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Quantas vezes a vida me dará paisagem tão bela? Imagino que muitas.
Meio da manhã. Estou com os olhos encostados na janela de um vagão do trem Vitória-Minas, indo de Belo Horizonte para João Monlevade. A paisagem é bonita até que surge um imenso vale devastado pela mineração, “presente” da Vale que assim como a Gerdau e outras predadoras mineradoras vem sangrando e destruindo as lindas montanhas de Minas sem que nada se possa fazer. Está tudo dominado. Posso imaginar onde isso vai chegar.
Agora é noite. Atravesso com tensão elevada uma estrada do Sul da Colômbia com alguns companheiros que comigo trabalham num documentário sobre a guerra que acontece naquele país há muitos anos sem que a mídia mundial se dê conta. Estamos numa picape em mau estado sendo levados por um motorista armado a um destino de conexão num território dominado pela guerrilha das Farc. A paisagem em volta é lúgubre e cheira a lenha queimada mas a gente não se dá conta do quanto é bela. Estamos com um certo medo de morrer. Imaginem.
Agora a janela é mais ampla e amanhece. Eu e outra equipe querida estamos a realizar um documentário sobre o Pantanal e atravessamos um braço do rio Cuiabá quando alguém lembra que Deus de fato existe por nos dar um dia que começa assim tão lindo. Da janela do amplo refeitório que cheira a peixe penso comigo: quantas vezes a vida me dará paisagem tão bela? Imagino que muitas.
Por fim desperto agora desse pequeno transe de paisagens enquanto escrevo e olho à minha esquerda a janela semi-aberta do meu escritório. A poucos passos de mim uma enorme aroeira, talvez da minha cinquentona idade, debruça seus galhos em minha direção e a alguns deuses miúdos das pequenas plantas que estão sob os seus galhos. Aí penso que estou, de novo, a olhar uma paisagem pela janela. Esta é estática. E os meus sonhos móveis me colocam de novo em movimento certo de que ainda devo enxergar e imaginar muitas novas paisagens.
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