Os primeiros dias de junho nos trazem à memória a despedida do Pedro Yamaguchi Ferreira. No dia 1. de junho de 2010 foi carregado pela correnteza do Rio Negro e no dia 05 de junho foi sepultado em São Paulo. Na dor causada pelo impacto da notícia de sua morte prematura e inesperada, fui tentado a perguntar a Deus por que levava este jovem advogado que fazia um bem imenso aos parentes indígenas de São Gabriel da Cachoeira. Esta tentação cedeu lugar ao sentimento de gratidão, pois não nos cabe perguntar ao Senhor da Vida por que o levou, mas agradecer todo o bem que o Pedro testemunhou e realizou com sua presença alegre, amizade cordial, amor pelos pobres, luta pelos direitos dos encarcerados e dos indígenas.
A mãe Alice, no final da Eucaristia, na catedral da Sé, conseguiu expressar com bastante precisão quem foi o Pedro:
"Ele soube viver tão intensamente que tenho a impressão de que viveu 100 anos em 27". Estive bem perto dele e posso comprovar que ele viveu bem mais que três anos durante os breves três meses que conviveu conosco no coração da Amazônia. O despojamento de uma carreira promissora e de uma vida confortável para defender o direito a justiça dos pobres revelam a generosidade do coração do Pedro e o seu desejo de contribuir para saldar a nossa gigantesca dívida histórica com os Povos Indígenas. O pai Paulo, que acompanhou os soldados a busca do corpo, conta com emoção o gesto deles quando o encontraram. Disseram-lhe: "O seu filho é um herói. Vamos prestar-lhe a homenagem que tributamos a todo soldado que dá a vida no cumprimento de numa missão". Fizeram continência e cantaram o hino nacional no meio do rio.Nestes dias ocorreu-me um pensamento que talvez possa apaziguar o coração e amenizar um pouco a dor da saudade. Quando recordamos uma pessoa querida que partiu, geralmente lembramos dela o rosto sem vida. Devido às circunstâncias, não conseguimos ver o rosto do Pedro morto para que guardássemos a lembrança do Pedro vivo, do seu sorriso permanente, da sua alegria contagiante, do seu humor inteligente e do seu alto astral.
Missa do envio em São Paulo
A fé no Ressuscitado nos atesta que o Pedro mergulhou naquele Mistério de Amor que ele sempre buscou e agora o mantém vivo pelos seculos sem fim. É o segredo do grão de trigo caído na mãe terra-água que morre para viver dando muitos frutos (cf João 12,24).
A fé no Ressuscitado nos atesta que o Pedro mergulhou naquele Mistério de Amor que ele sempre buscou e agora o mantém vivo pelos seculos sem fim. É o segredo do grão de trigo caído na mãe terra-água que morre para viver dando muitos frutos (cf João 12,24).
* Dom Edson Tasquetto Damian, Bispo de S. Gabriel da Cachoeira, AM.
P.S. Sua carta de despedida a parentes e amigos, Pedro Yamaguchi terminou com um poema do amigo Pedro Casaldáliga:
Epílogo Aberto
"Atenho-me ao dito:
A justiça,
apesar da lei e do costume,
apesar do dinheiro e da esmola.
A humildade,
para ser eu mesmo, verdadeiro.
A liberdade
para ser homem.
E a pobreza
para ser livre.
A fé, cristã,
para andar de noite,
e, acima de tudo, para andar de dia.
E, seja como for, irmaos,
eu me atenho ao dito:
a Esperança".
A justiça,
apesar da lei e do costume,
apesar do dinheiro e da esmola.
A humildade,
para ser eu mesmo, verdadeiro.
A liberdade
para ser homem.
E a pobreza
para ser livre.
A fé, cristã,
para andar de noite,
e, acima de tudo, para andar de dia.
E, seja como for, irmaos,
eu me atenho ao dito:
a Esperança".
Pedro Casaldáliga
Fonte: http://paulosuess.blogspot.com.br/
Nenhum comentário :
Postar um comentário