30/08/2015

Não nos agarrarmos a tradições humanas


A leitura proposta neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7,1-8.14-15.21-23.





Por José Antonio Pagola


Não sabemos quando nem onde ocorrerá o confronto. Ao evangelista só lhe interessa evocar a atmosfera em que se move Jesus, rodeado de mestres da lei, observantes escrupulosos das tradições, que resistem cegamente à novidade que o Profeta do amor quer introduzir nas suas vidas.


Os fariseus observam indignados que os seus discípulos comem com as mãos impuras. Não o podem tolerar: “Por que é que os Teus discípulos não seguem as tradições dos mais velhos?”. Apesar de falarem dos discípulos, o ataque é dirigido a Jesus. Têm razão. É Jesus quem está a romper essa obediência cega às tradições ao criar à sua volta um “espaço de liberdade” onde o decisivo é o amor.


Aquele grupo de mestres religiosos não entendeu nada do reino de Deus que Jesus lhes está a anunciar. Nos seus corações não reina Deus. Continuam a reinar a lei, as normas, os usos e os costumes marcados pelas tradições. Para eles o importante é observar o estabelecido pelos “mais velhos”. Não pensam no bem das pessoas. Não os preocupa “procurar o reino de Deus e da Sua justiça”.


O erro é grave. Por isso, Jesus responde-lhes com palavras duras: “Vós deixais de lado o mandamento de Deus para agarrarem-se à tradição dos homens”.


Os doutores falam com veneração da “tradição dos mais velhos” e atribui-lhes autoridade divina. Mas Jesus qualifica-a de “tradição humana”. Não há que confundir jamais a vontade de Deus com o que é fruto dos homens.


Seria também hoje um grave erro que a Igreja ficasse prisioneira de tradições humanas dos nossos antepassados, quando tudo nos está a chamar a uma conversão profunda a Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor. O que nos deve preocupar não é conservar intacto o passado, mas fazer o possível para o nascimento de uma Igreja e de comunidades cristãs capazes de reproduzir com fidelidade o Evangelho e de atualizar o projeto do reino de Deus na sociedade contemporânea.


A nossa responsabilidade primeira não é repetir o passado, mas fazer o possível nos nossos dias para acolher Jesus Cristo, sem ocultá-lo nem obscurecê-lo com tradições humanas, por muito veneráveis que nos possam parecer.



Instituto Humanitas Unisinos


Não nos agarrarmos a tradições humanas

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