13/09/2016

“A força débil da oração que em 1986 uniu o mundo lacerado"

Rádio Vaticana



Este ano ocorre o 30º aniversário do encontro inter-religioso de oração pela Paz, realizada em Assis, a 27 de Outubro de 1986, por iniciativa do Papa João Paulo II.


No contexto desta efeméride, o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, escreveu um artigo, publicado pelo jornal italiano, Corriere della Sera. O título é: “A força débil da oração que em 1986 uniu o mundo lacerado”.


Esse evento, sem precedentes, “fendeu o muro do pessimismo e da resignação num mundo que estava ainda dividido pela cortina de ferro e onde a guerra, embora fria em muitas situações, era considerada uma companheira inevitável da vida dos homens.


Ao convocar os líderes das grandes religiões do mundo a rezar pela paz, em Assis, João Paulo II assumiu a responsabilidade de abrir uma via em que as religiões se empenhavam, com maior elã e uma nova força, neste grande tema. Aquela histórica jornada e o espírito que dela derivou, falam não só de paz mas também de unidade do género humano. Mas, Assis 1986, embora na sua extraordinária novidade, vinha de longe, escreve o Cardeal Parolin: era o fruto de uma estação de diálogo. Um diálogo que se desenvolveu ao longo de um século, o século XX, cheio de esperanças e ao mesmo tempo cheio de imanes sofrimentos. Naquele terrível século em que – segundo cálculos recentes – houve 180 milhões de mortos devido a guerras – algo aproximou os crentes. Na segunda metade do século, gente de religião diferente entrou em diálogo e se encontrou como nunca tinha acontecido na História.


E Assis 1986 foi uma oração sem misturas sincréticas, mas sim respeitosa das diversidades – continua o Cardeal Parolin recordando as palavras de João Paulo II:


Talvez, hoje mais do que nunca na história da humanidade, se tornou evidente aos olhos de todos, a ligação intrínseca entre uma atitude autenticamente religiosa e o grande bem que é a paz… a oração é já de per si acção, mas isto não nos exime das acções ao serviço da paz”.


Nos alicerces de todas as religiões – faz notar o Secretário de Estado – está escrito o valor da paz. É isto que está na base do encontro de Assis e que nos ajuda a ultrapassar as distâncias, por vezes abissos, entre mundo diferentes.


O Cardeal Parolin chama a atenção depois para os desafios de hoje em que a convivência tanto a nível real como virtual se tornou uma realidade para muitos povos, religiões, grupos. E isto não é fácil. É uma convivência com muitas diferenças, horizontes muito amplos como são os da mundialização. Tudo isto leva a fenómeno preocupantes como os individualismos irresponsáveis, tribalismos defensivos, novos fundamentalismos, terrorismo…


Assis 1986 abriu o caminho para que cada religião ponha de lado toda e qualquer tentação fundamentalista e entre num espaço de diálogo que é a arte paciente de ouvir o outro, compreender o seu perfil humano e espiritual.


Do seio das tradições religiosas, capazes de diálogo, emerge a arte de conviver tão necessária para uma sociedade plural com a nossa. É arte de maturidade das culturas, das personalidades, dos grupos. É um empenho constante para a paz a nível local e global.


As religiões – são ainda palavras do Cardeal Parolin – não têm a força política para  impor a paz, mas transformando interiormente o homem, convidando-o a afastar-se do mal, guiam-no em direcção a uma atitude de paz do coração. A religião tem uma energia de paz, que deve libertar e manifestar. Cada religião tem o seu caminho, mas todas têm uma responsabilidade decisiva na convivência: o  diálogo entre elas tece uma trama pacífica, afasta as tentações de lacerar o tecido civil, de instrumentalizar as diferenças religiosas para fins políticos. Mas isto requer audácia e fé da parte dos homens e mulheres de religião. Requer coragem para abater com a força moral, com a piedade, o dialogo, os tantos muros de separação que se elevam no mundo.


(DA)


(from Vatican Radio)



“A força débil da oração que em 1986 uniu o mundo lacerado"

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