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Homens são tão suscetíveis a serem vítimas de violência doméstica do que mulheres.
Em 3 de agosto de 2004, Akku Yadav foi linchado por uma gangue de mais de 200 mulheres em Nagpur, Índia Central. Passaram-se 15 minutos até que as mulheres esquartejassem o homem que, de acordo com elas, as estuprou por mais de uma década com impunidade. Jogaram pimenta em seu rosto e pedras em seu corpo. Enquanto ele se debatia e lutava, uma de suas supostas vítimas cortou-lhe as partes íntimas com uma faca de cozinha. Seu corpo foi coberto por 70 facadas. No meio da mármore branca da Corte de Justiça de Nagpur. Todas as mais de 200 mulheres da gangue se declararam culpadas do crime.
Em 30 de junho de 2014, Lucas Hertzman, um jovem transexual e feminista, cometeu suicídio na Suécia. Ativista dos direitos dos transexuais por longo período, em seu esforço, Lucas decidiu se aliar às feministas. Entre outras ações, participou de protestos organizados pelo grupo feminista FEMEN. Lucas continuou seus esforços até o dia em que foi informado de que não era mais bem-vindo no grupo, e que estava sendo expulso da comunidade. A razão: Lucas era homem.
Akku Yadav era um mafioso local com várias conexões com a polícia da região de Kasturba Nagar, uma das maiores favelas de Nagpur. Usava do estupro como um dos instrumentos de coação da população local. Os policiais da área, quando recebiam delações dos crimes cometidos por Yadav, ao invés de prendê-lo informavam a ele quem o havia delatado. Após sua morte, vários advogados manifestaram-se demonstrado apoio à gangue de linchadoras afirmando que eram vítimas, e não criminosas. Um juiz aposentado chegou a afirmar: “Dentro das circunstâncias, as mulheres não tiveram outra opção senão terminar com Akku. As mulheres clamaram repetidas vezes por proteção à polícia. Mas a polícia falhou em protegê-las.”
Jenny, a única representante do grupo FEMEN na Suécia, disse da expulsão de Lucas: “Ele foi expulso das contas de Facebook e Twitter do grupo, mas deixou a comunidade voluntariamente. (...) Se uma pessoa não cresceu num corpo feminino, ainda não experimentou o mesmo tipo de opressão tendo crescido num corpo masculino.”
Estudos da Escola de Medicina de Harvard, do Centro de Controle de Doenças, da Associação Norte-Americana de Psiquiatria, da Secretaria de Assuntos Internos da Grã Bretanha e do Departmento de Pesquisas de Crimes do mesmo país apontam que pelo menos mais de 40% dos casos de vítimas de violência doméstica são homens. Um estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, concluiu que homens são tão suscetíveis a serem vítimas de violência doméstica do que mulheres.
Além disso, análises recentes sobre diferenças de salário entre homens e mulheres concluem que, apesar de haver um diferença de 23% na média geral de salários, quando tais diferenças são analisadas por setor, esta diferença cai para 5%.
Enquanto as conquistas do movimento feminista, merecidas e consolidadas, nos remetem à necessidade de sua universalização para que casos como o de Akku Yadav nunca tenham de existir novamente, o suicídio de jovens idealistas como Lucas nos coloca novos desafios.
Especificamente, qual será o legado do movimento feminista: as realizações na construção da valorização do ser humano pelo que é, independentemente de seu gênero? Ou a geração e fomento do ódio simetricamente oposto à figura que, hipoteticamente, lhe deu razão?
*Alexandre Kawakami é Mestre em Direito Econômico Internacional pela Universidade Nacional de Chiba, Japão. Agraciado com o Prêmio Friedrich Hayek de Ensaios da Mont Pelerin Society, em Tóquio, por pesquisa no tema Escolhas Públicas e Livre Comércio. É advogado e consultor em Finanças Corporativas.
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