12/10/2013

Editorial: A arte do encontro

O Papa Francisco escolheu como tema para o Dia Mundial das Comunicações Sociais “Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”. O Pontifício Conselho das Comunicações Sociais em uma recente nota de apresentação do tema, recordou um recente discurso do Papa a este organismo da Cúria Romana, em que Francisco apela à descoberta da “beleza da fé” pelo “encontro pessoal e também através dos meios de comunicação social”. Assim, através do tema para o Dia Mundial das Comunicações Sociais em 2014 – no próximo ano será celebrado no dia 1º de junho – o primeiro do Papa Francisco, se deseja explorar o potencial da comunicação, em um mundo cada vez mais conectado e em rede, para que as pessoas estejam mais próximas umas das outras e seja construído “um mundo mais justo”. Estamos vivendo uma época na qual se desenvolve uma nova cultura, favorecida de modo impressionante pelas novas tecnologias, que encurtam distâncias e nos tornam presentes e em comunicação para além do mundo que nos circunda; a comunicação fica assim, num certo sentido, “amplificada” e contínua.
Nesta era em que vivemos, denominada, era da globalização, podemos chegar com nossas mensagens e informações a todos os lugares do planeta, também naqueles mais remotos, tornando partícipes do mundo, pessoas que de outra maneira seriam isoladas, excluídas. Daí a certeza de que a comunicação nos permite ir ao encontro dos outros, de criar espaços de liberdade onde cada um possa se expressar. Onde cada um exista, e não se exclua, onde haja respeito e compromisso para com o próximo, onde possa nascer de modo natural a capacidade de criar diálogo, respeitando as verdades do outro, respeitando a identidade do outro. Nasce então a cultura do encontro, que o Papa Francisco propõe para refletirmos no próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais. Sim porque os meios de comunicação nos fazem todos vizinhos de porta, vizinhos de problemas, de interesses, de perspectivas. Sim, porque isolar-se, fechar-se em si mesmo, somente no que nos interessa sem pensar no outro, no encontro com o outro, nos leva a um caminho do egoísmo total, apesar de todas as oportunidades que temos de partilhar. É preciso voltar o olhar e interesse para além das coisas que nos circundam numa ação de proximidade.
Os meios de comunicação são um areópago privilegiado para se promover a “arte do encontro”, onde se busca, se encontra, se promove, se aprende, se ensina e se vive o diálogo, a troca de diferenças e visões, se vive o pluralismo das ideias e convicções. Naturalmente não nivelar indiscriminadamente as diferenças e pluralismos – este é um dos riscos da globalização – mas sim ajudar a encontrar-se e realizar confrontos construtivos. Em síntese é compreender e valorizar o outro, suas riquezas, não como adversário e fator de risco. Quando nos encontramos, dialogamos, apesar das diferenças, promovemos a relação e não o conflito. Nasce a arte do encontro e da partilha.
A cultura do encontro é um assunto recorrente no magistério do Papa Francisco. Já no Rio de Janeiro falando aos jovens e aos bispos pediu que se promova essa cultura, pois em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão do descartável. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; “não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada”. Devemos – parafraseando as palavras de Francisco - ir “contra a corrente” e combater certos dogmas modernos, que centralizam sua atenção na eficiência e no pragmatismo, no ter. Devemos, ao invés, primar pelo encontro e acolhimento, pela solidariedade, palavra essa que está cada vez mais escondida na cultura moderna. Precisamos saber encontrar-nos. Nós comunicadores precisamos edificar, criar, construir uma cultura do encontro. Tantos desencontros, problemas e mais problemas. E os desencontros não ajudam.
Quando você encontra o outro, que necessita de você, seu coração começará a aumentar, aumentar! Sim, porque o encontro multiplica a capacidade do amor. O encontro com outro, aumenta o coração. Francisco nos ensina hoje que não voltamos iguais depois de encontrar alguém, algo muda, nós mudamos, ficamos mais ricos. (Silvonei José)


Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/news/2013/10/12/editorial:_a_arte_do_encontro/bra-736454
do site da Rádio Vaticano

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