22/07/2014

Casarões tentam resistir ao moderno

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Sobrados antigos e casarões têm sido modificados de forma desordenada
FOTO: ELISÂNGELA SANTOS
Juazeiro do Norte. Com 103 anos, Juazeiro é um lugar em que as construções são da ordem do dia e o passado arquitetônico, para se manter na memória enfrenta o desafio em meio às novas edificações. Muitos prédios um dia antigos dão lugar a novas casas de comércio, prédios comerciais e residenciais, em locais onde a especulação imobiliária é altíssima, chegando a valores por metro quadrado equivalente a muitas capitais do Brasil.
Os velhos casarões e sobrados que marcaram as primeiras edificações do Município praticamente não existem mais. Mesmo nas fotografias, alguns dos locais onde estavam prédios referenciais da cidade hoje sequer são identificados.
Essa á realidade de uma cidade dinâmica que tem procurado se adequar a uma realidade de crescimento constante. Os primeiros moradores que chegavam ao Juazeiro do Norte não tinham uma preocupação com a memória da cidade, principalmente quando se fala em edificações. Há áreas transformadas várias vezes nesses pouco mais de cem anos.
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A Rua São Pedro na década de 70, a principal via do comércio da cidade e uma das mais movimentadas do Interior
FOTO: REPRODUÇÃO/ ACERVO DANIEL WALKER
Esse pouco valor afetivo pelas formas em concreto é demonstrado pelo que resta. A área mais antiga de Juazeiro está basicamente numa das partes do centro da cidade. No entorno do local onde foi construída a capelinha de Nossa Senhora das Dores, hoje a Basílica Menor, foram realizadas as primeiras construções da cidade. A artista plástica Assunção Gonçalves, falecida em maio do ano passado, foi contemporânea do Padre Cícero. Por meio da memória da avó, pode resgatar os primeiros passos de Juazeiro por meio da pintura. Vieram à lembrança as edificações da vila, resultado de informações repassadas por quem vivenciou o nascimento de Juazeiro. Ela não gostava muito de lembrar de uma cidade que parecia não existir mais. E viu-a tomar novas feições. Juazeiro do Norte passou a tomar proporções inimagináveis para os antigos moradores.
Dinâmica
O escritor Daniel Walker lembra de uma frase do Monsenhor Murilo de Sá Barreto, em que ele dizia que Juazeiro é de pouca geografia e muita história. A dinâmica de mudanças carece de adequação do desenvolvimento ao lugar. Ao repassar as paisagens antigas da velha Juazeiro, quase nada resta como lembrança. A memória foi apagada em nome do crescimento contínuo. E esse desenvolvimento passou a ter impulso, principalmente, após o milagre de 1889, com o sangramento da hóstia ofertada pelo Padre Cícero à beata Maria Araújo.
A movimentação aumentou, a polêmica se espalhou e todos queriam conhecer o padre santo, que acolhia quem chegava.
O processo de ocupação de Juazeiro do Norte ocorreu de forma rápida e consequentemente a transformação do espaço geográfico. A cidade contempla atualmente cerca de 250 mil habitantes. Talvez essa realidade elucidasse um pouco a falta de apego ao patrimônio construído. Em constante mutação, se tornou comum a derrubada de prédios para o estabelecimento de casas comerciais.
Em poucas ruas podem ser encontrados prédios que liguem o presente ao passado. Na São José, por exemplo, no centro da cidade, pode ser visto o Museu Padre Cícero, local onde o sacerdote passou seus dois últimos anos de vida. Hoje, abriga parte dos seus pertences. Logo abaixo, na mesma rua, um velho prédio onde hoje funciona um abrigo para idosos.
Resistência
Na Rua Padre Cícero, outra casa intacta é a da artista plástica, Assunção Gonçalves. O pesquisador Daniel Walker também lembra da oportunidade que se teve de tombamento da Capela do Socorro, junto com a Casa dos Milagres. Um conjunto que era visto como patrimônio foi descaracterizado. Isso interrompeu o processo de reconhecimento da área, com a inclusão de uma torre com relógio à frente da capela. Ao longo dos anos, foram várias construções em volta de uma área antes descampada.
Nas proximidades foi construída a Praça do Cinquentenário. O marco das cinco décadas de Juazeiro teve seu espaço comprimido por uma escola e o Memorial Padre Cícero. E as reformas continuam no espaço.
Agora com o projeto de requalificação de áreas da cidade, nova sinalização e iluminação nas vias. Na rua Padre Cícero, alguns sobrados hoje dão lugar a estacionamentos. Uma das casas mais antigas fora demolida a bem pouco tempo, entre as ruas Alencar Peixoto e a Padre Cícero. O cinema Eldorado já não tem tela, os 1.200 assentos foram arrancados em 2011, depois de 15 anos desativado, para dar lugar aos carros e como os outros cinemas, que poucos sabem que existiram em Juazeiro, ficaram no esquecimento.
A cidade de formação arquitetônica eclética, como descreve o arquiteto Jorge Mauro, que já projetou diversos prédios públicos na cidade, hoje tem um dos metros quadrados mais valorizados do Estado do Ceará. Por conta da quantidade de investimentos comerciais e na área da construção civil, além da quantidade de universidades instaladas em apenas uma década.
Pousadas
De um lado, uma cidade mais antiga, onde se encontra a maior parte das acomodações para os romeiros, o comércio e as grandes igrejas. São os ranchos e pousadas, mais próximos dos templos católicos e dos pontos de visitação romeira. Esses ficam no centro, São Miguel e Socorro, em sua maioria, que são bairros mais próximos do Centro. Do outro lado, uma área que em poucos anos ganhou novos bairros, prédios luxuosos, como a Lagoa Seca, estendendo-se para a Cidade Universitária. Falta memória arquitetônica em Juazeiro, de modo a permitir a história contada por suas paredes.
FIQUE POR DENTRO
De Tabuleiro Grande a Juazeiro
Quando ainda era uma vila pertencente ao Crato, Juazeiro chamava-se Tabuleiro Grande, um aglomerado de casas de taipa e algumas de tijolos convergindo para uma capela dedicada à Nossa Senhora das Dores. A vila era entreposto e ponto de apoio para aqueles que iam para o Crato. A arquitetura antiga de Juazeiro ainda conta com a antiga Estação Ferroviária, localizada na Praça dos Ourives; a Coluna da Hora, destaque central da Praça Padre Cícero; o casarão da Família Bezerra de Menezes, e dois casarões pertencentes ao Padre Cícero.
Mais informações:
Delegacia regional do Creci, em Juazeiro
Rua José Marrocos, 31, Centro
Telefones: em Crato, (88)3521. 2283 e Juazeiro - 3512 1370.
Elizângela Santos
Repórter
Diário do Nordeste

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