03/05/2015

Inverter posições


Não se pode fechar os olhos para o fato de que os humanos têm influenciado os sistemas ecológicos.





Por Marcus Eduardo de Oliveira*


Os impactos do processo econômico (produção, consumo, descarte) no seio da natureza, degradando-a em duas frentes, na extração de recursos naturais (entrada) e na absorção de dejetos (saída), sempre foi um tema completamente alheio, tratado com verdadeiro menoscabo pelo pensamento econômico tradicional que veste a roupagem da escola neoclássica para, em seus postulados, tratar o meio ambiente como mera externalidade.


Dentro dessa moldura teórica apregoada pelos neoclássicos – que em geral orienta a maneira de pensar dos economistas – se encontra uma das mais urgentes necessidades no cerne do pensamento econômico, embora refutada pelos tradicionais: inverter posições.


Faz-se necessário inverter posições tirando a economia do patamar “superior” que sempre se colocou em relação à ecologia, para fazê-la se reconhecer como sendo, tão somente, um subsistema que opera dentro de um sistema maior chamado biosfera.


É pertinente, nesse sentido, ainda que haja dissenso, a afirmação corrente de que sem sistema ecológico não há sistema econômico. Logo, a economia (atividade de produção) somente “funciona” a partir do uso da natureza, no que toca ao fornecimento de matéria e energia que essa faz à engrenagem econômica.


De igual modo, porém, dito de outra forma, pode haver natureza sem a presença da economia, mas jamais haverá economia sem a presença da natureza. Consoante a isso, diz Clóvis Cavalcanti que “não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia)”.


Por sua vez, Berry Commoner (1917-2012), ecologista estadunidense, contextualizou dizendo que “sem recuperar o meio ambiente, não se salva a economia”.


Ainda nessa seara, é oportuno destacar que é a natureza que oferece e assegura ao sistema econômico a base e o suporte necessários para que ocorra a atividade econômica produtiva.


Assim, sem o uso feito pela economia dos chamados serviços ecossistêmicos – ilustrado a seguir, a partir da representação esquemática selecionada pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) -, não há atividade de produção.


Nessa linha de análise, cumpre destacar que os bens e serviços naturais são utilizados pelo homem, no intuito da produção econômica, basicamente de três formas, como indicam estudos diversos sobre a noção central de sustentabilidade: 1) Consumo direto de serviços ambientais, como ar, água, solo e outros; 2) Extração de insumos, usados como matéria-prima para a produção de alimentos, vestuário, habitação, medicamentos, máquinas e equipamentos, energia etc; 3) Depósito de resíduos, da produção e do consumo, quer seja sob a forma líquida, gasosa ou energética.


Nesse pormenor, é fundamentalmente importante compreender que é a ecologia que determina, sobremaneira, os rumos da economia, não o contrário. Essa determinação é encetada a partir da disponibilidade dos recursos naturais, uma vez que, diante disso, tem-se um conflito de interesses, tendo em conta que, de um lado, pela escassez, a natureza limita o fornecimento de recursos; do outro, pelo desejo em atender a sociedade de consumo, a economia requer produções em níveis elevados.


Não há, contudo, nenhum fundamento plausível para se acreditar e acatar o pensamento tradicional corrente que responde pela mais extremada confiança de que a tecnologia, cedo ou tarde, dará conta dessas carências ecológicas.


Dito isso de outro modo: que suprirá então os limites da natureza no que toca a ofertar recursos em quantidade suficiente para “satisfazer” o processo produtivo, enfatizado na incessante busca pelo crescimento econômico (aumento físico da economia), tornado erroneamente sinônimo de bem-estar, a partir da disposição de mais bens e serviços no mercado de consumo.


Tão importante quanto isso é frisar enfaticamente que todo e qualquer consumo de recursos naturais, feito de forma exagerada, portanto, sem limites, sendo, pois, superior a capacidade de regeneração natural, tem apenas um caminho: sua extinção.


Por se sobrepor à natureza, a economia sempre fez uso desregrado (ultrapassando os limites) dos recursos e serviços ecossistêmicos, o que resultou, a partir da Revolução Industrial, mas com mais ênfase nos últimos 60 anos, numa aceleração sem precedentes do uso das bases da natureza, o que ocasionou sua desfiguração em várias frentes conforme aventamos no início deste artigo.


Esse fato – o uso de recursos naturais além dos limites ecológicos – encerra em si uma importante ponderação: não se pode fechar os olhos para o argumento central de que os humanos, via sistema econômico, têm influenciado (e modificado) os sistemas ecológicos.

Decorre disso outra urgente necessidade: buscar o equilíbrio da natureza em sua relação com a economia, a partir da prática da sustentabilidade sistêmica, chamada de Triple Bottom Line, envolvendo três dimensões: econômica, social e ambiental.


Essa ideia central – do equilíbrio, a partir da conquista da sustentabilidade – ganha maior relevância quando se pensa que a sobrevivência de cada ser vivo depende inexoravelmente do equilíbrio da natureza.


E, quanto a isto, estejamos certos que não há nada de mais valioso do que defender a vida em toda a sua plenitude.



Eco Desenvolvimento

*Marcus Eduardo de Oliveira – Economista e professor de economia da FAC-Fito e do Unifieo (São Paulo). Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP).

 



http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=12987

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