27/11/2012

Para Franzen, internet rouba horas do dia

Convidado da Feira do Livro de Guadalajara, Jonathan Franzen critica uso excessivo das mídias sociais
Será que vivemos num mundo muito melhor só porque podemos fotografar a comida no prato e postá-la para todos os nossos amigos antes de começar a comer? - Com essa provocação, o escritor norte-americano Jonathan Franzen ("Liberdade") questionou a influência que as mídias sociais têm tido na cultura contemporânea.

O escritor norte-americano Jonathan Franzen: comparação entre tabagismo e uso das redes sociais digitais, em referência ao vício e à influência no cotidiano

O escritor falou no sábado, primeiro dia da 26ª edição da Feira do Livro de Guadalajara, que acontece até dia 2 de dezembro na cidade mexicana.

Apesar de se confessar um "viciado em e-mails", que não fica mais de duas horas sem checar a caixa postal, Franzen expôs seu mau humor acerca do "vício planetário" com relação à internet.

Desafio

"Se a internet for a droga definitiva, estamos bem. Mas ninguém sabe ainda se será. Até outro dia, era o cigarro. E, de repente, as pessoas pararam de fumar num domingo e na segunda começaram a clicar compulsivamente em seus smartphones. Quem sabe não vamos nos cansar disso em algum momento?", comparou.

E reforçou que vê os livros hoje como produtos de consumo de uma minoria cada vez mais reduzida. "Os livros sempre foram para poucos. Agora a disputa é muito mais intensa, e o desafio do escritor é maior. A diferença é que, quando saímos da internet e entramos num livro, percebemos que, na realidade, temos muito mais horas em nossos dias".

Franzen, que é um admirador de aves, topou ir ao México porque poderia também incluir na viagem um passeio pela reserva florestal do Estado de Jalisco, onde pode-se observar uma espécie em extinção de pica-paus.

Anos horríveis

Franzen comentou a situação que vive o país, por conta dos mais de 50 mil mortos da guerra do governo contra o narcotráfico. "São anos horríveis. O jornalismo e a literatura têm uma grande tarefa de contar e provocar reflexão sobre o que está acontecendo". Ele veio à FIL por insistência do escritor mexicano Carlos Fuentes (1928-2012), de quem era amigo. "Foi um dos grandes da América Latina. Seu ´A Morte de Artemio Cruz´ é leitura indispensável".

O primeiro dia da feira também homenageou Fuentes, um dos principais nomes do boom latino-americano e, até o ano passado, presença constante no evento.

A principal mesa do dia reuniu o nicaraguense Sergio Ramírez e a mexicana Elena Poniatowska para ler e comentar trechos de suas obras.

Fuentes tem dois livros póstumos sendo lançados na feira. "Personas" reúne anedotas ou histórias pessoais suas relacionadas a nomes como Julio Cortázar, Susan Sontag, Luis Buñuel e André Malraux. Em "Federico en Su Balcón", o escritor tem um diálogo imaginário com o filósofo Friedrich Nietzsche.

SYLVIA COLOMBOFOLHAPRESS 
Diário do Nordeste

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