15/02/2013

ARTES PLÁSTICAS: Iracemas de Ubretgi

Aficionado por Fortaleza, pintor francês difunde cores cearenses e ícones da cultura local em salões da Europa
A estátua de Iracema, de braços erguidos e arco apontado para o mar, é a inspiração do francês Esteban Ubretgi. Nascido em Meaux, na França, Esteban começou a pintar em 2005, após anos dedicados ao mundo dos negócios e, atualmente, é um dos maiores difusores do Ceará na Europa.

Quadros do artista visual Esteban Ubretgi, baseada em Iracema, são expostos em galerias francesas

No primeiro semestre deste ano, as Iracemas de Esteban percorrem diversas galerias da França e, a partir de agosto, ganham as galerias italianas, portuguesas e espanholas.

Noivado

Após cruzar o litoral nordestino, o pintor fixou-se em Fortaleza, apaixonado pelo clima e pela luz cearenses. "Na França, tudo é cinza, branco, azul... Não faz sol como aqui e essa luz não se encontra em lugar nenhum da Europa. Quando cheguei aqui, senti-me rejuvenescido, nasci de novo aos 40 anos", confessa.

E se a luz lhe trouxe um encanto inicial, foi o encontro com Iracema que, de fato, definiu sua permanência na cidade. "Pode parecer mentira, mas quando a vi fiquei emocionado porque achei igualzinha a uma escultura que tinha feito na França! Nunca tinha visto essa Iracema de Zenon e, de algum modo, reproduzi a mesma imagem, ainda na Europa", explica.

A partir de então, alugou um espaço em frente à orla da Praia de Iracema, comprou telas, tintas e pinceis, e passou a reler, sob diversas perspectivas, o ícone cearense criado por José de Alencar e materializado por Zenon Barreto. "Casei-me com Iracema naquele momento", completa.

Sua pintura é influenciada por movimentos como o romantismo e o barroco, destacando Caravaggio, Goya e Delacroix. Feitas exclusivamente em tinta acrílico, suas pinturas incluem paisagens, jangadas, favelas, futebol, carnaval, praias brasileiras e Iracema, a bela índia dos lábios de mel.

Savagismo

Seu trabalho rendeu, além de quadros, o que Esteban categoriza como um movimento de estilo literário, filosófico e artístico intitulado "savagismo". Originário da mistura entre "sábio" e "selvagem", o Savagismo, faz apologia à interação harmônica entre a inteligência e a intuição. Um mundo "selvagem" e "sábio" ao mesmo tempo. "A estátua de Iracema em Fortaleza é, para mim, o símbolo de um mundo sábio que se protege do mundo invasor, que é muito mais selvagem. Por muitos anos, vivi isso. A selvageria dos negócios, de uma sociedade que se diz sábia, mas privilegia a inteligência a serviço da guerra ou de qualquer forma de poder que, no final, faz o homem mais animal que o indígena ou o pequeno agricultor que respeita a natureza", defende o pintor. Um dos destaques do trabalho de Ubretgi é, certamente, a paleta de cores selecionada para seus quadros. Segundo o pintor, no Brasil, existem, de fato, pigmentos que não se pode encontrar na Europa. "Esse azul turquesa, vivo, e esse tom escuro de vermelho... Isso não existe lá. E mesmo que se tente obter do resultado de alguma mistura, não é a mesma coisa", atesta.

Nuances

O grafismo circular é inseparável de sua pintura. Segundo ele, há, em torno dele, um conceito de dinamismo e, ao mesmo tempo, permanência. "A eternidade só existe no giro das coisas. Meu desenho privilegia o movimento porque defendo a fuga como a melhor maneira de se achar. Isso remete à minha própria vida, porque só encontrei a felicidade quando mudei de vida, deixei a Europa e conheci Fortaleza", afirma ele.

No próximo ano, Esteban prepara uma série de exposições em Fortaleza, confirmadas, por enquanto, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará e no Instituto Cultural Iracema.

FIQUE POR DENTRO

Inspiração local: Zenon Barreto

O artista cearense Zenon Barreto se tornou uma das principais referências de Esteban Ubretgi, sendo, aliás, considerado pelo pintor francês um dos primeiros artistas savagistas. Sobralense de nascimento, Zenon ingressou na Sociedade Cearense de Artes Plásticas, em Fortaleza, em 1949. Participou e foi premiado em diversos eventos, como Salão de Abril, Salão de Arte Moderna, Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira, entre outros. Na década de 1950, atuaria como cenógrafo e figurinista em peças encenadas no Theatro José de Alencar e coordenou a restauração da Casa de José de Alencar. Ainda hoje, apesar do descaso e da falta de segurança a monumentos em espaços públicos, ainda possui diversas esculturas em logradouros de Fortaleza. A mais famosa delas sempre foi a de "Iracema", na praia de mesmo nome. 


Diário do Nordeste

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