Pelo modo excessivo com que as principais economias do mundo colocam a atividade econômica para agir, desequilibram-se as relações com o meio ambiente e, em face do crescimento físico da capacidade produtiva que não é estendido a todos, cria-se um nível de desigualdade insuportável, afastando-se da prática da justiça social (a reta relação entre as pessoas e as instituições).
Se a intenção do atual modelo econômico praticado pelas mais avançadas e desenvolvidas economias é a de levar progresso a todos, chegou a hora de rever esse procedimento, pois, simplesmente, não há a menor possibilidade, muito menos a mínima condição necessária para se promover um progresso ilimitado, uma vez que se percebe o rompimento da capacidade de suporte do planeta.
Não há matéria, recursos e energia disponíveis, de forma ampla e ilimitada, para fazer frente à produção em excesso. É necessário não perder de vista, nesse pormenor, que os recursos naturais são, essencialmente, um conjunto de matéria e energia de qualidade atuando (entrando) no processo econômico.
Na saída desse “cano econômico”, usando as palavras de Clóvis Cavalcanti, “sobra resíduo, poluição, calor e matéria dissipada. Do ponto de vista físico, o processo econômico não cria matéria e energia”.
A questão ecológica mais preocupante, com relação a esse ponto específico, está justamente no impacto dessa ação (a retirada de recursos naturais e a “entrega” de resíduos pós-produção à natureza) gerada pela atividade econômica.
Esse resíduo gerado deteriora o ambiente de várias maneiras: quimicamente, como no caso do mercúrio ou da chuva ácida; nuclearmente, como o lixo radioativo; ou fisicamente, como a acumulação de CO2 na atmosfera.
Razão pela qual o crescimento econômico – pelas bases da expansão da capacidade produtiva – entendido como condição para satisfazer as necessidades humanas, precisa urgentemente ser repensado, até mesmo porque o crescimento, per si, não atende em linhas gerais aos desejos ilimitados das pessoas, e, muito menos, com isso, coloca a economia a serviço da vida.
Por oportuno, cabe destacar que a economia, em sua característica social, tem tudo a ver com o modo como as pessoas vivem; com o bem-estar que as políticas econômicas podem ou não proporcionar a cada um de nós.
Não obstante, temos configurado aqui um fato: quando o consumo material excede o nível necessário, o bem-estar das populações consequentemente declina. Dessa forma, explica-se assim a necessidade ímpar de se criar uma nova economia, um novo modelo econômico projetado para a Terra, e não para o mercado; um modelo econômico que, definitivamente, coloque a economia a serviço da vida.
Um modelo novo de fazer economia que, para ser verdadeiramente sustentável na acepção do termo, necessariamente precisará respeitar os princípios ecológicos e os serviços ecossistêmicos, pois só há e haverá bem-estar possível e duradouro para o conjunto da sociedade se as mínimas condições de vida forem, soberanamente, respeitadas.
Para alcançar com eficiência um novo estágio de modelo de economia é imprescindível mudar o modus operandi do próprio sistema econômico. Entretanto, para se chegar a esse novo modo de conceber uma economia pautada na racionalidade ambiental (e não na mercadológica), visando, prioritariamente, salvaguardar o meio ambiente da forma agressiva com que o capitalismo de mercado se coloca para efetuar o ato de produzir, ao menos três parâmetros-chave tem de ser gestados: 1) desenvolver uma consciência ecológica coletiva a partir do diálogo intermitente entre as ciências econômicas e as ciências naturais, notadamente a ecologia; 2) desenvolver uma economia de baixo carbono, gestada, gerida e “conduzida” por uma macroeconomia ecológica que viabilize os princípios ambientais e, 3) promover os empregos verdes concebidos com a marca da sustentabilidade e do equilíbrio ecossistêmico.
Na organização da vida econômica, esses três parâmetros-chave podem ser laconicamente reescritos da seguinte maneira: i) mudar a lógica e o raciocínio econômico-social; ii) reestruturar e refundar especificamente o modelo econômico; iii) encaixar a atividade econômica dentro dos limites ecológicos, sem ultrapassagem das fronteiras da natureza, respeitando, prioritariamente, a capacidade de suporte do planeta.
É por isso que se faz urgente buscar um novo tipo de economia pautada na premissa do equilíbrio ecológico com justiça social. Ademais, o que tanto precisamos é colocar a vida e a humanidade no centro e a economia a seu serviço.
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