O
Papa João XXIII, ao assumir a mais elevada função da Igreja Católica, no dia 28
de outubro de 1958, logo veio com a grande e surpreendente inspiração, que
indelevelmente marcou o Século XX, a de convocar em 1959 o Concílio Vaticano
II. Sua realização se deu de (1962- 1965). Foi um sopro do Espírito Santo de
Deus a penetrar e ecoar, alegremente, no mundo inteiro. Chegou numa hora certa
e oportuna, porque a Igreja precisava, sem dúvida, perceber os sinais dos
tempos, necessitava de uma renovação, de um rejuvenescimento, o
“aggiornamento”, assim chamado pelo o povo italiano. Foi um acontecimento tão
profundo, tão rico e precioso, desejando a Igreja, na feliz iniciativa do
Romano Pontífice, esposa de Cristo, como era chamado, usar de novos meios e
novos métodos – uma nova pedagogia: “O remédio do perdão e da misericórdia e
não o da severidade”, no dizer do Papa.
Na
mensagem aos padres conciliares (20.10.1962), o Papa João XXIII, conhecido como
o Papa da “bondade”, anunciou: “Procuremos apresentar aos homens do nosso
tempo, íntegra e pura, a verdade de Deus de tal maneira que eles a possam compreender...”.
Pense num Papa extraordinário e, ao mesmo tempo, surpreendente: amigo de todos
e com um carinho todo particular para com as crianças, chegando a dizer aos
padres conciliares: “Quando vocês voltarem para casa encontrarão crianças. Dêem
a elas um carinho e digam: este é o carinho do Papa”.
Ele
morreu no dia 3 de junho de 1963, terminada a primeira sessão conciliar. Veio
em seguida o Papa Paulo VI para continuar os trabalhos do “Papa bom”. No seu
discurso de abertura da segunda sessão (29.9.1963), fez questão de reafirmar a
finalidade pastoral do Concílio Vaticano II, com as mesmas palavras de seu
predecessor. Depois de tudo concluído ele disse palavras belíssimas: “Para que
foi celebrado um Concílio? Para despertar, para renovar, para modernizar, para
intensificar, para dilatar a vida da Igreja (...). De fato nós observamos,
felizmente, e disto damos graças a Deus de todo coração, que toda a Igreja está
em fermentação” (Paulo VI, 7.9.1966).
O
Concílio Vaticano II quis acentuar que a Igreja é ação, é acima de tudo obra do
Espírito Santo, com uma energia divina profundamente trabalhada por dentro,
passando de uma Igreja-Instituição, Igreja Sociedade Perfeita, para uma Igreja
Comunidade, inserida no mundo e a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja Poder
para uma Igreja Pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja Autoridade para uma
Igreja Serva, servidora e toda ministerial; de uma Igreja Piramidal para uma
Igreja-Povo; de uma Igreja Pura e sem mancha para uma Igreja Santa e Pecadora,
sempre necessitada de conversão e de reforma; de uma Igreja Cristandade para
uma Igreja Comunhão e Missão, uma Igreja toda missionária.
O
Concílio reafirmou evidentemente que a Igreja é Mãe e deseja com empenho cuidar
da reforma geral da Sagrada Liturgia, a fim de que o povo cristão consiga
perceber com mais segurança e graças abundantes, através do emprego da língua
vernácula, hoje tão útil e indispensável ao povo. Os fiéis são favorecidos com
lugares e ambientes mais amplos, principalmente para as leituras e
admoestações, também em algumas orações e cânticos... (cf. SC, 579). A criatura
humana se abre para Deus e o reconhece como Pai e doador de todos os dons e
benefícios recebidos.
A
liturgia é a fonte da vida da Igreja. É a celebração do sacrifício do Corpo e
do Sangue de Jesus Cristo, no altar, pelo ministério do sacerdote. É ação do
povo e em favor do povo. Daí as iniciativas surgidas, muito a enriquecer a vida
da Igreja. O grande avanço é incontestável, porque de fato, o Concílio Vaticano
II renovou a liturgia da missa, modificando-a no sentido da simplificação e da
participação dos fiéis e de todo povo de Deus.
De
modo que precisamos ter uma visão clara da grandeza e importância do Vaticano
II e, ao mesmo tempo, deixar-nos guiar pelo Espírito do Senhor, para que deste
modo, percebamos os sinais de Deus neste acontecimento muito feliz e no que
dele decorreu até hoje. Que o nosso anseio maior seja o de conhecer sempre mais
a vontade e os sinais de Deus no mundo.
Graças
a Deus tivemos enormes avanços e a Igreja se empenhou fortemente em anunciar
com grande esperança o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo aos homens e
mulheres do nosso tempo, valorizando, as diversidades de dons, talentos e
carismas, e aqui no nosso continente, com expressões, ações e gestos, indo ao
encontro da nossa realidade cultural. Experimentamos e vivenciamos uma grande
riqueza, a partir de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e a
Conferência de Aparecida (2007). Que beleza! Que maravilha!
Temos,
portanto, o grande e o maior desafio, que é acolher nos dias de hoje, o sopro
do Espírito Santo de Deus, que quer de nós todos, uma convivência fraterna em
relação ao mundo, a natureza e a própria humanidade, tendo diante dos nossos
olhos aquele remédio que estava no coração de João XXIII, o remédio do perdão e
da misericórdia.
Pe Geovane
Saraiva, Pároco de Santo Afonso
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