16/11/2014

A busca criativa pelo Reino de Deus

A mensagem de Jesus é clara: não a uma vida estéril, sim à resposta ativa a Deus.
O principal a fazer é comunicar a Boa Nova de Jesus numa sociedade sacudida por mudanças.
Por José Antonio Pagola*

Apesar da sua aparente inocência, a parábola dos talentos encerra uma carga explosiva. Surpreendentemente, o "terceiro servo" é condenado sem ter cometido nenhuma ação má. O seu único erro consiste em "não fazer nada": não arrisca o seu talento, não o faz frutificar, conserva-o intacto num local seguro.

A mensagem de Jesus é clara. Não ao conservadorismo, sim à criatividade. Não a uma vida estéril, sim à resposta ativa a Deus. Não à obsessão pela segurança, sim ao esforço arriscado por transformar o mundo. Não à fé enterrada debaixo do conformismo, sim ao trabalho comprometido em abrir caminhos para o reino de Deus.

O grande pecado dos seguidores de Jesus pode ser sempre o de não nos arriscarmos a segui-lo de forma criativa. É significativo observar a linguagem que se utilizou entre os cristãos ao longo dos anos para ver em que temos centrado com frequência a atenção: conservar o depósito da fé; conservar a tradição; conservar os bons hábitos; conservar a graça; conservar a vocação...

Esta tentação de conservadorismo é mais forte em tempos de crise religiosa. É fácil então invocar a necessidade de controlar a ortodoxia, reforçar a disciplina e a norma; assegurar a pertença à Igreja... Tudo pode ser explicável, mas não é com frequência uma forma de desvirtuar o evangelho e congelar a criatividade do Espírito?

Para os dirigentes religiosos e os responsáveis das comunidades cristãs pode ser mais cômodo “repetir” de forma monótona os caminhos herdados do passado, ignorando as interrogações, as contradições e as abordagens do homem moderno, mas de que serve tudo isto se não somos capazes de transmitir luz e esperança aos problemas e sofrimentos que sacodem os homens e mulheres dos nossos dias?

As atitudes que temos de cuidar hoje no interior da Igreja não se chamam “prudência”, “fidelidade ao passado”, “resignação”... Levam antes outro nome: “busca criativa”, “audácia”, “capacidade de risco”, “escuta ao Espírito” que tudo faz novo.

O mais grave pode ser que, o mesmo que sucedeu ao terceiro servo da parábola, também nós acreditemos que estamos a responder fielmente a Deus com a nossa atitude conservadora, quando estamos defraudando as Suas expectativas. O principal a fazer da Igreja hoje não pode ser conservar o passado, mas aprender a comunicar a Boa Nova de Jesus numa sociedade sacudida por mudanças socioculturais sem precedentes.
Instituto Hunitas Unisinos, 14-11-2014.
*José Antonio Pagola é teólogo. O texto é baseado no Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 25, 14-30 que corresponde ao 33º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo A do Ano Litúrgico.

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