23/02/2014

O Facebook comprou um problema?

O Facebook concordou em comprar o WhatsApp, um serviço de mensagens para celulares em rápido crescimento, por US$ 16 bilhões, além de US$ 3 bilhões em ações oferecidas aos fundadores e funcionários da startup.

O problema é que esses fundadores, Jan Koum e Brian Acton, parecem detestar anunciantes - e a publicidade constitui o alicerce financeiro do Facebook. Eles também demonstram uma aversão à maioria das outras formas de ganhar dinheiro com serviços ao consumidor na internet.

"A publicidade nos faz sonhar com carros e roupas, trabalhando em empregos que detestamos para que possamos comprar porcarias das quais não precisamos", publicou no Twitter o diretor executivo do WhatsApp, Koum, em agosto de 2011, citando o personagem Tyler Durden, um dos protagonistas do filme Clube da Luta.

Em junho de 2012, Koum criou um blog para explicar por que o WhatsApp não vende anúncios.

"Hoje em dia, as empresas sabem literalmente tudo a nosso respeito, sabem de nossos amigos, nossos interesses, e usam toda essa informação para nos vender anúncios", escreveu ele, resumindo bem o atual modelo de negócios do Facebook, tão admirado por Wall Street.

"A publicidade não é apenas uma perturbação da estética, um insulto à nossa inteligência e uma interrupção da nossa linha de raciocínio", acrescentou Koum, futuro membro do conselho diretor do Facebook, com o poder de opinar na administração da rede social.

"Lembrem-se: quando a publicidade está envolvida, o produto é o usuário." Numa reunião de teleconferência com analistas a respeito da compra do WhatsApp, Zuckerberg disse a eles que os anúncios não são a única maneira de ganhar dinheiro com mensagens.

Isso gerou preocupação em Wall Street. Recentemente, Zuckerberg solucionou o problema da falta de receita do Facebook nos celulares com novos tipos de anúncios. Agora, ele gastou quase US$ 20 bilhões para assumir um problema de ´monetização´ nas mensagens - e a solução anterior não pode ser aplicada neste caso.

Incluindo o prêmio em ações, o Facebook está pagando US$ 19 bilhões pelo WhatsApp. Para justificar tal preço, o WhatsApp teria de gerar cerca de US$ 1 bilhão em fluxo de caixa anual até 2018, estimou Wieser.

"A empresa ofereceu poucos dados para sustentar tal suposição, pois são poucos os dados disponíveis", acrescentou o analista. "E os administradores indicaram esperar que o WhatsApp se ocupe do produto e do usuário em vez de encontrar formas de ganhar dinheiro." Ken Sena, analista da Evercore, rebaixou a nota dos papéis do Facebook ontem, dizendo haver um ponto de interrogação envolvendo a melhor maneira de ganhar dinheiro com serviços de mensagens como o WhatsApp.

Instagram. Wall Street também se preocupou com a forma de ganhar dinheiro a partir do Instagram, e os analistas ficaram aliviados quando o serviço começou a exibir anúncios no ano passado.

Esta opção não vale para o WhatsApp. Em vez disso, o serviço cobra atualmente US$ 1 pelo uso após o primeiro ano.

Se o WhatsApp conseguir que um bilhão de usuários paguem um dólar por ano, isto pode gerar uma renda anual de US$ 1 bilhão, o equivalente a um lucro operacional de US$ 600 milhões. De acordo com a estimativa de Mahaney, isso representaria um ganho de aproximadamente US$ 0,12 por ação em lucro extra para o Facebook em 2015.

Isso reduziria muito o impacto da emissão de muitas novas ações por parte do Facebook para pagar a aquisição - jogada que dilui o lucro teoricamente disponível para os acionistas da empresa.

"Talvez essas suposições soem agressivas, mas existe também a distinta possibilidade de o potencial de monetização do WhatsApp superar em muito a marca de US$ 1 por ano", disse Mahaney.

Mas nem todos estão convencidos desse potencial. Wieser, da Pivotal, acredita que se o WhatsApp cobrasse US$ 2 por ano, muitos usuários migrariam para outro serviço de mensagens que cobrasse menos ou não tivesse assinatura.

Não é difícil para que outra empresa com software competente e habilidade no desenvolvimento de produtos crie um aplicativo como o WhatsApp. Já há muitos rivais do WhatsApp, e alguns deles fazem sucesso em diferentes partes do mundo. O Kakao é grande na Coreia do Sul, o Line domina no Japão e o WeChat lidera na China.
O Estado de S. Paulo / Instituto Humanitas

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