01/04/2016

Redes sociais representam um fôlego a mais para as mentiras

Boatos têm maior potencial de divulgação nas redes sociais. A facilidade de manipular imagens e a ingenuidade de inexperientes contribuem


Começa como a brincadeira de telefone sem-fio. Um diz daqui, o outro compartilha acolá e quando se viu a notícia já está no meio do mundo. Em tempos de redes sociais, a maneira como os boatos se espalham foi modificada. Não é apenas em conversa no pé da calçada. Hoje é muito mais fácil fazer circular uma informação falsa com a ajuda de aplicativos como o WhatsApp, por exemplo. A mentira renovou suas ferramentas.


Em Fortaleza, a divulgação de falsas ações criminosas, em especial por esse aplicativo de mensagens, levou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) a orientar a população a não compartilhar boatos. O caso ocorreu em novembro de 2015, logo após a Chacina do Curió, que deixou 11 pessoas mortas a tiros e outras sete feridas.


O secretário-adjunto da SSPDS, coronel Lauro Prado, classificou como “clima de terror” o efeito produzido pelas informações mentirosas. À época, O POVO fez levantamento dos casos que circulavam nas redes sociais. Das 14 situações de violência relatadas, apenas duas tiveram confirmação.


Para Mariana Ruggeri, pesquisadora de mídias digitais e membro do Conselho de Leitores do O POVO, a criação de relatos mentirosos não é novidade, mas foi modificada pelas redes sociais. O alcance, segundo ela, foi ampliado. “Quando você publica alguma coisa em sua timeline, seja verdade ou mentira, seu potencial de alcance é de mais de 200 pessoas. Se fosse em 1970, você precisaria fazer mais de 200 ligações telefônicas para ter o mesmo resultado”, compara.


Também ficou mais fácil editar fotos e inserir elementos em imagens, manipulando informações, Ruggeri lembra. Isso tudo vinculado a uma “rede de ingênuos” acaba provocando a divulgação das mentiras.


“Existem pessoas que ainda não têm muita habilidade com a rede. Com a inexperiência, muita gente compartilha informações ingenuamente, sem saber dos riscos que estão associados a isso”, comenta.


Conforme João Ilo Coelho Barbosa, estudioso da psicologia comportamental, a possibilidade de anonimato provocada pelo computador pode facilitar a criação desses boatos. Para ele, os criadores desses boatos se ancoram em alguns ganhos, como ver a notícia falsa sendo replicada. “Depende também da função que a mentira tem para essa pessoa. Ver a mentira dele ser repassada pode funcionar como uma espécie de reconhecimento”, analisa.


Desconfiar


Para o delegado Ricardo Romagnoli, titular do 2º Distrito Policial, a orientação é desconfiar e não compartilhar essas informações sem que tenha certeza de que, de fato, são verídicas. Ele diz que, em geral, os boatos sobre crimes tem um formato similar: as mensagens não contêm dados precisos sobre a ocorrência, como horário e local exatos do fato, e tratam-se de ocorrências já registradas em outros períodos.


“Quando o usuário se deparar com mensagens do tipo, a orientação é fazer uma busca rápida na Internet para ver se a informação já foi referendada pela imprensa, se existem outros relatos sobre isso”, orienta.


Saiba mais
Compartilhar boato na Internet é crime previsto no Código Penal Brasileiro, no artigo 340, sobre comunicação falsa de crime ou de contravenção.


O tópico diz: provocar ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado.


A pena prevista é detenção, de um a seis meses, ou multa.


A divulgação de falsos crimes pelas redes sociais também provocou clima de terror na Cidade, no começo de 2012, durante a greve da Polícia Militar.


Pelo Facebook e Twitter, circulou uma série de boatos relatando arrastões em comércios e ônibus.


O Povo



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