02/10/2014

Qual é nossa missão em vida?

É preciso estarmos atentos à nossa caminhada. Caso contrário, gastamos nosso tempo fora do trilho.
Cada comunidade precisa saber sua finalidade e seu sentido.
Por Dom José Alberto Moura*

Tudo o que há na natureza tem razão de ser. Até os mosquitos! A fé em Deus, com maior razão tem sua finalidade. Aliás, sem Ele, o ser humano se coloca no pedestal de seu orgulho e arruína a si mesmo, o semelhante, a natureza, a política, a economia, a ciência e tudo o mais!

Isaías faz a comparação do povo hebreu com uma vinha. Mas ela, mesmo bem cultivada, não deu frutas boas. Cometeu barbaridades, contrariamente ao cultivo do amor que o Criador lhe tinha devotado. Por isso, foi arrancada para um plantio de melhor qualidade (Isaias 5,1-7). Na parábola dos vinhateiros Jesus nos apresenta semelhante comparação e nos adverte sobre a necessidade de cumprirmos a missão que Deus nos dá (Cf. Mateus 21,33-43). Ele nos deu o tesouro da vida para o cultivarmos em bem nosso e do semelhante, dentro dos critérios da vida apresentado pelo Senhor. É preciso estarmos atentos ao sentido da mesma em nossa caminhada, tendo em vista seu objetivo. Caso contrário, gastamos nosso tempo fora do trilho e não nos realizamos como pessoas humanas. Sem assumir os critérios ou valores naturais e sobrenaturais que Deus nos outorga, desperdiçamos a oportunidade de ganharmos tentos para uma recompensa satisfatória e sermos felizes de verdade. Fora do caminho da vida de sentido, nós nos arruinamos. Nosso ganho de mérito na existência é proporcional ao bem que realizamos às pessoas e a toda a comunidade.

É inerente à razão de ser de cada instituição, comunidade e religião a missão a cumprir. Desde o início de cada uma é preciso saber sua finalidade e seu sentido. Quanto menor for seu objetivo será pequeno seu papel. A grandeza da missão da Igreja instituída por Jesus é imensurável. Ele a quis para ser grande luz para a sociedade enxergar o caminho que leva à sua plena realização. A convivência na justiça e promoção da dignidade humana é sua verdadeira vocação. A história presente tem de ser construída com a construção da vida no planeta que honre o Criador. Imagem e semelhança de Deus, o ser humano é uma pérola escolhida pelo amor divino. Deve ser burilada e protegida para glorificar seu Criador, a ponto de se parecer com Ele na convivência de um amor sem medida. A missão a ele dada é a de ajudar a criar uma convivência de tal ordem a que cada um tenha todo o necessário para viver respaldado em sua dignidade. Enquanto isso não acontecer, é preciso cada um fazer a doação de si pelo bem do outro, mesmo com o sacrifício da própria vida, como fez exemplarmente o Filho de Deus. Mais: a finalidade de tudo vai além da história presente. O já da história deve levar o ser humano a projetar-se para o infinito da vida eterna nos amplexos divinos. Isso se consegue no impulso da vida presente para se conseguir tal objetivo. A mediação é o amor vivenciado. Eis o grande porquê da vida humana!

Nosso desafio em vista disso é esmerar-nos para acertar nossos passos com os de Deus, colocando nossa vida, com todos os talentos individuais, a serviço dessa causa. Enquanto não o conseguirmos, nossa ascese e exercitação boa vontade são exigidas a cada momento. Precisamos de ajuda, uns dos outros e de Deus, bem como de usar os meios por Ele deixamos na humanidade, na natureza e, privilegiadamente, em sua Igreja, para nos sustentarmos nesse nosso esforço. Jesus mesmo lembra a necessidade de contarmos com Ele e orarmos sem cessar. A Palavra dele nos anima e fortifica. Nosso emprenho evangelizador e missionário não nos deixam sem motivo para também encantarmos os outros com o projeto de Jesus, para termos vida plenamente realizada já na terra.

Nossa missão, em ordem à realização vocacional e à da Igreja, tem pleno sentido para tornarmos o mundo mais irmão, com os valores do Reino de Deus e sua justiça!
CNBB, 01-10-2014.
*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).

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