Será que vivemos num mundo muito melhor só porque podemos fotografar a comida no prato e postá-la para todos os nossos amigos antes de começar a comer? - Com essa provocação, o escritor norte-americano Jonathan Franzen ("Liberdade") questionou a influência que as mídias sociais têm tido na cultura contemporânea.
O escritor norte-americano Jonathan Franzen: comparação entre tabagismo e uso das redes sociais digitais, em referência ao vício e à influência no cotidiano
O escritor falou no sábado, primeiro dia da 26ª edição da Feira do Livro de Guadalajara, que acontece até dia 2 de dezembro na cidade mexicana.
Apesar de se confessar um "viciado em e-mails", que não fica mais de duas horas sem checar a caixa postal, Franzen expôs seu mau humor acerca do "vício planetário" com relação à internet.
Desafio
"Se a internet for a droga definitiva, estamos bem. Mas ninguém sabe ainda se será. Até outro dia, era o cigarro. E, de repente, as pessoas pararam de fumar num domingo e na segunda começaram a clicar compulsivamente em seus smartphones. Quem sabe não vamos nos cansar disso em algum momento?", comparou.
E reforçou que vê os livros hoje como produtos de consumo de uma minoria cada vez mais reduzida. "Os livros sempre foram para poucos. Agora a disputa é muito mais intensa, e o desafio do escritor é maior. A diferença é que, quando saímos da internet e entramos num livro, percebemos que, na realidade, temos muito mais horas em nossos dias".
Franzen, que é um admirador de aves, topou ir ao México porque poderia também incluir na viagem um passeio pela reserva florestal do Estado de Jalisco, onde pode-se observar uma espécie em extinção de pica-paus.
Anos horríveis
Franzen comentou a situação que vive o país, por conta dos mais de 50 mil mortos da guerra do governo contra o narcotráfico. "São anos horríveis. O jornalismo e a literatura têm uma grande tarefa de contar e provocar reflexão sobre o que está acontecendo". Ele veio à FIL por insistência do escritor mexicano Carlos Fuentes (1928-2012), de quem era amigo. "Foi um dos grandes da América Latina. Seu ´A Morte de Artemio Cruz´ é leitura indispensável".
O primeiro dia da feira também homenageou Fuentes, um dos principais nomes do boom latino-americano e, até o ano passado, presença constante no evento.
A principal mesa do dia reuniu o nicaraguense Sergio Ramírez e a mexicana Elena Poniatowska para ler e comentar trechos de suas obras.
Fuentes tem dois livros póstumos sendo lançados na feira. "Personas" reúne anedotas ou histórias pessoais suas relacionadas a nomes como Julio Cortázar, Susan Sontag, Luis Buñuel e André Malraux. Em "Federico en Su Balcón", o escritor tem um diálogo imaginário com o filósofo Friedrich Nietzsche.
SYLVIA COLOMBOFOLHAPRESS
Diário do Nordeste
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