27/02/2014

Adélia Prado e a grandeza do pequeno

Poetisa lança ‘Misere’ hoje em BH e marca abertura do 28º ano do programa ‘Sempre um Papo’

Por Jozane Faleiro

Depois de três anos, Adélia Prado voltou à poesia com “Miserere” (Record), um livro com 38 poemas, que trata da metafísica e dos detalhes do cotidiano, sempre mirando a grandiosidade das pequenas coisas. Sua poesia dialoga com a transcendência, com Deus, a transitoriedade da carne e a eternidade do espírito, sem deixar de lado a condição feminina. 

O lançamento marca a abertura do vigésimo oitavo ano do “Sempre Um Papo” em Belo Horizonte, em uma noite especial, no Teatro Sesiminas, dia 27 de fevereiro, quinta-feira, às 19h30. Adélia fará uma leitura de poemas, intercaladas com perguntas do público sob a mediação de Afonso Borges, idealizador do projeto. Na entrada do evento, será aceita a doação voluntária de livros literários novos e usados para o projeto “Sempre Um Papo Ler Convivendo”.

Grande homenageada no último Fliaraxá, Festival Literário de Araxá, Adélia Prado encantou o público com suas ideias, pensamentos e a forma como vê e trata a poesia. "Costumo pescar meus poemas no ar", revelou a escritora, que busca sua inspiração no cotidiano, na vida em casa, no jardim e na cozinha, entre os papéis de mãe, esposa e dona-de-casa. 

Sua marca é a de pisar o chão, mas vendo o mundo grande a partir de seus pequenos espaços. Uma escritora que deu novo conceito a essência do feminino e que hoje voltou a cobrar das mulheres: “é preciso retomar a nossa essência, voltar com as atividades no tanque e no fogão, que são características fundamentais das mulheres”.

Lançamento

“Miserere” vem da expressão latina “Miserere nobis” (“Tende piedade de nós”), da liturgia católica, e já tinha sido usado por Adélia em um poema de 1978. O livro mostra a fragilidade da matéria e o descompasso entre o corpo e o espírito, como no poema “Humano”:

“A alma se desespera, / mas o corpo é humilde; / ainda que demore, / mesmo que não coma, / dorme.”.

Outros poemas tratam da condição feminina, como em ‘Senha’:

“Eu sou uma mulher sem nenhum mel / eu não tenho um colírio nem um chá / tento a rosa de seda sobre o muro / minha raiz comendo esterco e chão. Quero a macia flor desabrochada / irado polvo cego é meu carinho. / Eu quero ser chamada rosa e flor / eu vou gerar um cacto sem espinho.”

Adélia Prado nasceu em Divinópolis (MG), em 1935. Filha de um ferroviário e uma dona de casa. Formada em magistério, lecionou por 24 anos. Mãe de cinco filhos, escreveu seus primeiros versos em 1950 e durante anos viveu a pacata vida do interior de Minas. Enviou seus escritos para concursos literários, foi descoberta por Affonso Romano de Sant’Anna e Carlos Drummond de Andrade e logo se tornou admirada como uma das melhores poetas brasileiras. Escreveu “Bagagem”, “O Coração Disparado”, “Terra de Santa Cruz”, “O Pelicano”, “A Faca no Peito”, “Oráculos de Maio”, “Louvação para uma Cor” e “A Duração do Dia” e sua mais recente obra, “Miserere”, foi publicada no final de 2013, depois de três anos de silêncio literário.

28 anos de livros

Criado pelo gestor cultural Afonso Borges, há 28 anos, o "Sempre Um Papo – Literatura em Todos os Sentidos” promove a difusão do livro e seu autor através de lançamentos de livros antecedidos por debates informais. Já atuou em mais de 30 cidades brasileiras, tendo realizado mais de 5.000 eventos com um público presente estimado em 1,6 milhão de pessoas. Os encontros são exibidos, aos sábados e domingos, na TV Câmara. 

Desdobra-se para a série de DVDs educativos “Cultura Para a Educação”, em sua sexta edição, distribuído para mais de 6.000 escolas brasileiras, gratuitamente. E no site www.sempreumpapo.com.br, estão disponíveis mais de 300 programas com escritores, além de diversos seminários. Com o programa “Ler Convivendo”, em vigor há 8 anos, adota bibliotecas comunitárias em Minas Gerais ao promover 3 atividades: doação de livros, palestras com escritores e capacitação de voluntários. Há dois anos Afonso Borges conduz, na Rádio CBN Belo Horizonte, o boletim “Mondolivro – o blog sonoro da literatura”.
 
Serviço


Sempre Um Papo com Adélia Prado

Data: 27 de fevereiro, quinta-feira, às 19h30

Local: Sesiminas – Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia

Entrada gratuita

Na entrada do evento, será aceita a doação voluntária de livros literários novos e usados para o projeto “Sempre Um Papo Ler Convivendo”.

Informações: (31) 32611501

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