Dólar acessível, pouca competitividade da indústria e facilidades do transporte aéreo facilitaram acesso
Brasília. O governo está preocupado com o que chama de "exportação de consumidores". Segundo fontes, dois dados divulgados ontem revelaram que as compras no exterior estão cada vez mais frequentes, embaladas por um dólar ainda acessível, indústria pouco competitiva e facilidades do transporte aéreo. "Há pessoas que saem do Brasil especificamente para compor o enxoval de bebê nos Estados Unidos. Isso é cada vez mais comum", comentou uma das fontes.
Ontem, o Banco Central informou que o déficit com viagens internacionais em janeiro foi de US$ 1,598 bilhão, número recorde para o primeiro mês do ano FOTO: DIVULGAÇÃO
Consumidores muitas vezes conseguem comprar no Exterior a mesma quantidade de produtos no Brasil, mas com menor quantidade de recursos. Com a sobra, muitas vezes é possível não apenas bancar a viagem aérea como, em alguns casos, fazer turismo no exterior.
Ontem, o Banco Central informou que o déficit com viagens internacionais em janeiro foi de US$ 1,598 bilhão, número recorde para o primeiro mês do ano. À tarde foi a vez de o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) anunciar o fechamento de 67.458 postos de trabalho, também o pior resultado para o mês desde 1992, quando o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) passou a utilizar a série histórica atual.
O governo está "numa sinuca de bico", de acordo com outra fonte, porque vem mantendo a política cambial de "flutuação suja", ou seja, com intervenção no mercado para manter a cotação levemente abaixo de R$ 2,00.
Essa política é vista como necessária no atual momento para evitar que a alta do dólar contamine ainda mais as taxas de inflação, que não dão claros sinais de arrefecimento.
Gastos devem continuar
O aumento dos gastos de brasileiros no exterior, que bateu recorde histórico no mês de janeiro deste ano - atingindo US$ 2,293 bilhões, segundo dados do Banco Central - é uma tendência que deve ser mantida no médio prazo, analisa o presidente e CEO da World Travel & Tourism Council, David Scowsill.
Para Scowsill, esse volume de gastos é um reflexo do aumento da classe média brasileira, da ampliação na oferta de voos internacionais - que, segundo ele, facilita a realização de viagens - e da redução na burocracia para emissão de vistos para turistas brasileiros, especialmente para os Estados Unidos.
"O visto de turista para os Estados Unidos, que costumava levar até 70 dias para ser emitido, agora leva cerca de uma semana. Isso incentiva os turistas a viajarem mais. E se, quando estão fora, encontram as marcas que desejam por preços mais interessantes, logicamente que irão comprar mais", afirmou.
Aeroportos vão puxar
Ainda segundo Scowsill, o anúncio da construção de novos aeroportos no Brasil pelo governo, aponta para a ampliação desses gastos. "Com mais aeroportos em um País, aumenta o número de viagens. Na China, por exemplo, o número de turistas que viajaram ao exterior aumentou de 58 milhões em 2010 para 84 milhões em 2012, nesse meio tempo, foram construídos 64 novos aeroportos", avaliou. "Assim, o gasto total deles logicamente é ampliado", completou.
Para ele, atribuir à iniciativa privada a construção dos novos aeroportos brasileiros foi uma decisão acertada do governo. "A iniciativa privada é mais rápida que o governo e o Brasil está atrasado nesse quesito", disse.
Diário do Nordeste
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