Ato público de alunos em cidade do interior de Minas ganha repercussão nacional.
![]() Estudante destroem livros nas ruas de Itaúna para comemorar fim do ano letivo. (Foto: Arquivo) |
Por Celso Adolfo*
A morte de Mandela encheu o planeta de tristeza. Tristeza justa. Mas outra tristeza me abateu nesse fim de semana, e ela vem do pior exemplo que os alunos da Escola Estadual José Gonçalves de Melo, em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, poderiam dar a quem quer que fosse.
Nem a juventude e a sua sabida e inúmeras vezes desculpável inconsequência, nem uma determinada raiva, nem a euforia, nem o contrário dela, nada, nada mesmo!, pode desculpar o vacilo dessa turma que resolveu rasgar livros e cadernos como se isso fosse um lindo e aproveitável, digamos, protesto.
Protesto? Como assim, protesto tipo o quê? Os alunos da Escola Estadual José Gonçalves de Melo, em Itaúna, MG, que se esbaldaram em gesto tão grotesco supõem que tal estupidez lhes traga algum tipo de lucro? O que lucram alunos que rasgam e odeiam os seus cadernos e livros? O que espera essa turma, exatamente no momento mais precioso da sua formação? Espera que a estupidez, a ignorância de gesto tão triste lhes garanta alguma coisa?
De repente, a tristeza ante a morte de Mandela ficou lado a lado com essa que me atingiu, e que resultou do protesto ou que nome consigamos dar a bobagem tão surpreendente protagonizada por essa meninada itaunense.
Itaunenses, claro, estão estarrecidos diante da besteira sobre a qual o Brasil inteiro já está falando.
Alô meninos itaunenses, guardem os seus livros. Doem o seus livros. Releiam os seus livros. Busquem o conhecimento, ainda que pouco adiante essa recomendação ao sujeito jovem.
Em todo caso, se preferirem a estupidez, não tenham dúvida: vocês serão dignos dela, e em breve, quando, para tocar a vida pra frente,precisarem do que não aprenderam. Não se enganem: essa verdade e a lei da gravidade são irrevogáveis.
Na minha casa faltavam livros, e por faltar livros, quando tive Machado de Assis ao meu alcance tomei um susto que foi dureza. Eu chegava aos 17 anos, vindo de São Domingos do Prata para BH, e alguma coisa me fez agir diferentemente de vocês, alunos da Escola Estadual José Gonçalves de Melo, de Itaúna, MG.
Para a sorte de um município e de uma nação que se forma com ele também, o tempo está a favor de todos. Esse tempo é que lhes dará a chance de rever tudo, até que que a vida lhes seja proveitosa, bonita, como ela é nesse momento em que vocês são jovens e sequer desconfiam de que o tempo passa.
Se o vento trouxer para BH algumas páginas de tudo que vocês rasgaram, eu vou ajuntaro que for possível. Recomporei um livro ou um caderno de um de vocês e darei uma lida certo de que alguma coisa se ensinou ali.
Só a estupidez, o equívoco, a bobagem e o vacilo não estarão nas páginas que vocês rasgaram e que a chuva de dezembro molhou nas ruas da amável Itaúna.
*Celso Adolfo é músico.
Dom Total
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