Venha viver outubro em Belém. É divino. É festa. São mais de dois milhões de pessoas nas ruas da cidade. E todos na santa paz, reverenciando Nossa Senhora de Nazaré. Realizado há mais de dois séculos, o Círio de Nazaré é uma das maiores e mais belas procissões católicas do Brasil e do mundo, um espetáculo grandioso de devoção à santa. Este ano, a festa terá como tema "A igreja em oração, unida a Maria, mãe de Jesus".
Uma multidão acompanha a imagem de Nossa Senhora de Nazaré durante o Círio. Muitos fieis caminham segurando a corda, símbolo de sacrifício FOTO: DIVULGAÇÃO
Anualmente, no segundo domingo de outubro - em 2013, será no dia 13 do mês -, a procissão parte da Catedral de Belém, na Cidade Velha, e segue até a Praça Santuário de Nazaré, no bairro do mesmo nome, onde a imagem da Virgem fica exposta para veneração dos fieis por 15 dias. O percurso é de 3,6 quilômetros e já chegou a ser percorrido em mais de nove horas. Foi em 2004, quando tornou-se o mais longo Círio da história.
Na procissão, todas as atenções estão voltadas para a berlinda que carrega a imagem da Virgem de Nazaré, que parece deslizar na multidão. Do total de dois milhões de pessoas, cerca de 77 mil são turistas provenientes de várias partes do País e exterior. Em toda a caminhada, são fartas as manifestações de fé pelos fieis, que enfeitam ruas e casas em homenagem à santa.
Por sua grandiosidade, o Círio de Nazaré foi registrado, em setembro de 2004, como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial por iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Vale destacar que, além da procissão no segundo domingo de outubro, considerada o ponto alto da festa, o Círio agrega várias outras manifestações de devoção, como a trasladação, a romaria fluvial, peregrinações e romarias durante a quadra nazarena.
A Basílica de Nossa Senhora de Nazaré foi erguida em 1852 no mesmo lugar em que foi achada a imagem da santa pelo caboclo Plácido, em Belém. Durante o Círio, a imagem da virgem e segue em procissão até a igreja FOTO: PATRÍCIA RIBEIRO
O domingo do Círio tem início com a celebração de uma missa defronte à Catedral Metropolitana de Belém, na Cidade Velha, às 5 horas. Em seguida, é iniciada a procissão até a Praça Santuário de Nazaré. O cenário é místico e frenético. A fé se propaga. Fogos de artifício estouram nos céus de Belém, pessoas rezam nas janelas das casas e prédios durante a passagem do cortejo religioso. No chão, milhares de devotos com suas oferendas na cabeça, crianças vestidas de anjos, carros de milagres com parte do corpo humano em cera.
A corda
Depois da santa, a corda é o símbolo mais marcante do Círio de Nazaré e representa o sacrifício maior dos fieis. É fácil entender o porquê. Não se consegue ver corpos inteiros. O que se observa são mãos, pés que mal tocam o chão e rostos em êxtase provocado pela fé inabalável na mãe de Jesus e padroeira dos paraenses. Um rio de gente invade Belém. A cidade brilha sob a luz da fé. Promesseiros ocupam algumas das principais ruas e avenidas. O sacrifício às vezes supera os limites da dor e alguns fieis seguem de joelhos toda a procissão.
História
O termo "Círio" tem origem na palavra latina "cereus" (de cera), que significa vela grande de cera. Por ser a principal oferta dos fieis nas procissões em Portugal, com o tempo passou a ser sinônimo da procissão em Belém e em outras cidades do interior do Pará.
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré teve início em Portugal. A imagem original da Virgem, que teria sido esculpida por São José, pertencia ao Mosteiro de Caulina, na Espanha, e teria saído de Nazaré, em Israel, no ano de 361. Por conta de uma batalha, a imagem foi levada para Portugal, onde, por anos, ficou escondida no Pico de São Bartolomeu. Só em 1119, a imagem foi encontrada. A notícia se espalhou e muita gente começou a venerar a santa. Desde então, muitos milagres foram atribuídos a ela.
No Pará, o caboclo Plácido José de Souza foi quem encontrou uma pequena imagem da Senhora de Nazaré, em 1700, às margens do igarapé Murutucu (onde hoje se encontra a Basílica Santuário). Após o achado, ele levou a imagem para sua choupana e, no dia seguinte, ela não estava mais lá, tendo retornando ao local do encontro. O fato repetiu-se por diversas vezes até a imagem ser enviada ao Palácio do Governo. No local do achado, Plácido construiu uma pequena capela.
Em 1792, o Vaticano autorizou a realização de uma procissão em homenagem à Virgem de Nazaré, em Belém. O primeiro Círio foi em 8 de setembro de 1793. No início, não havia data fixa. Poderia ser em setembro, outubro ou novembro. A partir de 1901, a procissão passou a acontecer no segundo domingo de outubro.
FERNANDO BRITOREPÓRTER
Diário do Nordeste
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