02/11/2012

Deixa emprego para ajudar refugiados

Mundo
Texto Juliana Batista | Foto H. Caux/ACNUR | 02/11/2012 | 14:30
Ahmid Ag Rali (dir.) no campo para refugiados malineses no Burkina Faso.
Na povoação onde vivia assistia à chegada de famílias que fugiam de conflitos armados. Comovido e decidido a ajudar, Ahmid abandonou o trabalho numa empresa estrangeira e hoje é funcionário de uma agência da ONU que apoia e protege refugiados
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«Taberakam». É com esta palavra que Ahmid Ag Rali cumprimenta calorosamente os recém-chegados ao campo de refugiados de Mentao, situado a 95 quilómetros da fronteira entre Burkina Faso e Mali. A forma de saudação que usa significa «bem-vindo» em tamasheq, e é uma variedade de tuaregue que é falada em Timbuktu e outras áreas do Mali. Ahmid Ag Rali, 35 anos, 1,85 metros de altura, de origem tuaregue, é assistente de serviços comunitários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
O que tem de particular a sua história? No início deste ano, Ahmid deixou o seu confortável emprego no setor privado e ofereceu-se para trabalhar no ACNUR, depois de ver várias crianças, entre as famílias refugiadas do Mali, que começaram a chegar à sua povoação, no norte de Burkina Faso. «Desde criança, sempre quis fazer a diferença na vida das pessoas», explicou o tuaregue, citado pelos serviços de comunicação da agência da ONU para os refugiados. «Tornar-me um trabalhador humanitário era minha verdadeira vocação – no ACNUR, eu me sinto em casa», referiu.
Pela madrugada, Ahmid é habitualmente a primeira pessoa da agência da ONU para os refugiados a ser vista pelas famílias que chegam durante a noite a Mentao, um dos dois campos de refugiados localizados em Oudalan, a província natal do tuaregue. Ahmid trabalha como assistente de serviços comunitários, ajudando os mais vulneráveis entre os refugiados recém-chegados, como os idosos, as grávidas e as pessoas com deficiência.
O conhecimento local, as competências linguísticas e a sensibilidade cultural deste funcionário têm-se revelado ferramentas vitais. «A minha cerimónia de boas-vindas é uma arte. Se eu colocar de forma errada o meu olhar ou qualquer uma das minhas palavras, posso perder a confiança deles para sempre», explicou o funcionário do ACNUR, que conhece os nomes de todos os que estão sob seu cuidado.

As funções que atualmente desempenha, junto dos refugiados malianos, levam-no a passar longos períodos longe da sua esposa e do seu filho recém-nascido. «Tenho duas casas: uma nos acampamentos, onde posso criar um mundo melhor, e outra com minha família, onde posso viver no melhor lugar do mundo já criado» referiu o tuaregue. Mentao, o campo onde Ahmid Ag Rali trabalha, abriu há seis meses e acolhe mais de 6 mil pessoas que fogem do conflito, que iniciou em janeiro, entre as forças do governo do Mali e os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional pela Liberação de l’Azawad.

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