23/11/2014

Um grito capaz de sacudir o mundo

Cidade do Vaticano (RV) – Na última quinta-feira, 20/11, o Papa Francisco deixou o Vaticano e percorreu as ruas da Cidade Eterna até a sede da FAO, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, onde fez um discurso durante os trabalhos da 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição, que teve início na quarta-feira, 19, e se encerrou na sexta-dia, 21. O Papa Francisco foi a personalidade mais esperada por representantes de mais de 170 países presentes nesta Conferência Internacional.


No seu discurso, falando em nome de quase um bilhão de pessoas esquecidas e que todas as noites vão dormir sem comer, o Sucessor de Pedro não mediu palavras para denunciar o grande absurdo da fome no mundo. Disse com voz pausada, em espanhol, que “dói constatar que a luta contra a fome e a desnutrição tem como obstáculo a prioridade dos mercados e a preeminência da ganância, que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer”.


O Papa saiu em defesa do direito à alimentação e o direito à vida e recordou a “obrigação moral de partilhar a riqueza econômica do mundo”. “Pessoas e povos exigem que a justiça seja colocada em prática; não apenas a justiça legal, mas também a contributiva e a distributiva”.


A mensagem do papa Francisco mais uma vez é clara, sem ambiguidades ou mal-entendidos: o homem faminto precisa de dignidade, não de esmola. E advertiu: “não podemos continuar a nos esconder por detrás de sofismas, manipulações de dados, presumíveis estratégias de segurança nacional, crises econômicas. “O faminto – recordou – está ali, na esquina da rua, e pede seu direito de cidadania, pede para ser considerado na sua condição, para receber uma alimentação sadia. Pede-nos dignidade, não esmola».


O direito à alimentação só será garantido se houver preocupação “com o sujeito real, ou seja, com a pessoa que sofre os efeitos da fome e da desnutrição”.


Já nos dias passados o Santo Padre falando no Vaticano aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares ressaltou que é preciso erradicar a fome, assegurar a dignidade a todos, sobretudo aos mais pobres e marginalizados. Não se vence “o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que servem unicamente para transformar os pobres em seres domésticos e inofensivos”. Quem reduz os pobres à “passividade”, disse, Jesus “os chamaria de hipócritas”.


Francisco ainda em uma recente mensagem à Caritas por ocasião do lançamento de uma Campanha Mundial contra a fome já levantara a sua voz afirmando que é preciso acabar “com o escândalo mundial” de milhões de pessoas a quem faltam alimentos. Estamos perante o escândalo mundial de um bilhão de pessoas que ainda hoje têm fome. Não podemos virar as costas e fazer de conta que isto não existe. “Os alimentos que o mundo tem à disposição podem saciar todos”.


E como fez São João Paulo II nesta mesma sede  da FAO em 1992 durante a primeira conferência sobre a alimentação, Francisco advertiu contra o risco de perseverar no “paradoxo da abundância”, continuando a proclamar que há alimento para todos mas nem todos podem comer, “enquanto o desperdiço, o descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão diante dos nossos olhos”. Uma situação que aliás tem a sua confirmação na falta de solidariedade que distingue a nossa sociedade cada vez mais individualista e submetida às lógicas de mercado. A solidariedade é “uma palavra que inconscientemente queremos tirar do dicionário”.


“Quando falta a solidariedade num país todos ressentem disso”, disse o Papa: homens, mulheres, crianças, idosos devem poder contar sempre com a ajuda de todos e ter a garantia de serem sempre protegidos. Proteção da qual tem imediatamente grande necessidade também «a nossa irmã e mãe terra” concluiu o Papa. Devemos “preservar o planeta” exortou, porque se é verdade que “Deus perdoa sempre» também é verdade que «a terra nunca perdoa” e a criação corre o risco de se encaminhar para a autodestruição.


O Papa concluiu fazendo um apelo à comunidade internacional para que saiba escutar o chamado desta Conferência e considere esse chamado uma expressão da comum consciência da humanidade: dar de comer aos famintos para salvar a vida no planeta. Em cada oito pessoas no mundo, duas não têm a alimentação necessária e não é porque faltam alimentos, mas porque estão mal distribuídos. Francisco convida todos, Igreja e sociedade, a “dar voz a todas as pessoas que sofrem silenciosamente de fome, para que esta voz se converta num grito capaz de sacudir o mundo”. (Silvonei José)



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