22/09/2015

Dólar supera máxima histórica e atinge R$ 4,05

A demora do governo em apresentar fatos concretos que diminuam a ansiedade com o rumo do quadro fiscal ampliou o tom negativo dos mercados e jogou a cotação do dólar para cima dos R$ 4,00. A cotação superou a máxima história dos R$ 4,005, atingida em outubro de 2002, sem que o mercado identifique uma pressão de saída de recursos, mas a busca por posições mais seguras.


O medo do mercado no curto prazo é de que o Brasil volte a ser rebaixado por uma segunda agência. E, em um horizonte mais longo, que não consiga viabilizar ações que gerem um superávit primário no ano que vem. Um novo rombo nas contas, dizem especialistas, vai tornar mais distante e custosa – com pressão sobre o PIB e a inflação – a saída desse quadro.


Essas preocupações afetam também os juros futuros, que operaram acima do preocupante patamar de 16% ao ano nos prazos mais longos.


Hoje, o mercado reagiu diretamente à demora do governo em encaminhar a proposta da CPMF ao governo e à expectativa pela votação dos vetos às chamadas “pautas-bomba” – evento que o presidente do Senado, Renan Calheiros, tenta adiar, tendo em vista a perspectiva de derrota do governo. Se os vetos presidenciais às medidas forem realmente derrubados, o nível de estresse nos mercados deve subir sensivelmente.


O ambiente externo, tenso por causa das incertezas sobre as condições econômicas globais e da política monetária americana, dá ainda mais munição ao nervosismo. E é a principal razão para a queda do Ibovespa nesta manhã.


Em meio a esse quadro, o mercado ouviu também declarações do vice-presidente da Moody’s, Mauro Leos, em evento em Nova York. Ele disse que o Brasil tem mostrado clara fraqueza econômica, mas ainda está em melhor forma do que países que perderam recentemente o grau de investimento. Essas afirmações não geraram qualquer reação do mercado, que também acompanha atentamente a presença de técnicos da Fitch em Brasília hoje.


Câmbio


O dólar rompeu a barreira dos R$ 4,00 logo no início do dia e atingiu, assim, o maior patamar intradia desde a flutuação do câmbio. Ao longo da sessão, renovou as máximas e, no pior momento do dia, alcançou R$ 4,0605. Mesmo com esse movimento, o Banco Central permaneceu distante do mercado, sem atuar ou mesmo fazer declarações a respeito.


Às 14h14, o dólar era negociado a R$ 4,0562, em alta de 1,92%. Na máxima, a moeda alcançou R$ 4,0605. Até aqui, a máxima intradia do dólar era R$ 4,005, atingida no dia 10 de outubro de 2002. Já o dólar futuro para outubro subia 1,65% para R$ 4,066.


Além das questões domésticas, o câmbio sofre pressão do ambiente externo nesta manhã, onde as moedas de outros países emergentes também operam em queda firme em relação ao dólar. A preocupação com o quadro econômico global e as incertezas sobre qual deve ser o rumo da política monetária americana no curto prazo geram uma onda de desvalorização tanto de commodities como de moedas de países que produzem e exportam essas matérias-primas.


Juros


O mercado de juros acelerou a alta nesta manhã seguindo o movimento do câmbio. Além da preocupação com o rumo da política fiscal, ganha peso nos negócios a percepção de que a inflação pode voltar a subir e, talvez, romper o teto da meta no ano que vem. Com o cenário fiscal desequilibrado, o espaço para o Banco Central agir fica reduzido.


Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz, o Banco Central está diante de uma encruzilhada em termos de condução da política monetária. “O Banco Central está nas mãos do governo e da solução fiscal”, afirma.


Ela explica que, com as projeções de inflação para o ano que vem ameaçando romper o teto da meta, a manutenção do discurso atual do Banco Central de “parcimônia” e “sangue-frio” pode chancelar essa piora do cenário traçado pelos economistas. “Afinal, o dólar não para de subir e a inflação corre o risco de ficar acima da meta em 2016”, diz. Por outro lado, um aumento de juros sem que o quadro fiscal esteja sob controle não será visto como suficiente.


Para fazer frente à pressão sobre os juros, o Tesouro fez hoje operação de compra e venda de NTN-Bs. O Tesouro vendeu 321.050 títulos distribuídos entre quatro vencimentos e, na mesma operação, recomprou 161.500 unidades de três vencimentos.


Na BM&F, DI janeiro/2021 era negociado a 16,10%, de 15,90% ontem, e DI janeiro/2017 tinha taxa de 15,77%, ante 15,62%.


Bolsa


O Ibovespa opera em forte queda nesta terça-feira. E o mercado passou toda a manhã sem saber exatamente a dimensão da perda. A BM&FBovespa apresenta problemas no cálculo do Ibovespa entre 10h30 e 12h30. As ações tiveram registros normais nesse período.


Por volta das 14h10, o índice mostrava queda de 2,46%, aos 45.443 pontos. A BM&FBovespa ainda não informou qual foi a causa dos problemas no cálculo do índice.


As maiores quedas do dia são de Smiles (-13,94%), ações de educação e de commodities. Kroton recua 10,72% e Estácio perde 5,15%.


O UBS cortou a recomendação para Smiles, para venda. Kroton e Estácio caem com a notícia divulgada pela coluna Radar Online, da revista Veja, de que o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), do governo federal, deve ser alvo em breve de uma CPI.


Entre os destaques de perda também estão CSN ON (-8,65%), Usiminas PNA (-6,57%), Petrobras PN (-5,47%), Gerdau Metalúrgica PN (-4,14%), Vale ON (-3,91%) e Vale PNA (-4,33%).


As empresas de commodities sofrem com o cenário externo. Na Europa, os índices despencam com o desempenho negativo de mineradoras e montadoras. O minério de ferro em Qingdao caiu 1,9% hoje e os futuros do petróleo também recuam: Brent cai 2,09% e o WTI perde 2,99%.


Do outro lado, a alta do dólar deixa papéis que ganham com a moeda americana em alta, ou com perda menor. Fibria ON sobe 2,49% e Suzano PNA ganha 1,22%.


Além dos problemas na Europa, os mercados sofrem com sinalizações de integrantes do Federal Reserve (Fed) de que os juros nos EUA pode subir este ano.


“O fluxo hoje é todo de capital internacional”, diz o analista da Clear Corretora Raphael Figueredo. Ainda de acordo com ele, o Ibovespa não tem compra, mas encontra dificuldades de renovar mínimas em função das cotações das commodities, que chegam a um determinado nível de baixa e logo são compradas.


O dólar a R$ 4,00 também funciona como um colchão para o índice. “Chega em determinado momento que a bolsa vira uma pechincha. No nível em que está, o dólar favorece essas compras, ainda que seja sem muita força para jogar o índice para o campo positivo”, diz Figueredo.


Uol Economia



Dólar supera máxima histórica e atinge R$ 4,05

Um comentário :

  1. http://jornalggn.com.br/noticia/a-miopia-na-analise-dos-recordes-do-dolar#.VgKSZQEmWIM.facebook Leitura interessante, por Luis Nassif A miopia na análise dos recordes do dólar

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