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Cate Blanchett, em cena de "Blue Jasmine": retrato da crise.
Por Neusa Barbosa
São Paulo - Jasmine (Cate Blanchett) é a encarnação da crise econômica. Mulher que, por vários anos, levou vida rica e fácil, nas costas do marido especulador, Hal (Alec Baldwin), ela vive a queda em todas as nuances em "Blue Jasmine".
O novo filme de Woody Allen oferece à versátil atriz australiana uma personagem em que ela pode exercitar todos os músculos de seu notável talento. Sua Jasmine pode ser fútil, arrogante e até desonesta -por cumplicidade. Mesmo assim, não lhe falta uma grama de humanidade. Por isso, rimos com ela, temos pena dela e a detestamos com a mesma intensidade.
Se "Blue Jasmine" é uma comédia, sem dúvida é de humor negro - e em relação a um tema espinhoso, a grande quebra dos mercados financeiros de 2008. Se há, nas entrelinhas, comentários sociais de sobra, o filme não esquece sua função de divertir, sem deixar de ser impiedoso com os maestros da ciranda financeira.
Hal, o especulador insensível - até com o dinheiro dos cunhados remediados- é, na interpretação irresistível de Alec Baldwin, alguém para tomar cuidado, porque é inegavelmente sedutor. Assim, como não entender que Jasmine fechasse os olhos aos seus negócios duvidosos, quando ele nunca se esquecia de brindá-la com viagens e joias de surpresa?
Mas o reino dourado em que ela vivia acabou. O filme começa justamente com sua mudança para a casa modesta da irmã, Ginger (Sally Hawkins), um pequeno apartamento em San Francisco, que Jasmine terá que dividir também com os dois sobrinhos. Suas malas e o que restou do figurino de grife não escondem o drama maior: a ex-madame arruinada simplesmente vai ter que trabalhar para viver.
É, compreensivelmente, imenso seu choque cultural com esse mundo suburbano à sua volta, do namorado da irmã, Chili (Bobby Canavale), às clientes do consultório do dentista (Michael Stuhlbarg) em que ela foi aceita como recepcionista.
O peixe fora d´água parece encontrar uma tábua de salvação numa festa, em que conhece Dwight (Peter Sarsgaard) - rico, bonito, bem-nascido, preparando-se para casar e iniciar uma carreira política. A situação parece ideal para devolver-lhe tudo o que perdeu. Mas "Blue Jasmine" não é mesmo uma história de fadas.
Num filme com tantas subtemas sérios, Woody Allen demonstra o tarimbado roteirista que é, enfileirando situações cômicas - algumas, no limite do patético- para equilibrar a carga dramática de uma grande derrocada. A inadequação de Jasmine proporciona alguns desses momentos hilariantes, em suas reações fora de lugar aos problemas cotidianos e suas inacreditáveis conversas com os sobrinhos. É uma tapeçaria dramática da melhor qualidade a que Allen entrega aqui.
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Reuters
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