16/01/2015

Por uma economia a serviço da vida



Marcus Eduardo de Oliveira




As causas fundamentais da deterioração ambiental estão no tipo de crescimento econômico que se pratica atualmente, explorador de recursos da natureza, dilapidador das bases ecológicas e altamente poluidor e produtor de dejetos.

Pelo modo excessivo com que as principais economias do mundo colocam a atividade econômica para agir, desequilibram-se as relações com o meio ambiente e, em face do crescimento físico da capacidade produtiva que não é estendido a todos, cria-se um nível de desigualdade insuportável, afastando-se da prática da justiça social (a reta relação entre as pessoas e as instituições).


Se a intenção do atual modelo econômico praticado pelas mais avançadas e desenvolvidas economias é a de levar progresso a todos, chegou a hora de rever esse procedimento, pois, simplesmente, não há a menor possibilidade, muito menos a mínima condição necessária para se promover um progresso ilimitado, uma vez que se percebe o rompimento da capacidade de suporte do planeta.


Não há matéria, recursos e energia disponíveis, de forma ampla e ilimitada, para fazer frente à produção em excesso. É necessário não perder de vista, nesse pormenor, que os recursos naturais são, essencialmente, um conjunto de matéria e energia de qualidade atuando (entrando) no processo econômico.


Na saída desse “cano econômico”, usando as palavras de Clóvis Cavalcanti, “sobra resíduo, poluição, calor e matéria dissipada. Do ponto de vista físico, o processo econômico não cria matéria e energia”.


A questão ecológica mais preocupante, com relação a esse ponto específico, está justamente no impacto dessa ação (a retirada de recursos naturais e a “entrega” de resíduos pós-produção à natureza) gerada pela atividade econômica.


Esse resíduo gerado deteriora o ambiente de várias maneiras: quimicamente, como no caso do mercúrio ou da chuva ácida; nuclearmente, como o lixo radioativo; ou fisicamente, como a acumulação de CO2 na atmosfera.


Razão pela qual o crescimento econômico – pelas bases da expansão da capacidade produtiva – entendido como condição para satisfazer as necessidades humanas, precisa urgentemente ser repensado, até mesmo porque o crescimento, per si, não atende em linhas gerais aos desejos ilimitados das pessoas, e, muito menos, com isso, coloca a economia a serviço da vida.


Por oportuno, cabe destacar que a economia, em sua característica social, tem tudo a ver com o modo como as pessoas vivem; com o bem-estar que as políticas econômicas podem ou não proporcionar a cada um de nós.


Não obstante, temos configurado aqui um fato: quando o consumo material excede o nível necessário, o bem-estar das populações consequentemente declina. Dessa forma, explica-se assim a necessidade ímpar de se criar uma nova economia, um novo modelo econômico projetado para a Terra, e não para o mercado; um modelo econômico que, definitivamente, coloque a economia a serviço da vida.


Um modelo novo de fazer economia que, para ser verdadeiramente sustentável na acepção do termo, necessariamente precisará respeitar os princípios ecológicos e os serviços ecossistêmicos, pois só há e haverá bem-estar possível e duradouro para o conjunto da sociedade se as mínimas condições de vida forem, soberanamente, respeitadas.


Para alcançar com eficiência um novo estágio de modelo de economia é imprescindível mudar o modus operandi do próprio sistema econômico. Entretanto, para se chegar a esse novo modo de conceber uma economia pautada na racionalidade ambiental (e não na mercadológica), visando, prioritariamente, salvaguardar o meio ambiente da forma agressiva com que o capitalismo de mercado se coloca para efetuar o ato de produzir, ao menos três parâmetros-chave tem de ser gestados: 1) desenvolver uma consciência ecológica coletiva a partir do diálogo intermitente entre as ciências econômicas e as ciências naturais, notadamente a ecologia; 2) desenvolver uma economia de baixo carbono, gestada, gerida e “conduzida” por uma macroeconomia ecológica que viabilize os princípios ambientais e, 3) promover os empregos verdes concebidos com a marca da sustentabilidade e do equilíbrio ecossistêmico.


Na organização da vida econômica, esses três parâmetros-chave podem ser laconicamente reescritos da seguinte maneira: i) mudar a lógica e o raciocínio econômico-social; ii) reestruturar e refundar especificamente o modelo econômico; iii) encaixar a atividade econômica dentro dos limites ecológicos, sem ultrapassagem das fronteiras da natureza, respeitando, prioritariamente, a capacidade de suporte do planeta.


É por isso que se faz urgente buscar um novo tipo de economia pautada na premissa do equilíbrio ecológico com justiça social. Ademais, o que tanto precisamos é colocar a vida e a humanidade no centro e a economia a seu serviço.


Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com pós-graduação em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br.


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