04/01/2015

A bênção, uma ação divina

A bênção é o encontro de Deus com o homem; nela o dom de Deus


e a acolhida do homem se unem.





Por Dom Murilo S.R. Krieger*


A história de Israel é a história da bênção prometida a Abraão: “Eu te abençoarei… e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem” (Gn 12,2-3). A fonte de toda bênção é Deus, que fez todas as coisas para cobrir de bênçãos as suas criaturas, e que sempre as abençoou, em sinal de sua misericórdia. Foi o próprio Deus que, através de Moisés, ensinou a Aarão e a seus filhos a maneira de abençoarem os israelitas: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti sua face, e se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” E completou: “Assim invocarão o meu nome sobre os israelitas, e eu os abençoarei” (Nm 6,25-27).


Jesus Cristo é a fonte de bênçãos para nós – ele próprio é uma bênção: “O Pai… do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo” (Ef 1,3). “É por isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado da cruz de Cristo” (CIC 1671). A missão do Filho de Deus foi marcada por inúmeros gestos de bênção. Destaco um deles: apresentaram-lhe crianças para que as tocasse. Os discípulos repreenderam os que fizeram isso. Jesus não concordou com eles, chamou as crianças para perto de si, abraçou-as “e as abençoou, impondo-lhes as mãos” (Mc 10,16).


 Terminada sua missão, chegada a hora de voltar para o Pai, Jesus levou os apóstolos para Betânia “e, levantando as mãos, os abençoou. Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado ao céu” (Lc 24,50-51).


Com essa bênção, começou a ser escrito o livro dos Atos dos Apóstolos, cuja primeira parte está na Bíblia. Sua continuação está sendo escrita por nós, chamados a ser uma bênção para os outros: “Abençoai os que vos maldizem” (Lc 6,28); “Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os amaldiçoeis” (Rm 12,14); “Abençoai, pois para isto fostes chamados, para que sejais herdeiros da bênção” (1Pe 3,9).


Como teríamos a vida e a salvação, não fosse a bênção de Deus? Sem sua bênção, seríamos incapazes de lhe render graças e de louvá-lo. Das bênçãos de Deus brota a vida. Somos chamados a transmitir a todos essa vida divina.


A bênção é o encontro de Deus com o homem; nela o dom de Deus e a acolhida do homem se unem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem bendiz Aquele que é a fonte de toda a bênção (cf. CIC 2626).


Os bispos, presbíteros e diáconos são chamados, por ofício próprio, a abençoar. Mas também aos leigos, em circunstâncias especiais, é facultado dar certas bênçãos, a critério do bispo diocesano. Há leigos, homens e mulheres, que podem celebrar certas bênçãos, em virtude de seu sacerdócio comum, cuja graça lhes foi comunicada no batismo e na confirmação. Alguns poderão e deverão dar a bênção dada a missão que receberam: é o caso da bênção dos pais em favor de seus filhos. Como é importante que não se perca esse costume em nossas famílias! A bênção paterna e materna têm um poder imenso diante de Deus.


Em síntese: as bênçãos – no sentido de atos de bendizer – referem-se, em primeiro lugar, a Deus, cuja grandeza e bondade exaltam; como, porém, comunicam benefícios divinos, têm em vista as pessoas, que Deus protege com sua bondade. Já a bênção dada a objetos e lugares, entende-se assim: como criaturas de Deus, também eles podem ser expressão das bênçãos de Deus para seus filhos.


Ao final deste ano da graça de 2014, queremos pedir a bênção do Senhor para nós e para as pessoas que passaram em nosso caminho neste ano que termina. Antecipadamente Lhe pedimos também que Ele abençoe nossos familiares, colegas de trabalho, amigos e desconhecidos que encontraremos ao longo do ano que se iniciará em breve. Brilhe sobre todos a face do Senhor!



CNBB, 29-12-2014.

*Dom Murilo S.R. Krieger é arcebispo de São Salvador da Bahia (BA) e Primaz do Brasil.

 



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