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‘Todos têm a oportunidade singular de rever o caminho
percorrido nos últimos 365 dias’.
O Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano novo, sublinha que é urgente recuperar a consciência de que “nossa vocação comum é colaborar com Deus e com todas as pessoas de boa vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo”. É hora de reconhecer e assumir comportamentos que sejam dignos de nossa condição humana e cidadã. O ano de 2014, já passado, registrado nas páginas da história, pode ser, embora com as lamentações inevitáveis do que nele aconteceu, uma oportunidade de ouro para que a sociedade brasileira renasça das cinzas, como uma fênix. Muitas cinzas foram produzidas e deixaram desolações abomináveis. Cenários de corrupção se multiplicaram, em razão da perda do sentido autêntico do dom da vida e do segredo da simplicidade como remédio para a ganância.
Como consequência, cresceu a globalização da indiferença e aumentou o medo que empurra, na sua força paralisante, para o cuidado egoísta de si, dos seus e das suas coisas. Permanecem esquecidos os pobres, uma vergonha nacional, que nem um tratamento compensatório pode encobrir e deixar de incomodar governantes, religiosos, cidadãos e construtores da sociedade pluralista. A busca pela paz requer, no Brasil e no mundo, a sensibilidade e o empenho de cada cidadão para que prevaleçam novas posturas. Sem essa novidade, entre outras ameaças, corre-se o risco de uma irreversível deterioração do nosso tecido cultural, que tem tudo para ser construtivo e igualitário. Uma cultura edificada com a colaboração de personagens históricos, tempos e etapas, privilegiada em sua natureza, que sempre oferece indicações sobre o caminho certo a ser seguido e a conduta cidadã a ser adotada.
É urgente o despertar de uma consciência nacional que faz cada pessoa assumir a tarefa e a missão der ser promotor da paz. Não basta um grupo, um segmento, uma confissão religiosa, alguns projetos. Trata-se de um dever de todos. Esse despertar não é um simples hino, nem uma manifestação passageira. Não basta um protesto, nem mesmo as investigações indispensáveis e as inadiáveis punições. É preciso reconhecer com simplicidade de aprendiz os muitos sinais de morte que transformam, aceleradamente, o tecido de nossa cultura em violência, dependência química e em outros males. Gradativamente, são perdidos os sentidos da fraternidade e da concórdia.
Lançar o olhar sobre a realidade e tratá-la adequadamente deve ser prioridade para evitar o comprometimento dos projetos que impulsionam na direção do bem. O Papa Francisco, na sua mensagem pela paz, adverte que “há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os olhos”. Pois é hora de abri-los bem. Caso contrário, a mediocridade vai empurrar a sociedade para um estado gravíssimo de escravidão, amenizado pelos luxos sem sentido, pelas esnobações de todo tipo e pelo atraso que faz crescer o abismo entre ricos e pobres. A alegria, o bem e a beleza podem ajudar na reconstrução da sociedade.
O ano começou com a posse de governantes e parlamentares. Se esta virada pela promoção da paz começar com eles – devedores da confiança da representatividade que os obriga a servir o povo – e incluir os mais diversos segmentos, todos ancorados na convicção de que bom é ser honesto, será dado o salto esperado na sociedade brasileira. Todos têm o dever de se reconhecerem e de agirem como promotores da paz.
Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB – Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas.
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