31/01/2013

INCÊNDIO NAS CONSCIÊNCIAS


Paulo Roberto Cândido*
Infelizmente estamos lamentando mais uma tragédia anunciada em nosso País. A partir do momento em que não se respeitam planos  de  segurança, capacidades máximas dos ambientes,  manejo  adequado  de  materiais  de artifício e acima de tudo, a vida humana que  não  foi  feita  para  dar lucros aos cofres e sim à sobrevivência de todas as espécies  existentes no Planeta, teremos  que  aguardar  sempre,  com  inércia,  os  próximos sinistros que ceifarão as vidas que irão para os outros Planos e  também aquelas que permanecerão na terra, chorando lágrimas de dor e de saudade.

As  mídias,  talvez,  estejam  atrasadas  no  processo  de  discutir segurança,  ética  e  responsabilidade  em  uma  sociedade    totalmente desconectada da rede  dos  valores  morais  edificantes.  Arvoram-se  em conquistar audiência, numa verdadeira disputa de conexão com os horrores de um  incêndio  ocorrido  no  interior  de  uma  boate.  Até  mesmo  um apresentador    de    televisão,    habitualmente    interessado      em "vídeocacetadas",  resolve  falar  sério,  em  tom  de  crítico  social, cobrando agora mais atenção de todos com as regras de segurança,  depois

que a tragédia se estampou em todas as manchetes do mundo. Será  que  no auditório de onde ele apresenta seu programa, estas regras  estão  sendo respeitadas?  Será  que  existem  saídas  de  emergências    devidamente sinalizadas para um caso de necessidades urgentes? Não sei o que sei  é que os programas da nossa televisão tocam fogo, diariamente,  em  nossos corações, para iluminar todas as sombras que  trazemos  na  alma.  Neste caso, iluminar sombras significa fazer brilhar os  nossos  instintos  de imperfeições. Novelas mostrando o mal, filme enaltecendo  a  violência, telejornais tornando comum a nossa indiferença diante  de  assassinatos, corrupções,  traições, etc. Jovens  telespectadores  bombardeados    sem censura, com todos os matizes de uma  programação,  que  na  sua  grande essência, só transmite e retransmite as ondas  da  má  cidadania.  Ainda bem, que vez ou outra alguém tem a coragem de produzir  sem  pensar  em lucros. É só perseverar e acionar o  controle  remoto  em  busca  destas preciosidades televisivas.

O fato é que a humanidade sequer dá conta do que é a  vida,  de  que forma vamos, então, instigar a  sociedade  para  adotar  ações  que  não antecipem a morte? Ela, às vezes, convida muitos jovens para as baladas, aproveitando que eles estão interessados mais nos estímulos do  que  nas consciências. Quem se preocupa com quantidade de gente no recinto?  Quem quer saber de porta de emergência ou  extintor  de  incêndio  carregado? Quem está a fim de parar de curtir a música e o embalo  para  investigar plano de segurança? O certo é que depois que uma tragédia acontece é que as autoridades, os comunicadores, o povo em geral,  começam  a  refletir sobre a prudência e a responsabilidade.

Esperamos que haja um  incêndio  nas  consciências,  para  que  elas aqueçam os pensamentos de comunhão, de solidariedade, de atenção  com  a vida e de respeito ao próximo. Que o fogo da conscientização se  alastre entre os poderes constituídos, entre as mentes sociais e entre todas  as estruturas encarregadas de manter a ordem, a paz, a justiça e o  futuro, em perfeita harmonia com a segurança.

*Escritor, advogado e membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
 - AMLEF, Cadeira 29 


Nenhum comentário :

Postar um comentário