03/05/2014

Religião e ciência partilham as mesmas raízes

Por Bill Tammeus

Há algumas semanas, John C. Mather, que ganhou o Prêmio Nobel de Física, em 2006, deu uma palestra na Universidade Católica da América, em Washington, D.C., sobre as origens e o futuro do universo.
Esta iniciativa fez bem para a universidade, pensei. Que ótima mudança em relação a séculos atrás, quando a Igreja Católica decidia unilateralmente quais eram os detalhes da origem, do futuro e da forma do universo, às vezes tirando conclusões contrastantes às que os cientistas estavam chegando.
Eu gosto de física, embora descobri que para entender qualquer coisa nesse sentido é preciso saber também de matemática. Tendo presente minha incompetência nesta área, fui para o jornalismo, um campo onde erros matemáticos podem criar embaraços, mas provavelmente não irão resultar na morte inadvertida do mundo.
No entanto, eu ainda não desisti de meu gosto pela física. Ao longo dos anos, escrevi uma quantidade razoável sobre ciência, em especial cosmologia e física subatômica. Assim, quando fiquei sabendo que Mather iria falar sobre tudo isso à luz das provas recentes que confiram a teoria do Big Bang, fiz uma rápida pesquisa para ver se ele já tinha dito algo publicamente sobre religião.
O que encontrei foi animador, embora o achado não me diga muito sobre se Mather é seguidor desta ou daquela tradição religiosa.
Encontrei uma entrevista dele no site da NASA. Em resposta a uma pergunta sobre as coisas que as pessoas questionam quando fala para grupos religiosos, Mather afirmou: “Temos nossas tradições religiosas que vêm de milhares de anos, e às vezes eu paro e penso: bem, se Moisés tivesse descido a montanha com alguns comprimidos, dizendo: ‘Olhem só: há prótons e nêutrons, e eles são feitos de quarks’, as pessoas não iriam entender. Então ele não falou nada. Estamos descobrindo como realmente é o universo. Ele é completamente magnífico. Creio que minha resposta seja a de um completo espanto e admiração pelo universo em que estamos, e a forma como ele funciona é simplesmente muito mais complicada do que nós, seres humanos, algum dia iremos compreender”.
Esta expressão humilde de admiração é encontrada na raiz da religião. E é uma atitude muito mais atraente do que aquela que o famoso físico Stephen Hawking apresentou em seu livro “Uma breve história do tempo”. Aí, Hawking falou sobre a esperança de se encontrar uma grande teoria unificada de todas as coisas e escreveu que “se descobrirmos uma teoria completa (...), então conheceremos a mente de Deus”.
Muito melhor do que a arrogância de Hawking sobre capacidade humana de compreender o infinito é a expressão simples de Mather de admiração e o seu reconhecimento de que a forma deste universo é “simplesmente muito mais complicada do que nós, seres humanos, jamais iremos compreender propriamente”.
Na verdade, esta é exatamente a atitude que a religião – qualquer que seja a tradição – deve defender. Nós humanos somos naturalmente curiosos a respeito do mundo em que vivemos, e deveríamos nos colocar a explorar e tirar conclusões sobre como as coisas parecem funcionar. Mas imaginar que temos condições de conhecer a mente de Deus, de forma completa, é virar a virtude beneditina de humildade de ponta cabeça.
Minha esperança é que as instituições educacionais religiosas incentivem a exploração científica aberta e honesta, e não uma ciência orientada pela agenda que tenta provar as doutrinas religiosas. Fazer uso das capacidades científicas de alguém para provar que a Terra tem apenas alguns poucos milhares de anos é ir contra a ciência, é andar para trás. A boa ciência busca por provas desta ou daquela hipótese e, então, tira conclusões – e não primeiro tira uma conclusão e, depois, vai à caça de provas para ela.
O que a religião pode trazer para o debate é uma abertura ao espanto e à admiração, enquanto os cientistas descrevem como eles acham que as coisas funcionam.
National Catholic Reporter, 30-04-2014.

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