20/11/2012

Semiárido sobre o semiárido


POR SOUTO FILHO
soutofilho@oestadoce.com.br
Quando se fala em Semiárido logo nos vem à cabeça um cenário pouco agradável. Desertificação, escassez de recursos e pobreza são os principais problemas imaginados por quem não conhece ou não reside em regiões inseridas neste bioma.
Entretanto, nos últimos 20 anos muita coisa mudou. É possível sim viver nestas áreas e usufruir de tudo que ela oferece. Avanços científicos sobre processos evolutivos que geram e mantêm a diversidade de genes, espécies e ecossistemas do Semiárido vem ajudando os residentes destas regiões e transformando o que imaginamos ser escasso em produções sustentáveis.
Pelo menos é isso que o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) está fazendo na Paraíba. “Aprofundar o conhecimento sobre a biodiversidade, o uso sustentável e a conservação”, é um dos objetivos do Plano Diretor do Insa, estipulado até 2015. De acordo com o coordenador de Pesquisa do Instituto, Aldrin Perez, as ações projetadas para a região são possíveis devido as muitas potencialidades ecológicas, turísticas e ambientais.
Para ele, existem várias perspectivas de iniciativas para serem desenvolvidas e implementadas dentro de um processo participativo de convivência com o Semiárido. Aldrin salientou que, mesmo com limitações ambientais, é viável fomentar propostas de uso sustentável do bioma, focando a sua população e otimizando seus recursos naturais.
OTIMIZAR O USO DA ÁGUA

“Precisamos olhar a natureza a partir de suas especialidades. Também trabalhamos o viés da otimização do uso da água através da captação da chuva. Também focamos o uso intensivo da biodiversidade nativa, lógica econômica e multidimensional. Temos que colocar em foco a população local, através dessas premissas”.

Uma das propostas é identificar, até 2014, a diversidade florística, genética e cariológica, além do potencial utilitário das espécies em inselbergues (formas de relevo isolados) do Semiárido brasileiro em, no mínimo, quatro estados. Isso visa a conservação e exploração sustentável relacionada à sua utilização tradicional pelas comunidades de seu entorno e ao ecoturismo.
AMENIZAR CONSEQUÊNCIAS

Em princípio, no Ceará, a seca não é um grande problema há vários anos. Pelo menos é esta a opinião da técnica da Coordenação Geral de Planejamento Estratégico do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), Raquel Pontes, revelando que o Estado realiza várias ações para combater os problemas da desertificação e amenizar as suas consequências.

A criação de açudes, adutoras e o desenvolvimento do Programa Água para Todos são algumas das ferramentas utilizadas pelo órgão como forma de ações estruturantes.
“Desde os anos 90 [1990], a nossa preocupação não é de forma emergencial e sim ações estruturantes permanentes. Conviver com o Semiárido passa por essas questões.
E uma das nossas principais ações foi abastecer e construir novos açudes para garantir o acesso à água. Atualmente, temos cerca de 27 bilhões de metros cúbicos de água acumulado, sendo o Castanhão o maior deles, com 6,7 bilhões”. Com isso, a técnica do Dnocs garantiu que todas as regiões metropolitanas do Estado estão abastecidas.

Outro grande projeto de contenção da seca é o desenvolvimento de viveiros para a produção de Tilápia. Hoje, o Ceará é considerado o maior produtor deste tipo de peixe, e está garantindo a segurança alimentar das populações sertanejas e ribeirinhas. A agricultura irrigada também está sendo agraciada com a com 37 perímetros irrigados, contribuindo assim com a agricultura de tecnologia.

SOBRE O SEMIÁRIDO

O Semiárido brasileiro é um dos maiores, mais populosos e também mais úmidos biomas do mundo. Estende-se por 868 mil quilômetros, abrangendo o norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão.
Vivem nessa região mais de 18 milhões de pessoas, sendo oito milhões na área rural. A precipitação pluviométrica é de 750 milímetros anuais, em média. Em condições normais, chove mais de 1.000 milímetros. Na pior das secas, chove pelo menos 200 milímetros, o suficiente para dar água de qualidade a uma família de cinco pessoas por um ano.

AÇÕES DO INSA ATÉ 2015

O Plano Diretor da Insa elenca várias metas e programas a serem executados até 2015. Três Eixos de Sustentação são trabalhados pelo Instituto: Promoção da inovação; Fortalecimento da pesquisa e da infraestrutura científica e tecnológica; e Formação e capacitação de recursos humanos. A partir desses Eixos, o INSA planejou os seus programas, objetivos e, consequentemente, as suas metas. Seguem algumas delas.

- Prospecção e conservação da variabilidade genética de forrageiras nativas da caatinga, com potencial de uso na alimentação animal, mediante a implantação, caracterização e conservação de uma coleção de germoplasma, visando a geração de informações para dar suporte ao desenvolvimento de programas de melhoramento genético, até 2015.

- Desenvolvimento e implantação, até 2013, de um sistema-piloto de produção animal sustentável, nas condições do Semiárido, visando a modelagem de um sistema com sustentabilidade econômica, ambiental e social e viabilidade na inserção de políticas públicas.

- Elaboração e implementação de estudos e projetos, a partir de 2012, para o desenvolvimento de um programa de monitoramento sistêmico de desertificação, com informações disponíveis a diferentes públicos, com vistas a oferecer subsídios para a edição de normas técnicas, formulação de políticas públicas e de modelos de manejo, que promovam a conservação e a sustentabilidade dos recursos naturais do SAB.
O Instituto Nacional do Semiárido, vinculado ao Ministério da Ciência e da Tecnologia  foi criado em abril de  2004,  por meio da Lei no 10.860, como Unidade de  Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Com base nesta Lei, em setembro de 2005, foi criado um comitê executivo para dar sequência à implantação do Instituto.
O lançamento do Plano Diretor do Instituto Nacional do Semiárido foi um marco importante para a região Semiárida brasileira, no âmbito da Ciência, Tecnologia e Inovação. O plano representa uma síntese do Planejamento Estratégico participativo e traduz a visão, as aspirações e experiências dos vários atores e instituições dessa região. 

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