11/10/2013

Artigo de diretora da ABN propõe uma reflexão sobre o jovem no contexto da violência

Jovem como agente ou vítima da violência - Angela Marinho
Estamos com medo de sair de casa, de quem bate à nossa porta, de estacionar em local público, de frequentar restaurantes à noite. “Eles” querem o que a sociedade de consumo elegeu como valores e não podem comprar. Apontam uma arma e levam - às vezes puxam o gatilho - joias, carros, celulares. – “Perdeu vagabundo!” É assim que são chamados pelos apresentadores dos programas policiais na TV e passaram a adotar a fala, como revanche. Temos dois lados do conflito de uma guerra não declarada. Ambos estão perdendo, mas não há dúvida que “eles” perdem mais. Serão agentes ou vítimas desse processo cruel?

O Mapa da Violência 2013 da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais compara as vítimas fatais dos maiores conflitos no mundo, entre 2004 e 2007, que matou cerca de 170 mil pessoas. No mesmo período, mais de 200 mil morreram no Brasil entre 2008 e 2011. O mais dramático é que a grande maioria dessas vítimas é de jovens homens - entre 15 e 24 anos -, negros e pobres. Segundo o UNICEF, a possibilidade de um jovem de sexo masculino ser assassinado no Brasil é 11,5 vezes superior à de uma mulher da mesma idade e 2,78 vezes superior à de um jovem branco.

Eles se matam e matam os outros por motivos banais. A vida do outro não tem tanta importância. Mas quem lhes ensinou que deveria ter? A dignidade humana disputa o prato de cada dia, as ruas sem saneamento, os ônibus lotados, os postos de saúde sem médicos e medicamentos, a falta de creches para as mães poderem trabalhar. Os pais mantêm os filhos na escola para garantir o Bolsa Família”, prerrogativa importante para diminuir a evasão escolar. Mas o ensino público – e me arrisco até dizer que o privado - é de qualidade questionável, provocando a falta de entusiasmo pela continuidade dos estudos e a possibilidade de uma carreira que mantenha um cidadão com dignidade e aos seus.

A sociedade assiste assustada ao crescimento da criminalidade entre os jovens, muitos menores de idade, protegidos pela legislação, envolvidos em crimes hediondos como instrumentos dos adultos. Mas o que estamos fazendo para ouvir esses jovens e parar esse genocídio que dizima gerações? A Agência da Boa Notícia volta o seu olhar para esta dura realidade. O Fórum da ABN deste ano, realizado ontem, 10, no Auditório da FIEC, discutiu a juventude, mas apontou para a responsabilidade de todos diante da mortandade dos jovens brasileiros e a importância de ações como o desarmamento, dentro do conceito da Cultura de Paz. Precisamos saber o que “lhes” vai à alma para dar a resposta, ouvir para saber o que fazer.

*Angela Marinho é  jornalista,  Diretora da Agência da Boa Notícia e da Comissão Nacional de Ética da Fenaj - angelamarinho@hotmail.com


Boa Notícia

Nenhum comentário :

Postar um comentário