Premiação não indicou atores negros e mulheres diretoras ou roteiristas.
Academia é branca e masculina porque filmes também são, avaliam críticos.
Letícia MendesDo G1, em São Paulo
ESTATÍSTICAS QUEIMA FILME Veja por que falta diversidade no Oscar 2015 | |
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MELHOR FILME – Nenhum tem protagonista mulher. | |
ATORES - Todos os 20 indicados são brancos. | |
ACADEMIA – 94% dos votantes são brancos. | |
DIREÇÃO, FOTOGRAFIA, ROTEIROS - Não há mulheres. |
Toda premiação tem sua lista de esnobados. No entanto, os indicados ao Oscar deste anomostram que falta diversidade em Hollywood. Nenhum ator negro foi indicado – apesar de “Selma” concorrer a melhor filme – e nenhuma mulher aparece nas categorias de direção, roteiro e fotografia. Dentre indicados a filme, nenhum tem protagonista mulher. É a primeira vez que isso acontece desde 2006. Além de estatísticas, o sucesso das hashtags #OscarsSoWhite (Oscar tão branco) e #whiteOscars (Oscar branco) nas redes sociais deixou claro qual é o tamanho da indignação dos fãs de cinema.
Mas nem sempre é assim. A cerimônia de 2014 teve “12 anos de escravidão” como grande vencedor e premiou Lupita Nyong’o como melhor atriz coadjuvante. O diretor e produtor Steve McQueen saiu com o troféu de melhor filme, e John Ridley com o de roteiro adaptado. “Quem pensou que este ano ia ser como no ano passado é retardado”, disse o diretor Spike Lee ao site The Daily Beast. “Uma vez a cada dez anos mais ou menos recebo telefonemas de jornalistas sobre como as pessoas estão aceitando filmes com pessoas negras. Antes do ano passado, foi em 2002 com Halle Berry, Denzel Washington, e Sidney Poitier. É um ciclo de 10 anos”.
A última vez em que todos os 20 atores indicados ao Oscar eram brancos foi em 2011. Alguns veículos americanos como o “Huffington Post” consideram Javier Bardem e Hailee Steinfeld – indicados naquele ano – como “multiétnicos” e, por conta disso, apontam que o ano com menor diversidade foi 1998.
Uma das “injustiças” foi ignorar David Oyelowo como Martin Luther King em “Selma” na categoria de melhor ator. Em vez disso, Bradley Cooper emplacou sua terceira indicação em três anos por “Sniper americano”. Steve Carell superou o preconceito contra atores de TV e recebeu sua primeira chance por “Foxcatcher”.
94% de votantes brancos
Se há pouca diversidade entre os indicados ao Oscar, é porque não há diversidade entre os votantes. Segundo levantamento publicado pelo “Los Angeles Times”, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem mais de 6 mil membros, sendo que 94% são brancos, 77% são homens, e 86% têm mais de 50 anos.
A escolha de Cheryl Boone Isaacs como primeira mulher negra a presidir a organização foi uma iniciativa aclamada, mas pode ter sido como uma falsa ilusão. Enquanto atores, diretores, roteiristas e profissionais do cinema não indicarem mulheres e negros, não haverá mulheres e negros votantes, tampouco filmes sobre mulheres e negros. Críticos de jornais e sites americanos, como o IndieWire, avaliaram que a Academia é branca e masculina porque os filmes hollywoodianos também são.
Dos indicados à principal categoria do Oscar 2015, apenas “Selma” fala sobre negros. Os outros sete filmes são sobre um atirador de elite das forças especiais da marinha americana (“Sniper americano”); um ator decadente de filmes de super-herói (“Birdman”); a passagem do tempo na vida de um garoto de classe média (“Boyhood”); um dedicado gerente de hotel na Europa oriental (“O grande hotel Budapeste”); o matemático e pioneiro na computação Alan Turing (“O jogo da imitação”); o físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking (“A teoria de tudo”); e sobre um baterista de jazz (“Whiplash”).
Opções de filmes existem, mas Hollywood não liga para elas. Um exemplo é “Além das luzes”, da diretora Gina Prince-Bythewood. O longa estreou em novembro nos Estados Unidos (sem previsão no Brasil). Elogiado pela crítica, fez pouca bilheteria. A distribuidora não conseguiu dinheiro para fazer uma grande campanha ao Oscar. Além disso, o longa tem dois protagonistas negros e nenhum deles é interpretado por um astro. O filme que Prince-Bythewood passou anos tentando realizar foi marginalizado pela indústria. “Além das luzes” conseguiu ser indicado apenas a melhor canção por “Grateful”, de Diane Warren.
luzes’ (Foto: Divulgação)
Atrás das câmeras? Sem chance
“Estou reconfortada pelo fato de que todos os indicados a melhor atriz deste ano são mulheres”, ironizou Elizabeth Weitzman, crítica de cinema do “NY Daily News”.Diferentemente do Globo de Ouro, não foi desta vez que Ava DuVernay será a primeira negra a ser indicada à categoria de direção do Oscar. Angelina Jolie chegou a ser cotada, mas não convenceu com “Invencível”. Em 87 anos de premiação, quatro diretoras foram indicadas, sendo Kathryn Bigelow a única a ganhar, por “Guerra ao terror”, em 2010.
Gillian Flynn, autora do best-seller “Garota exemplar”, escreveu a adaptação para o cinema e teve seu trabalho ignorado. Nos últimos 20 anos, só Diablo Cody e Sofia Coppola ganharam o Oscar de roteiro original. E quatro mulheres – Ruth Prawer Jhabvala, Emma Thompson, Fran Walsh e Phillipa Boyens – ganharam de melhor roteiro adaptado desde 1993.
A última vez em que mulheres foram excluídas em direção, roteiro original e roteiro adaptado ao mesmo tempo foi em 1999. Desde então, há pelo menos uma indicada. A desigualdade de gênero na indústria cinematográfica foi avaliada pela Center for the Study of Women in Television and Film.Segundo o relatório, a porcentagem de mulheres no cinema americano é de 24%. “Esses dados ficam mais assombrosos quando comparados com a porcentagem de mulheres diretoras de filmes de maior bilheterias em 2013: 6%”, diz o texto.
Resposta da Academia de Hollywood
Em entrevista à agência Associated Press, após o anúncio dos indicados, a presidente Cheryl Boone Isaacs disse que a lista de atores que concorrem ao prêmio a inspira a fazer uma campanha para aumentar a integração em Hollywood. Cheryl afirmou que a Academia está “comprometida em fomentar a diversidade de voz e opinião”. “Nos últimos anos, temos dado mais passos que nunca para nos tornarmos uma instituição mais diversa e inclusiva. Pessoalmente, adoraria ver e desejo ver mais diversidade cultural em todos os nossos indicados, em todas as categorias”, disse. “O importante é não perder de vista que ‘Selma’, que é fantástico, foi indicado como melhor filme, e que essa categoria é escolhida entre uns sete mil filmes”, referindo-se ao longa sobre o movimento dos direitos civis nos EUA
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