12/06/2015

FAO: Papa falou aos participantes de Conferência




Cidade do Vaticano, 12 jun (RV/SIR) – O problema da fome e como derrotá-la estiveram no centro do discurso que o Papa fez na manhã desta quinta-feira (11/06), ao receber cerca de 450 participantes da 39a Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que está a decorrer em Roma até o dia 13 de junho.


No seu discurso, o Papa Francisco iniciou por saudar de modo especial o Presidente da FAO, Mamea Ropati, os representantes dos diversos Organismos da ONU presentes ao ato e, sobretudo, o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, reeleito para um novo mandato à frente da instituição no decorrer da Conferência.


“Conservo ainda viva a recordação da minha participação à segunda Conferência Internacional sobre a nutrição (realizada aqui em Roma no passado dia 20 de novembro de 2014) que empenhou os Estados a encontrar soluções e recursos. Faço votos para que aquela decisão não permaneça uma letra morta ou nas intenções que orientaram as negociações, mas prevaleça decididamente o sentido da responsabilidade em procurar responder de forma concreta aos famintos e à todos aqueles esperam do desenvolvimento uma resposta à sua condição”.


Neste sentido, perante a miséria de tantos nossos irmãos e irmãs é quase normal que o argumento da fome e do desenvolvimento agrícola se tenha tornado hoje um dos tantos problemas que afligem este tempo de crise em que vivemos. Vemos por toda a parte aumentar o número daqueles que com muita fadiga conseguem diariamente um pasto regular e são, observou o Santo Padre.


“Entretanto, em vez de agir preferimos delegar, à todos os níveis. E pensamos: há de haver alguém que se vai ocupar disso, quem sabe lá aquele país o então aquele determinado governo, aquela Organização Internacional. A nossa tendência a “desertar” perante temas difíceis é humana. Antes, é uma atitude que muitas vezes amamos privilegiar, mesmo se depois não faltamos à uma reunião, à uma conferência ou à redação de um documento”. Devemos, pelo contrário, observou Francisco, responder ao imperativo segundo o qual o acesso à comida necessária é um direito de todos.


Por isso, salientou ainda Francisco, “não basta fazer o ponto da situação sobre a nutrição no mundo, mesmo se atualizar os dados é necessário, pois que mostra-nos a dura realidade na qual vivemos. Pode certo neste sentido consolar-nos saber que aquele um milhão ou 200 milhões de famintos que havia em 1992 reduziu mesmo com uma população mundial em pleno crescimento”. Serve pouco, porém, disse o Santo Padre, tomar nota dos números ou também projetar uma série de empenhos concretos  e de recomendações à serem aplicadas às políticas e aos investimentos, se transcuramos, deixamos de lado, a obrigação de debelar a fome e prevenir qualquer forma de má nutrição em todo o mundo.


“O acesso ao alimento necessário é um direito de todos e os direitos não permitem exclusões”, afirmou o Papa, recordando que o combate à fome não se faz somente através de estratégias e planejamentos, mas é ação e um imperativo que não se pode delegar a terceiros.


“Ás vezes a sensação é de que a fome seja um argumento impopular, um problema sem solução, que não encontra soluções no arco de um mandato legislativo ou presidencial e, portanto, não garante consensos. Falta vontade de assumir compromissos vinculantes”, advertiu o Papa, que criticou também a disparidade de situação entre o Sul e o Norte do mundo. No Sul, debate-se ainda sobre a quantidade de alimentos, enquanto o Norte preocupa-se com a qualidade.


O Pontífice declara-se preocupado com as estatísticas sobre o desperdício, pois um 1/3 dos alimentos produzidos acaba no lixo. Os produtos da terra têm um valor que poderíamos dizer “sagrado”, afirmou o Papa, porque é fruto do trabalho quotidiano de pessoas, famílias e comunidades de camponeses. “É preciso então tentar assumir com mais decisão o esforço para modificar os estilos de vida. A sobriedade não se opõe ao desenvolvimento, pelo contrário, é evidente que se tornou a sua condição.”


Outro motivo de preocupação para Francisco são as mudanças climáticas, que levam ao deslocamento forçado de populações e a tantos dramas humanitários por falta de recursos. Um desses recursos é a água, que já se tornou causa de conflitos. “Não basta afirmar que existe um direito à água sem agir para tornar sustentável o consumo deste bem e eliminar todo desperdício.”


Além da água, o Pontífice apontou para a posse das terras cultiváveis, que estão sempre mais destinadas a empresas transnacionais. Para ele, esta política não só priva os agricultores de um bem essencial, mas ameaça diretamente a soberania dos países.


“São muitas as regiões em que os alimentos produzidos vão para o exterior e a população local se empobrece duplamente porque não tem nem alimentos nem terra. E que dizer das mulheres que em muitas regiões não podem possuir os terrenos que cultivam, com uma disparidade de direitos?” E sabemos que no mundo a produção mundial de alimentos é, em grande parte, obra de empresas familiares”, disse o Papa, pedindo para que a FAO reforce os projetos em favor das famílias.


Nestes esforços da FAO, Francisco garantiu o suporte da Igreja e de suas instituições e concluiu: “Devemos começar pela nossa cotidianidade se quisermos mudar os estilos de vida, conscientes de que os nossos pequenos gestos podem garantir a sustentabilidade e o futuro da família humana. E depois continuemos a luta à fome sem segundos fins! As projeções da FAO dizem que até 2050, com nove bilhões de habitantes no planeta, a produção deve aumentar e até mesmo duplicar. Ao invés de nos impressionarmos diante dos dados, modifiquemos a nossa relação com os recursos naturais, com o uso dos terrenos, os consumos, sem cair na escravidão do consumismo, eliminando o desperdício: assim derrotaremos a fome.”



SIR


http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=15289

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