Pe. Zezinho, scj
Opera é um teatro todo cantado. Opereta,
um teatro declamado, falado e cantado. Pode haver danças no meio. É mais ou
menos isso! Os detalhes eu deixo para os especialistas em artes cênicas. Missa
é culto católico, com séculos de história, que não depende de lugar para
acontecer, mas, em geral, acontece num templo. Não é nem nunca foi ópera ou
opereta. Quem dela participa não é ator e nem o presidente da assembléia nem os
cantores podem ser sua principal atração.
Mas são! E o são por conta de um fato: a
maioria não estudou ou não respeita as orientações dos especialistas de uma
ciência chamada "liturgia". Liturgia deve ser o que impede que o
altar vire palco, e o lado direito ou esquerdo dele vire coxia! Regula o culto
de maneira que transpareça a catequese e a teologia daquele momento. Na hora em
que o presidente daquele culto, ofuscado pelas luzes e pela fama local ou
nacional, e algum cantor ou cantora deslumbrado com a sua chance de mostrar seu
talento roubam a cena, temos mais uma exibição de opereta, num templo católico.
Gestos, corridinhas, roupas lindas, música que estoura os ouvidos, o padre
onipresente, inserções aqui e ali no script do que tratam como peça de arte,
vinte músicas para uma missa, as canções duram 50 minutos e as palavras da
missa 12 ou 15, o sermão do padre 25... E o povo que não pagou para assistir, é
convidado a deixar sua contribuição no ofertório. Na semana que vem haverá outra
exibição... Isto, nos cultos em que o altar vira palco e o celebrante que
poderia, sim, ser alegre, comunicativo, acolhedor, resolve se o ator principal
com alguns coadjuvantes chamados banda católica.
Nos outros cultos chamados de eucaristia e
tratados como eucaristia a coisa é bem outra! Tem decoro, tem lógica,
obedece-se ao conteúdo e aos textos daquele dia, as canções são verdadeiramente
litúrgicas, os leitores sabem ler e não engasgam, os microfones não estouram,
ninguém toca nem fala para ensurdecer, músicos não entram em competição, nenhum
solista canta demais, cantores apenas lideram o povo, ninguém fica dedilhando
cançõezinhas durante a consagração, como fundo para Jesus que faz o seu debut,
as canções são ensaiadas e escolhidas de acordo com o tema da missa daquele
dia, não se canta na hora da saudação de paz porque ninguém diz bom dia, ou
como vai cantando...Tais coisas só acontecem nas operetas...
Nas missas sérias e com unção ninguém fica
passando à frente ou atrás do altar, ministro não fica mexendo no altar
enquanto o padre prega, padre não exagera nas vestes, não berra, não grita, não
dá show de presença, tudo é feito com muita seriedade e decoro. O padre até se
destaca pela seriedade. Celebra-se, dentro das nuances permitidas, o mesmo ato
teológico com implicações sociais que se celebra no mundo inteiro. Todos
aparecem e ninguém se destaca.
Mas receio ser inútil escrever sobre estas
coisas, porque pouquíssimas bandas e pouquíssimos sacerdotes admitem que isso
acontece com eles...E ai de quem disser que acontece! Mandam consultar o ibope
sobre as novas missas transformadas em operetas, nas quais se privilegia mais
canção do que os textos do dia. Perguntem se, depois daquele "somzão"
e daquelas inserções com exorcismo, oração em línguas e outros adendos não
aumentou a freqüência aos templos! É! Pois é!
Nenhum comentário :
Postar um comentário