09/12/2013

Estudantes de Itaúna queimam livros

Ato público de alunos em cidade do interior de Minas ganha repercussão nacional.


Estudante destroem livros nas ruas de Itaúna para comemorar fim do ano letivo. (Foto: Arquivo)

Por Celso Adolfo*

A morte de Mandela encheu o planeta de tristeza. Tristeza justa. Mas outra tristeza me abateu nesse fim de semana, e ela vem do pior exemplo que os alunos da Escola Estadual José Gonçalves de Melo, em Itaúna, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, poderiam dar a quem quer que fosse.

Nem a juventude e a sua sabida e inúmeras vezes desculpável inconsequência, nem uma determinada raiva, nem a euforia, nem o contrário dela, nada, nada mesmo!, pode desculpar o vacilo dessa turma que resolveu rasgar livros e cadernos como se isso fosse um lindo e aproveitável, digamos, protesto.

Protesto? Como assim, protesto tipo o quê?  Os alunos da Escola Estadual José Gonçalves de Melo, em Itaúna, MG, que se esbaldaram em gesto tão grotesco supõem que tal estupidez lhes traga algum tipo de lucro? O que lucram alunos que rasgam e odeiam os seus cadernos e livros? O que espera essa turma, exatamente no momento mais precioso da sua formação? Espera que a estupidez, a ignorância de gesto tão triste lhes garanta alguma coisa?

De repente, a tristeza ante a morte de Mandela ficou lado a lado com essa que me atingiu, e que resultou do protesto ou que nome consigamos dar a bobagem tão surpreendente protagonizada por essa meninada itaunense.

Itaunenses, claro, estão estarrecidos diante da besteira sobre a qual o Brasil inteiro já está falando.

Alô meninos itaunenses, guardem os seus livros. Doem o seus livros. Releiam os seus livros. Busquem o conhecimento, ainda que pouco adiante essa recomendação ao sujeito jovem.

Em todo caso, se preferirem a estupidez, não tenham dúvida: vocês serão dignos dela, e em breve, quando, para tocar a vida pra frente,precisarem do que não aprenderam. Não se enganem: essa verdade e a lei da gravidade são irrevogáveis.

Na minha casa faltavam livros, e por faltar livros, quando tive Machado de Assis ao meu alcance tomei um susto que foi dureza. Eu chegava aos 17 anos, vindo de São Domingos do Prata para BH, e alguma coisa me fez agir diferentemente de vocês, alunos da  Escola Estadual José Gonçalves de Melo, de Itaúna, MG.

Para a sorte de um município e de uma nação que se forma com ele também, o tempo está a favor de todos. Esse tempo é que lhes dará a chance de rever tudo, até que que a vida lhes seja proveitosa, bonita, como ela é nesse momento em que vocês são jovens e sequer desconfiam de que o tempo passa.

Se o vento trouxer para BH algumas páginas de tudo que vocês rasgaram, eu vou  ajuntaro que for possível. Recomporei um livro ou um caderno de um de vocês e darei uma lida certo de que alguma coisa se ensinou ali.

Só a estupidez, o equívoco, a bobagem e o vacilo não estarão nas páginas que vocês rasgaram e que a chuva de dezembro molhou nas ruas da amável Itaúna.
*Celso Adolfo é músico.
Dom Total

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