03/08/2014

Do céu estrelado viestes

Padre Geovane Saraiva*

“Ao Senhor eu peço apenas uma coisa e só isso que eu desejo, habitar na sua casa do Senhor, por toda minha vida, para sentir-me maravilhado diante da sua bondade. Ele me guardará no seu templo e me colocará em sua presença” (Sl 27, 4-5). Quando uma pessoa é amada por Deus, leva em si mesmo, uma vontade misteriosa de sair do seu próprio egoísmo e experimentar a alegria de servir e de amar os irmãos e irmãs, tendo na mente e no coração o grande projeto de Deus, o da glória futura. 

Sto AfonsoSanto Afonso Maria de Ligório viveu deste modo, correspondendo com sua inteligência raríssima e privilegiada e o coração cheio de fé e bondade. Primogênito de uma família numerosa da nobreza italiana da cidade de Nápoles, o qual recebeu uma esmerada educação e formação, no campo das ciências humanas, línguas clássicas e modernas, pintura e música, conseguindo nos seus estudos, rápidos e surpreendentes progressos, tornando-se advogado ainda bem jovem, logo colhendo os frutos no fórum de Nápoles.

No mundo da história das artes temos figuras talentosas, são gênios que influenciaram a humanidade, tais como Dante Alighieri (1265-1321), escritor, poeta e político italiano, considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana; Leonardo da Vinci (1452-1519), inventor, pintor, matemático e físico, figura das mais importantes da Renascença; Michelangelo (1475-1564), pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do Ocidente. É nesse contexto de sábios e gênios que não posso esquecer a figura prodigiosa de Afonso Maria de Ligório, enfatizando sua obra musical mais conhecida, o hino natalino, composto em 1744, intitulado: Tu scendi dalle stelle - Do céu estrelado viestes.

É importante destacar no jovem uma profunda e intensa vida de oração, fazendo a cada  ano o seu retiro espiritual. Por sua inigualável sabedoria, também foi considerado o homem das letras, de tal modo que tudo concorre em Afonso Maria de Ligório, para que o amor de  Deus cresça, desenvolva e se faça dom não só para si, mas para toda humanidade. Ele quer ser feliz, indo ao encontro de Deus, que se revelou e se manifestou, buscando-O no amor pelas pessoas do seu tempo, em especial, os pobres e sofredores.

Em um determinado momento tomou a firme decisão de abandonar a advocacia e dedicar-se à arte de salvar as almas, a “Arte das Artes”.  Estudou Filosofia e Teologia e aos trinta anos foi ordenado sacerdote, vivendo o ministério em profunda coerência com seu lema: “Deus me enviou para evangelizar os pobres”. A partir daí colocou seu rigor intelectual e sua oratória a serviço do reino de Deus, na sua ação vigorosa, como prodigioso escritor, deixando 111 obras publicadas, destacando-se pelo seu tratado de teologia moral, transformando-se num mestre sábio, de uma  importância incomensurável.

Sem deixar de lado o homem de Deus, que pela sua santidade percebeu a realidade dos empobrecidos, logo lhe surgindo a ideia das missões populares, com o objetivo levar a boa nova da salvação aos que viviam na ignorância, longe do conhecimento da fé e das verdades reveladas pelo Senhor Jesus Cristo.  Conhecido também como apóstolo do culto à Eucaristia e à Virgem Maria, conduzindo o povo de Deus à meditação das realidades últimas: morte e juízo, inferno e paraíso. E ainda à vida de oração e à vida sacramental. Imprimiu nas pessoas com quem conviveu a marca indelével do indizível mistério do amor de Deus.

Santo Afonso fundou a Congregação dos Padres Redentoristas em 1732. Eles são numerosos, com presença no mundo inteiro, carregando consigo marca da generosidade, no esforço constante de encarnar o Evangelho, sempre sensíveis aos clamores dos pobres, excluídos e marginalizados da nossa sociedade.  Aqui em Fortaleza, temos a alegria e a graça de contar com o trabalho e a presença valiosa das comunidades redentoristas.

Santo Afonso Maria de Ligório viveu uma longa vida, morrendo com mais de noventa anos de idade (1696- 1787), deixando-nos um enorme legado, compreendido a partir do Deus terno e bom. Como Mestre dos bons costumes, da ética e da moral, pensou e desejou que sua mensagem, herança inestimável e inquestionável, deixada para a humanidade, chegasse, enquanto possível, a todas as pessoas do planeta, através do Evangelho, anunciado pelos seus filhos, os missionários redentoristas, sempre sensíveis ao clamor de uma multidão de pessoas, que pela fé  sonham com a vida em abundância (cf. Jo, 10, 10).

O Senhor colocou nos seus lábios palavras seguras e sábias, deu-lhe o espírito de sabedoria, inteligência e o revestiu de glória (cf. Sl 36, 31-32), através da vida, com todos seus prodígios. Nomeado bispo dos Godos em 1762; já no ano de 1839 foi canonizado; declarado solenemente Doutor da Igreja em 1871; pelo seu jeito de viver, em 1950, tornou-se padroeiro dos moralistas e confessores.  Nós, povo de Deus do bairro Parquelândia, nesta cidade de Fortaleza, somos gratos ao nosso bom Deus, por tê-lo como nosso padroeiro. Deus seja louvado por suas santas criaturas!

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

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