23/02/2014

Uma chamada surpreendente de Jesus ao amor

Quem se assemelha a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos.
Quem se sinta filho desse Deus não introduzirá no mundo o ódio nem a destruição de ninguém.
Por José Antonio Pagola*

A chamada ao amor é sempre sedutora. Seguramente, muitos acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que, um dia, lhes falasse de amar os inimigos. 

No entanto, Jesus o fez. Sem respaldo algum da tradição bíblica, distanciando-se dos salmos de vingança que alimentavam a oração do Seu povo, enfrentando-se ao clima geral de ódio que se respirava à Sua volta, proclamou com clareza absoluta a Sua chamada: "Eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem a quem vos incomoda e rezai pelos que vos caluniam".

A Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas totalmente coerente com a Sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive os Seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. A Sua grandeza não consiste em vingar-se, mas em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho desse Deus não introduzirá no mundo o ódio nem a destruição de ninguém. 

O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus, dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A Sua chamada quer introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo porque quer eliminar do mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se assemelha a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive dos seus inimigos. 

Quando Jesus fala do amor ao inimigo, não está nos pedindo para nutrir sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faz mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar danos, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração. 

Amar o inimigo significa, antes de tudo, não fazer-lhe mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor algum para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar o ódio e a sede de vingança. 

Mas não se trata só de não fazer-lhe mal. Podemos dar mais passos até estar inclusive dispostos a fazer-lhe o bem se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos do que quando nos vingamos alegrando-nos da sua desgraça. 

O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas circunstâncias, à pessoa pode ser naquele momento praticamente impossível libertar-se da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não devemos julgar ninguém. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.
Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola é teólogo. A leitura é baseada no Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5, 38-48 que corresponde ao Sétimo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.

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