11/05/2014

Arena Amazônia será vendida depois da Copa

Prefeito diz que estádio pode virar elefante branco, sem verbas públicas para mantê-lo.
Arena das Dunas: um estádio futurista numa região onde os hospitais caem aos pedaços.
Por Assis Moreira*
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB) Neto, encontrou-se ontem com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em Zurique, e logo em seguida informou que seu projeto pós-Copa inclui colocar à venda a Arena da Amazônia, o estádio da capital amazonense.
O estádio teria custado cerca de R$ 670 milhões, bem acima do previsto. O prefeito disse não saber exatamente o valor final, mas considera que a venda parece ser uma necessidade para evitar que o estádio se transforme num elefante branco sem verba pública para mantê-lo. "Só o setor privado pode pegar um limão amargo e transformá-lo numa limonada que pode ser adoçada." Para ele, a opção do setor público é clara: "Não vendendo, o Estado incorpora o prejuízo e vendendo vai sair a verdade sobre o custo. Vale ou não vale (os R$ 670 milhões?)".
O prefeito disse que não discutiu com o presidente da Fifa sobre a venda do estádio. Relatou a Blatter que o estádio está 100% pronto para acolher os quatro jogos da Copa. Segundo Virgílio, Blatter fez elogios ao estádio e à iniciativa da prefeitura de dar "Bolsa Idioma" para quem trabalha no turismo.
Virgílio confessa que nunca foi a favor da construção da Arena da Amazônia e que teria preferido a renovação do antigo estádio. Mas que agora, com a Arena construída, o legado pós-Copa será mesmo para a área de entretenimento, como shows, já que a Amazônia tem um futebol ainda modesto. No complexo do estádio será construído um Centro de Convenções, o que poderia atrair eventualmente investidores.
O secretário-geral da Fifa, Jerôme Valcke, disse na terça-feira que a escolha de Manaus como uma das sedes da Copa foi decisão do governo brasileiro porque de fato não há futebol na região.
Virgílio disse que sua proposta de privatização é vista "com bons olhos" pelo governador José Melo (PROS). A conversa concentrou-se mais no legado turístico do evento na capital amazonense. O prefeito acha que a cidade acolherá pelo menos 80 mil turistas estrangeiros durante os jogos e atrairá a atenção de mais de 1 bilhão de pessoas que verão os jogos pela televisão.
O prefeito visivelmente não entende até hoje como gastou-se tanto dinheiro em estádios, lembrando que os Estados Unidos adaptaram estádios de basebol para sua Copa, por exemplo. Ele anunciou que logo que retornar a Manaus vai reunir os gerentes de hotéis para adverti-los a não ter a "mentalidade de Noé", tentando lucrar muito de uma só vez. (*A reportagem de Assis Moreira publicada por Valor)
Estádios futuristas, hospitais pré-históricos
Várias pessoas me pediram um comentário político sobre minha ida no Arena das Dunas no último fim de semana. Bom, o que eu tenho a dizer é que a única alegria que tive ali dentro foi o reencontro depois de muitos meses com a maior torcida do RN e a vitória (fácil) do meu ABC.
Todo o mais só me fez ter mais raiva dessa Copa do Mundo e mais certeza de que as lutas que acontecerão durante o evento são absolutamente justas.
A primeira coisa que chamou a atenção foi a suntuosidade do estádio. Tudo material de primeira linha. É inadmissível que um campo de futebol receba todo esse acabamento (sendo financiado por dinheiro público) quando os hospitais estão caindo aos pedaços.
O Arena tem dois telões enormes (e certamente muito caros) que servem para passar propaganda e para transmitir o jogo, durante a partida. Uma coisa totalmente inútil. Quem vai ficar olhando para o telão digital quando se pode olhar o verdadeiro campo de jogo, e principalmente num estádio com o design do Arena, no qual você se sente praticamente dentro do campo?
O estádio é todo montado em cadeiras retráteis, muito confortáveis e que devem ter custado uma fortuna. Eu não conheço nenhuma carteira de escola pública que tenha melhor qualidade que aquilo. Enquanto os alunos sofrem com a precarização nas escolas, montam um estádio com cadeiras com essa qualidade para um sujeito assistir um jogo (que em muitos momentos a torcida acaba ficando de pé) que dura 1 hora e meia apenas.
Por fim, o Arena das Dunas (a exemplo de todos os estádios construídos e/ou reformados para os jogos) é a expressão da perda da nossa identidade futebolística. O Arena é um estádio "europeizado", não tem nada a ver com nossa tradição.
Tive a oportunidade de ir aos três estádios dessa cidade (Juvenal Lamartine, o finado Machadão e o Frasqueirão) e em todos eles existe o espírito do futebol brasileiro, o esporte de massas e de multidões, do ingresso de arquibancada de concreto, dos torcedores que têm contato uns com os outros, da lembrança da antiga "geral", das classes populares...
O Arena das Dunas é o estádio do futebol comportadinho, do cada um na sua cadeira, do individualismo, da atmosfera de classe média européia abastada.

Dom Total

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