26/07/2012

FÃS CEARENSES DOS BEATLES


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Intenso, contundente, inspirador. Irônico, sensível, provocador. Cantor, compositor, guitarrista. Ator, escritor, artista plástico. Militante, pai, pacifista. John Lennon chegaria aos 70 anos, no próximo dia 9.
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Lennon e os Beatles, no auge do sucesso mundial do grupo: a beatlemania na década de 60 também teve grande impacto em Fortaleza
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Júlio Serra foi guitarrista dos Belgas, que assim como Os Faraós tocava Beatles em Fortaleza, nos anos 60
FOTO: WALESKA SANTIAGO
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Márcia Carneiro, bancária, recorda os filmes dos Beatles nos cines de Fortaleza: negativos roubados pelos fãs
FOTO: TUNO VIEIRA
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Fábio Parente comprou seu primeiro LP dos Beatles na loja Vox, na Rua Guilherme Rocha
FOTO: WALESKA SANTIAGO
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Carlos Roberto e seu filho John Lennon: desafiando reações ao ver os Beatles na tela do São Luiz
FOTO: WALESKA SANTIAGO

O ídolo

03.10.2010



O Caderno 3 conversou com fãs cearenses que vivenciaram, na Fortaleza dos anos 60, a repercussão local do fenômeno mundial da beatlemania. Os bancários Júlio Serra, Márcia Carneiro e Fábio Parente e o funcionário público Carlos Roberto Machado se orgulham de ter comprado discos da banda em seu lançamento original. E seguem colecionando tudo sobre o grupo de John Lennon
Como você conheceu a música de Lennon e dos Beatles? Quais as recordações do impacto do grupo em Fortaleza, nos anos 60?

Júlio Serra - Eu era ainda muito jovem e lá em casa havia sempre um rádio ligado. Foi quando eu ouvi "Twist and shout" com o John cantando. Aquela voz rouca e estridente me chamou a atenção. Depois disso eu ouvi "Please please me" e o locutor falou no final que era um conjunto inglês, de cabeludos. Uma semana depois eu ouvi outra música que gostei bastante. O Paulo Limaverde, radialista da época, falou que eram os Beatles, banda inglesa de muito sucesso, que estava nas paradas. Fiquei curioso e fui nas lojas de discos e vi um compacto. Comprei e fiquei ouvindo. Gostei imediatamente. Era diferente de tudo que já havia ouvido antes. Depois disso saiu uma matéria na revista "Fatos& Fotos" com o título "Beatles, a Bossa Inglesa". Fiquei com vontade de guardar aquilo. Daí pra frente fiquei acompanhando tudo que a banda fazia.

Márcia Carneiro - Meu primeiro contato com a música dos Beatles foi em 1964, com "I want to hold your hand".Fiquei fascinada por aquela sonoridade que vinha do grupo. Naqueles primeiros momentos, não fazia ainda distinção entre os quatro, não sabia quem era quem. Quando as fotografias e as imagens começaram a aparecer com mais frequência em revistas e jornais foi que pude conhecer um pouco mais sobre cada um. John era o que tinha a personalidade mais marcante.

Fábio Parente - Conheci a música dos Beatles, conscientemente, em 1967, quando um primo colocou na velha ABC - A Voz de Ouro o disco coletânea "A Collection of Beatles Oldies but Goldies". Eu ainda não havia completado 12 anos, mas fiquei encantado, querendo ouvir repetidas vezes. No outro dia, uma segunda-feira, meu pai me deu dinheiro e eu fui sozinho até a Loja Vox, na Guilherme Rocha, no Centro da cidade, e adquiri o LP. Vocês conseguem imaginar quantas vezes eu colocava pra rodar tão logo eu retornava da escola diariamente? Depois comecei a correr atrás dos outros lançamentos e a coisa não parou mais.

Carlos Roberto - Perto de casa tem uma praça (da Gentilândia) e quase que diariamente nossa turma ia ver as garotas. Um amigo tinha um radinho de pilha e ele tinha me falado que escutara uma música com um som diferente de tudo que se tinha escutado até então. Perguntei qual o cantor e a música, ele respondeu, "Vamos ficar ouvindo". Por coincidência, ainda naquela noite a tão esperada canção tocou. Era "I want to hold your hand", em 1964.

Na década de 60, quais eram as dificuldades para conseguir material sobre a banda?

Júlio - A primeira revista que vi sobre o assunto se chamava Beatles, além de outras publicações que começaram a colocá-los nas capas, como "Revista do Rádio", "Manchete", "O Cruzeiro", "Fatos & Fotos", "Realidade" etc. Eu comprava tudo. Fora as revistas brasileiras, era muito difícil encontrar outras publicações sobre música de um modo geral.

Márcia - Naquela época se conseguia material sobre os Beatles com muita dificuldade. Cada foto que aparecia em jornais e revistas era sempre disputada aos tapas pelos beatlemaníacos. Os discos de vinil chegavam através da antiga e saudosa loja Vox (é o novo!) e eram esperados com muita ansiedade por mim. As dificuldades eram enormes, pois não existia internet. Basicamente conseguíamos alguma coisa apenas através de revistas e jornais. Também através de correspondentes no exterior, fazíamos troca de material.

Fábio - Depois da morte de John Lennon, em 8 de dezembro de 1980, comecei a me corresponder com outros fãs em vários países do mundo. Daí comecei a trocar material lançado no Brasil por material lançado mundo afora. A revista inglesa Beatles Book, de periodicidade mensal, trazia nomes de pessoas que desejavam se corresponder. Escrevi para várias, recebendo respostas de todas. Uma das fãs que muito me ajudou foi a Uli Hortmann, da Alemanha. Vocês não imaginam a grandeza do material que ela me enviava. Às vezes eu ficava até com vergonha, pois o material lançado no Brasil, além de ser pouco, não tinha a qualidade do material que eu recebia. Ainda hoje possuo todas as cartas recebidas do exterior. Centenas delas.

Roberto - Naquela época era muito difícil. Os únicos acessos eram o rádio e as revistas que minha mãe sempre comprava, como O Cruzeiro, Revista do Rádio, que traziam notícias sobre eles. Em jornais, quase nada. Nos primeiros anos da beatlemania era bem difícil, mas com o grande sucesso que eles foram alcançando ficou sendo um pouco mais acessível.

E quanto aos filmes dos Beatles? Quais as recordações das exibições em Fortaleza?

Júlio - Era uma loucura! O primeiro documentário em filme que saiu foi "Beatles Come to Manchester". Ia passar na matinal do Cine São Luiz, antes de começar o filme principal. Foi a primeira vez que vi imagem em movimento deles e fiquei impressionado com a figura e atitude dos rapazes. Já "Os Reis do Ié, Ié, Ié", tradução nacional para "A Hard Day´s Night", foi uma loucura para conseguir comprar ingressos. Assisti todas as sessões. O filme "Help!" foi ainda mais difícil de ter acesso ao Cine São Luiz. Uma verdadeira multidão lotava a entrada do cinema e o trânsito foi interrompido.

Márcia - Assisti a primeira vez "Os Reis do Iê, Iê, Iê" no São Luiz, numa vesperal de sábado. Entrei na primeira sessão e só saí na última. O "Help!" foi aguardado com muita expectativa, visto o sucesso que tinha sido o filme anterior. Assisti mais de 10 vezes, só nos primeiros dias. Quando o filme saiu do circuito dos cinemas do Centro da cidade e foi para um cinema de bairro, lá estava eu mais uma vez. Cinemas precários e com exibição péssima, com várias interrupções durante a projeção. Numa dessa idas, ao final da exibição, fomos até a cabine de projeção, tentar conseguir pedaços da fita. Depois de muita conversa, conseguimos grandes pedaços do "Help!".

Fábio - Assisti ao "Help!" numa matinal que tradicionalmente exibia duas sessões no domingo pela manhã no Cine São Luiz. O interessante é que, naquela época, você não tinha de sair do cinema após o término do filme, a não ser que fosse a última sessão. Podíamos assistir quantas sessões quiséssemos. O São Luís estava super-lotado. Foi a primeira vez que vi os Beatles em movimento. Os outros filmes da banda, com exceção do "Let it be", que também foi exibido no São Luiz em 1970, só assisti mais para o final da década de 70.

Roberto - "Os Reis do Iê Iê Iê" assisti no Cine São Luiz, uma grande multidão, domingo pela manhã. Os outros filmes vi um pouco depois do lançamento em Fortaleza. O "Magical Mystery Tour", vi primeiro em casa no antigo vídeo-cassete. Como curiosidade, vale lembrar que no dia em que assistimos "Os Reis do Iê Iê Iê", na Praça do Ferreira, tinha um posto de táxi, e alguns motoristas conversando sobre a multidão que tinha muitos rapazes cabeludos, e um deles saiu com essa pérola: "Tá cheio de viados". Havia esse tipo de reação. Era diferente.

NELSON AUGUSTOREPÓRTER 

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