05/09/2016

UM POVO SANTO: IRMÃ AGOSTINHA VIEIRA DE MELO.

Uma monja que fez do mundo a sua clausura e da vida do seu povo seu canto.


A caminhada do cuidado, da formação e da poesia litúrgicas no Brasil, ficou mais triste esta semana. No primeiro dia do mês de Setembro, mês da Bíblia, livro que ela mais amou nesta vida, a nossa querida Irmã Agostinha realizou sua Páscoa definitiva. Chegou a hora de encontrar-se com Aquele que falava ao seu coração: “Este é o barracão de Deus com seu povo. Conosco Deus vem morar”.


E de tanto amar o seu amado, ensinou-nos a cantar esta grandeza. Nós que celebramos e animamos a caminhada litúrgica pelo Brasil a fora, muito aprendemos com a Irmã Agostinha. Todas as vezes que cantamos em nossas celebrações, as composições mistagógicas de sua autoria, refrões e responsos breves nascidos de sua experiência mística com os pobres, entramos novamente neste “barracão” de Deus. Esta mística, virava canto e poesia nas mãos de Agostinha, que aprendeu a celebrar a verdadeira Liturgia, aquela que agrada a Deus e liberta os oprimidos.


Se a Igreja do Brasil fica mais triste, a Igreja da Paraíba lamenta “do fundo do seu penar”, pois foi aqui, sob a proteção de Nossa Senhora das Neves, que as monjas beneditinas Maria Letícia Penido e Agostinha Vieira de Melo resolveram responder ao apelo do Senhor, que lhes chamava a dar um passo mais largo que as portas de suas clausuras. Escolheram deixar seus respectivos mosteiros para viverem no bairro de Mandacarú, João Pessoa – PB, uma experiência de vida monástica inserida no meio dos pobres e ser pobres com eles. Assim nascia, sob a benção de Dom José Maria Pires, a “Fraternidade Deus Conosco”.


E desde então, unidas a todos e todas que queriam fazer o Reino de Deus acontecer na Igreja da Paraíba, através de uma ação evangelizadora consciente e profética, viveram para servir. Primeiramente à sua gente humilde de Mandacarú, e dali, às comunidades de nossa querida Arquidiocese. Mas a Arquidiocese da Paraíba era pequena para Agostinha, por isso, além de firmar o passo da comunhão com todos que no Brasil procuravam entender os apelos suscitados no Concílio Vaticano II, ajudou a parir o Cebi (Centro de Estudos Bíblicos), do qual foi cofundadora e assessora durante anos.



 (Da esquerda para a direita: Jether e Lucilia Ramalho, Irmã Agostinha e Carlos Mesters)


As duas monjas “forasteiras” da Paraíba, como o Cristo pelo caminho de Emaús, ajudaram a abrir os olhos e os corações do nosso povo para a realidade da vida. Tive a graça de conhecer Agostinha e Maria Letícia, de frequentar a casa da Fraternidade e perceber isto de perto, o que foi para mim foi um verdadeiro oásis espiritual. A casa de Mandacaru respirava uma espiritualidade beneditina encarnada, pois naquela bairro, discreta e alegremente, assim como indica São Bento em sua Regra de vida, “honravam todos as pessoas (RB 4)”.


No meu último encontro com Irmã Agostinha, levei-lhe um pequeno vaso com flores e alguns subsídios da Rede Celebra, e fui recebido por ela com o sorriso de sempre nos lábios. Irmã Agostinha já estava muito fragilizada, mas recebeu as flores com um rosto envolto em bondade e me devolveu com um olhar, a gratidão de quem recebia em suas mãos todo o universo. Conversamos um pouco e prometi voltar outra vez e levar comigo o pessoal do núcleo da Celebra para fazer-lhe uma visita. Não deu tempo! O tempo é um mistério que nos escapa.


Tantos amigos agora sentem sua falta, mas com certeza os companheiros do Cebi a sentem de forma mais intensa. No site, o Luis Sartorel, Diretor Adjunto do Cebi, fez uma pequena homenagem com as seguintes palavras:


“Agostinha, o teu sorriso aberto nos transmitia alegria, a tua profecia forte nos dava coragem, a tua poesia nos dava a capacidade de sempre enxergar o lado bonito da vida, a tua presença materna nos fazia sentir em casa e a vontade nos nossos encontros. A tua pessoa foi sempre fonte de esperança e de força.


Presença do sopro da Ruah, defensora dos pobres, sempre, irmã de todos, monja até o fim, com firmeza destemida.


Como a gente diz, quando falece uma pessoa da família: “Um pedaço de mim se foi também”, nós podemos dizer que um pedaço do CEBI se foi, mas temos a certeza que a memória sempre fará presente a sua palavra e o seu espírito. E temos certeza também que você continua presente para todos nós e para o CEBI com a sua oração e com o seu carinho que agora se ampliam na medida do universo.


Muito obrigado, Agostinha, pela sua vida doada, pela sua presença no nosso meio, pelo seu testemunho e pela sua poesia profética.”


A sua jornada neste mundo terminou, e como serva fiel, devolve agora ao Senhor os talentos da vida que Ele lhe presenteou. Temos Fé, que o testemunho de Agostinha e Maria Letícia, que agora cantam os louvores ao Amado face a face, continuará a servir de luz para nós que seguimos em frente, aprendendo a servir aos mais pequeninos, àqueles que estão caídos à beira do caminho da história, e neles o próprio Cristo Jesus. A vida da Irmã Agostinha foi certamente um canto doce de paz, nascido de um coração pobre e aberto, doado à quem quisesse fazer morada nele.


Canta agora, Agostinha, a força do teu Senhor, que nós seguiremos daqui, animados pelos cantos e as poesias que aprendemos contigo, celebrando e cantando desenclaustrada e alegremente o velho refrão:


“Quero cantar tua força, Senhor

Aclamar pela manhã o teu amor”


Fontes:

Oficio Divino das Comunidades, p. 419.

http://www.cebi.org.br/noticias.php?noticiaId=7219

http://www.cebi.org.br/_print.php?type=news&id=4780


UM POVO SANTO: IRMÃ AGOSTINHA VIEIRA DE MELO.

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