02/11/2013

Snowden pode depor na Rússia, mas prefere EUA

O deputado do Partido Verde alemão Hans-Christian Ströbele.
O ex-consultor da inteligência americana Edward Snowden, refugiado na Rússia, poderá depor diante de promotores alemães no caso da interceptação no celular da chanceler alemã, Angela Merkel, mas prefere testemunhar no Congresso americano, anunciaram nesta sexta-feira seu advogado e um deputado alemão.


Procurado por Washington após suas revelações sobre a Agência de Segurança nacional (NSA) americana, Snowden não poderá ir à Alemanha sob o risco de perder seu status de refugiado, mas pode testemunhar sem deixar a Rússia, explicou seu advogado, Anatoli Kucherena. 

"Dentro dos acordos internacionais, Snowden pode dar testemunho na Rússia, mas são as autoridades alemães que devem decidir. Snowden não irá à Alemanha. É impossível porque não tem direito de cruzar a fronteira. Se o fizer, pode perder seu status de refugiado", declarou Kutcherena à rádio Echo de Moscou. 

Já o deputado alemão Hans-Christian Ströbele declarou que Snowden "prefere testemunhar no Congresso americano", no dia seguinte a um encontro com o fugitivo na Rússia. 

Edward Snowden "não se apresentou a mim como um anti-americano ou um inimigo da América, pelo contrário", afirmou. 

Ele prefere depor ante uma comissão do Congresso americano para "colocar os fatos sobre a mesa e dar explicações", acrescentou o político. 

Snowden também garantiu estar pronto para testemunhar no Parlamento alemão, segundo Ströbele. 

O ministro alemão do Interior, Hans-Peter Friedrich, também indicou nesta sexta que Berlim está "pronto para ouvir" o americano. 

Uma fonte ligada ao caso e citada pela agência Interfax indicou que o Ministério Público alemão "poderá enviar à Rússia seus representantes ou enviar a Snowden questões por escrito". 

Segundo o gabinete do deputado Strobele, que publicou uma foto do encontro, Snowden entregou uma carta endereçada ao governo alemão, ao Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) e ao Ministério Público. 

"Estou certo de que com o apoio da comunidade internacional, o governo americano vai parar de fazer besteira", escreveu na carta. 

"Espero ansiosamente para falar com vocês em seu país quando a situação estiver resolvida", acrescentou Snowden. 

Nos últimos meses, Snowden fez uma série de revelações sobre a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, para a qual prestava serviços. Ele foi acusado de espionagem por Washington, que solicita a sua extradição. 

Essas revelações provocaram fortes reações na Europa, principalmente na Alemanha, onde as informações sobre o suposto grampo do celular da chanceler Angela Merkel causaram surpresa. 

"Snowden mostrou que sabe muitas coisas. Está disposto, a princípio, a esclarecer esses casos", afirmou Stroebele ao principal canal de TV alemão, ARD. 

"Snowden está disposto a cooperar com todos, não há proibição. Ele próprio decide com quem se comunica, e quando", ressaltou Kucherena, citado pela agência Interfax. 

O Kremlin não quis fazer comentários a esse respeito, embora Putin tenha imposto como condição para que Snowden permanecesse no país o fim de suas revelações "prejudiciais aos Estados Unidos". 

"Não é uma questão relevante para o Kremlin", declarou o porta-voz do presidente, Dmitry Peskov. 

Procurado pela AFP, o analista independente Pavel Felgenhauer considerou que o fugitivo americano está sendo controlado pelos serviços especiais russos e que sua margem de manobra é limitada pelo Kremlin. 

"Cabe a Putin decidir o que Snowden tem o direito de dizer. Ele pediu para Snowden não prejudicar os Estados Unidos, mas só Putin sabe quais são os parâmetros", acredita. 

"Esta condição não é juridicamente vinculante e pode ser revista à luz da situação política", acrescenta. 

Segundo o seu advogado, Snowden encontrou um emprego e deve começar a trabalhar a partir desta sexta na manutenção de um importante site, cujo nome não foi revelado. 

O porta-voz da rede social russa Vkontakte, cujo fundador Pavel Dourov ofereceu emprego a Snowden em agosto, não quis comentar esta notícia. 

Em uma entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung a ser publicada sábado, Snowden declarou que não lamenta as revelações, mas revelou que o que mais custava a ele era "não poder manter contato regular com a sua família e amigos". 

Consultado sobre o porquê de não comentar o conteúdo dos documentos vazados da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, ele respondeu que "cabe aos jornalistas e especialistas fazer seus próprios julgamentos". 

Ele rejeitou as acusações segundo as quais tinha a intenção de prejudicar o governo americano. "O que ajuda a opinião pública nos Estados Unidos e em outros países também ajuda o governo dos Estados Unidos", declarou.
AFP

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