12/11/2013

Indígenas fazem ritual pela saúde de Dom Tomás Balduino

Adital
Foto: CPTCerca de 50 pessoas se reuniram em frente ao Hospital do Coração Anis Rassi, em Goiânia (Goiás) neste sábado, 9 de novembro, para realizarem um ritual indígena de cura e proteção em favor de Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás, de 90 anos, quem está internado com problemas cardíacos desde o dia 1º de novembro.

O ritual com cânticos, falas e aplicação de um pó vegetal, semelhante à unção, foi realizado por índios das etnias Xerente, Krahô e Krahô-Kanela na rua em frente ao hospital, e acompanhado por Dom Tomás desde a janela de seu quarto. Durante o ato, os participantes ressaltaram a importância do bispo fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), para a luta dos povos indígenas no Brasil. Ao final do ritual, duas representantes foram até o quarto de Dom Tomás para aplicar o pó vegetal ungido nele.

Os indígenas se mostraram confiantes com a recuperação do religioso, pois acreditam que sua presença ainda é muito necessária na luta pelos territórios e direitos indígenas, e acreditam que, por isso, Deus o ajudará a superar o problema.

Também no sábado o líder indígena Antônio Veríssimo da C. Apinajé, em nome dos povos Apinajé, Krahô, Krahô Kanela, Xerente e Tapuia, publicou uma carta à Dom Tomás Balduino expressando solidariedade e respeito à sua história e sua luta. "Os povos indígenas do estado de Tocantins e Goiás somos muito gratos a você. Para nós você é um mestre, conselheiro, profeta, um defensor inalienável e convicto da causa e da vida dos povos marginalizados, escravizados e excluídos. (...) Apesar das distâncias geográficas, mesmo assim estamos juntos com você em mais essa batalha em defesa de sua própria vida", afirmou.

No documento, os indígenas declaram que Dom Tomás tem sido exemplo de resistência para os povos indígenas e movimentos sociais do país. "Nessa caminhada você tem nos ajudado a fazer o bom combate, assim junto com outros lutadores você fundou o CIMI e a CPT, trincheiras seguras para denunciar e lutar contra as injustiças sociais, as violências, o preconceito, a escravidão, o latifúndio e a pistolagem, que também são as piores "doenças" que geram a morte. (...) A nossa luta por dignidade e direitos humanos não tem fronteiras e é contínua. Até breve grande guerreiro da paz, nós vamos vencer!”.

Dom Tomás Balduino, de 90 anos, foi internado, inicialmente, na cidade de Ceres, interior de Goiás, no dia 1º de novembro, com quadro grave de arritmia cardíaca e pressão arterial baixa, que o deixou inconsciente. No dia 7, o religioso foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardiológica do Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Há alguns anos o bispo é portador da doença de Chagas e tem um marca-passo em seu coração. O último boletim médico emitido na sexta-feira (8) informou que o estado de saúde de Dom Tomás é estável, com respiração e pressão arterial normalizados.

Luta pela terra
Foto: CPT
Nascido em 31 de dezembro de 1922 em Goiás, Tomás Balduino sonhava em ser padre ainda menino, a exemplo de seus tios e dos religiosos dominicanos franceses que viviam numa comunidade na sua cidade, Formosa. Ordenou-se padre na França e ao voltar ao Brasil foi designado para uma missão indigenista. Na década de 60 foi procurado por lavradores que estavam sendo pressionados por proprietários de terra no Pará, e desde então se envolveu na questão agrária.
Frei Dominicano, Dom Tomás é hoje bispo emérito da diocese de Goiás e sempre teve forte ligação com a CPT Nacional. Durante seus anos de luta em defesa dos povos indígenas e dos territórios, o religioso enfrentou muitos conflitos e violências contra trabalhadores e indígenas, e criticou governos que ignoraram a questão agrária e abriram as terras ao investimento estrangeiro.

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