21/08/2015

Desafio da fé autêntica


Papa Francisco insiste, de modo carinhoso e firme, sobre a necessidade da Igreja viver ’em saída’.





Por Dom José Alberto Moura


Muitos iam atrás de Jesus para buscar dele alguma cura ou solução de problemas. De fato, Jesus mostrou seu poder divino também através de muitos milagres. Mas a um certo ponto Ele testou a fé das pessoas, dizendo que daria sua carne para elas comerem e que ninguém pode se salvar se não através da ação do Pai. Muitos não O seguiram mais (Cf. João 6,56.65-69). Ele perguntou aos apóstolos se também eles não queriam abandoná-lo. Pedro logo reconheceu que somente Jesus pode dar a vida eterna.


Hoje é comum alguns quererem a modificação de verdades e exigências da Igreja, dizendo que vão abandoná-la se ela não fizer seus desejos. Mesmo certas normas disciplinares têm razão de ser para um bom encaminhamento litúrgico e pastoral. Alguns querem seguir opiniões de certos personagens, que usam da mídia até religiosa, com orientações que contrariam a renovação litúrgica trazida pelo Concílio Vaticano II. Tais pessoas se colocam como superioras à autoridade da Igreja, e mesmo a contrariam.


Sem a devida preparação e compromisso com a comunidade, os sacramentos ficam sem o efeito para o qual são recebidos. Fazer cerimônia só por ostentação social fica aquém da fé. Há a desculpa de que o Papa “abriu as portas da Igreja” para todos, mas não se pode aceitar qualquer coisa como válida. Uma coisa é acolher. Outra é ferir a natureza do sacramento, inclusive do matrimônio instituído por Jesus.


Na abertura do Concílio Vaticano II o Papa S. João XXIII lembrou as palavras de S. Paulo: “Cristo amou a Igreja… Ele quis apresentá-la a si mesmo esplêndida, sem mancha nem ruga, nem defeito algum, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5,25.27). A Igreja é santa pela santidade de Cristo. Mas é pecadora pelo seres humanos que a constituem. Por isso, é necessário haver sempre a purificação com a conversão diuturna de seus membros. Então se torna indispensável todos a ajudarem a exercer sua missão, com contínua mudança. Alguns querem a Igreja pronta e não se sentem membros dela, ajudando-a a exercer melhor sua missão. Dizem-se membros, mas, na prática não o demonstram porque não dão sua contribuição para ela ser mais eficaz no que realiza. Felizmente temos muita gente de fé, que sabe distinguir o erro de alguns com a ação da maioria que realmente “veste a camisa” de Cristo e sua Igreja. Quem é beneficiado com os dons recebidos através da Igreja, e depois a apedrejam, estão apedrejando o próprio Jesus.


O Papa Francisco insiste, de modo carinhoso e firme, sobre a necessidade da Igreja viver “em saída”, isto é, em verdadeira missão. Deve-se sair de uma pastoral de manutenção ou eminentemente sacramentalizadora para uma pastoral missionária, indo-se atrás dos afastados. Isso requer conversão pastoral, valendo para o clero e todos os leigos e leigas. Para isso é preciso ousadia, entusiasmo, convicção e desinstalação. Nosso método não é o do proselitismo ou pressão psicológica e interesseira e sim o do atrativo e do ensinamento (Cf. Evangelii Gaudium 14). As Paróquias devem ser constituídas de comunidades menores, formando verdadeiras redes. Fica mais fácil a participação de todos, bem como a formação na Palavra de Deus, para se sedimentar a fé transformadora. A fé autêntica faz a pessoa não só participar de orações e liturgias, mas viver, praticando e ensinando os valores do Evangelho, na família, na sociedade, no trabalho, na escola, na política e em todas as atividades humanas.



CNBB.

Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).


Desafio da fé autêntica

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