ninguém o seu empenho de caminhar sempre junto ao magistério do Papa e dos bispos. E, assim tem feito para se sentir certo de que, evangelizando os fiéis colocados sob a sua responsabilidade de Pastor, o faz não com a sua verdade, mas com a verdade de Cristo. E é desse caminhar sempre junto com o magistério da Igreja, que é o mesmo que está junto a Jesus Cristo, de onde provém sua liberdade para falar da fé em Cristo Jesus jamais excluindo o dever de escutar os fiéis nem de lhes negar o direito de serem ouvidos.

E, assim, nesses vinte e cinco anos de pastoreio do Povo de Deus numa doação de vida que passa pela celebração piedosa dos mistérios da nossa fé, depois de tanto tempo dedicado às mais diversas atividades pastorais, Deus lhe reserva ainda terrenos que hão de ser fertilizados com a generosidade do seu trabalho para que o dom da salvação se torne realidade para muitos.

Nesses abençoados vinte e cinco anos de ministério sacerdotal, você tem sabido ajuntar com maestria espiritual sua disponibilidade sem medida no atendimento espiritual de quantos o procuram, agindo sempre como mestre, amigo, conselheiro, portador do perdão, da bondade, da justiça e da misericórdia de Deus; agindo como distribuidor da graça sacramental e da celebração da Eucaristia, consumindo-se na dedicação total, de tal maneira a poder afirmar de si mesmo, sem falsear a verdade nem se deixar conduzir pela vanglória, as palavras de São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios: tornei-me tudo para todos.

E, porque nada do que você tem feito até agora e continuará fazendo em prol do Reino de Deus, pode ser feito sem o estudo e a oração, você, caríssimo Pe. Geovane tem sabido ser um homem de oração constante sempre em busca de um maior aprofundamento no conhecimento de Jesus, procurando tão somente a honra de Deus e a salvação das almas.

Consciente de seu múnus de pastor, você, caríssimo irmão, não tem feito outra coisa se não comunicar a todas as pessoas de boa vontade o mistério salvífico de Cristo. E por isso que no seu ministério sacerdotal não transparece sua atividade humana apenas, mas a força divina que opera em favor de todos que encontram em Jesus Cristo a razão de sua existência. Daí o sentido sacramental do apostolado ministerial que faz do sacerdote não apenas o presidente do momento religioso da comunidade, mas o ministro indispensável e exclusivo do culto realizado in Persona Christi e, ao menos tempo, in nomine populi, na feliz expressão do Papa Paulo VI. Parafraseando o Papa Paulo VI, posso dizer que o nosso caríssimo Pe. Geovane tem sido e continuará sendo ainda, testemunha qualificada da fé, autêntico comunicador do Evangelho, que sabe usar com maestria os meios modernos de comunicação, profeta da esperança, ponto de referência da comunidade na construção do Reino de Deus, no exercício da caridade, na aceitação da vontade de Deus, na alegria e no sofrimento, na amizade sincera e verdadeira, na consolação dos aflitos, o amigo de todos.

O implacável caminhar dos anos ainda está cedo para fragilizar sua fortaleza interior e espiritual, entregando-se totalmente ao serviço da Igreja, a quem serve e haverá de servir até que o bom Deus o permita, seja no uso da pregação homilética, seja na publicação de livros de saborosa leitura pela linguagem simples e escorreita, onde se encontram registradas vidas de grandes e corajosos missionários, tais como Helder Câmara, Aloísio Lorscheider e Antônio Fragoso, seja em artigos publicados na imprensa escrita, onde discorre com maestria na denúncia de tantos males que corroem a sociedade hodierna, ao mesmo tempo tão afastada de Deus e desejosa de tê-Io em seu meio.

Por tudo isto, nós louvamos e bendizemos ao Senhor pelo dom do sacerdócio ministerial concedido ao Pe. Geovane para apascentar o rebanho de Deus, velando por ele, não constrangido, mas de boa vontade; não por um sórdido espírito de lucro, mas com dedicação; não como dominador sobre os que lhe têm sido confiado, mas como modelo do rebanho, seguindo com acurado rigor a admoestação de São Pedro, na sua primeira carta.

Permita-me, Pe. Geovane, concluir com quatro lembretes:

+ O sacerdote não é um intermediário entre Deus e os homens ou entre Cristo e os homens. É um homem no qual Cristo, único Mediador, cumpre ininterruptamente e atualmente a função de salvação que reservou aos apóstolos;
+ O ministério presbiteral é um valor que somente o crente pode perceber na proporção de sua fé;
+ O carisma sacerdotal compromete a quem o recebe a viver sempre mais unido a Cristo para ser sinal persuasivo de sua presença salvífica na Igreja para os homens e mulheres do nosso tempo; a colocar a graça de seu Espírito na base do seu viver e do seu agir; e a extrair do exercício do seu ministério alimento para sua vida espiritual e pastoral;
* A fidelidade sem reserva ao magistério da Igreja, a obediência amorosa ao Papa e ao próprio bispo, o amor a Maria Santíssima e seu castíssimo esposo São José, a devoção eucarística a coerência em viver o que ensina e ensinar o que vive a celebração piedosa da Santa Missa, o saber ouvir para ter sempre uma palavra que estimula e encoraja, a intimidade com a Palavra de Deus, a fraternidade sacerdotal, tudo isso é a base para se amar Cristo no irmão, ser construtor de um mundo fraterno e solidário, a fim de Cristo seja tudo em todos.
* Pronunciamos, nesta noite santa, palavras e conceitos que saíram do nosso coração e, por isso, guardamos a certeza de não terem sido ditas por razões de ocasião. Antes, espelham a personalidade deste sacerdote, assinalado por uma fortaleza de gigante espiritual que se sente feliz na consumação de uma doação contínua e exemplar a Cristo e sua Igreja por quem é capaz de se dar todo a cada momento e sem reserva. Cristo, o sumo sacerdote, a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e de seus ministros, São José, Santo Afonso Maria de Ligório e os santos de sua devoção particular estejam sempre com você, agora e sempre.

*Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza




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