28/02/2013

Trajetória de sertanista é tema de exposição na Capital


Mostra é composta por quatro partes e inclui desde a biografia do pesquisador até um ambiente multimídia

O sertanista brasileiro Orlando Villas-Bôas (1914-2002), que fez da luta em defesa pelo respeito à cultura indígena a sua causa de vida, começando ainda na juventude a sua militância, tem sua história de vida resgatada. Trata-se da exposição "Kuarup - a última viagem de Orlando Villas-Bôas", aberta ao público desde ontem, na galeria da Caixa Cultural. A curadora da mostra, Denise Carvalho, explica a simbologia da exposição, centrada no kuarup, ritual funerário indígena que retratando a morte. Só que, diferente dos "homens brancos", o ritual serve para marcar também um breve retorno das pessoas que morrem.

Acervo, que teve curadoria de Denise Carvalho, conta com fotos pessoais de Orlando, mapas, textos e objetos usados por ele


Foi assim que os índios fizeram para celebrar a passagem ou morte do "grande cacique branco", como era conhecido Orlando Villas-Bôas pelos povos das tribos do Xingu, que realizaram o seu maior ritual. A celebração aconteceu em 2003, sendo captada pelas lentes do fotógrafo Renato Soares, resultando em 34 fotografias, que compõe a quarta e última etapa da exposição.

A abertura da mostra contou uma palestra de Ulisses Capozzoli, editor da revista Scientific American. A exposição reúne mapas, textos, retratos antigos e utensílios pessoais do sertanista e tem o objetivo de levar a cultura indígena do Alto Xingu até os visitantes.

Nessa perspectiva, resgata o pensamento de Orlando Villas-Bôas, ao reconhecer a existência de valores éticos e morais entre os primeiros habitantes do Brasil, condição para a sua convivência bastante harmoniosa e organizada. Denise Carvalho, que chega hoje a Fortaleza para a abertura da exposição, revela que a trabalho é centrado na vivência dos irmãos Villas-Bôas, Orlando, Cláudio e Leonardo, que começaram a desbravar as terras indígenas, no sentido de valorizar os seus habitantes. Não se tratava de aculturar os indígenas, mas de buscar as suas identidades, respeitando a sua cultura. Orlando Villas- Bôas, o mais velhos dos irmãos, começou a sua viagem em 1943, resultando na criação, em 1961, do Parque Nacional do Xingu, possui 27 mil m².

Defesa

Até a construção do Parque, o sertanista teve de travar uma enorme luta contra aqueles que queriam transformar o lugar em fazendas para o plantio de monoculturas, lembra Denise Carvalho. Destaca que mostra conta tudo isso, sem deixar de lado a participação dos irmãos Villas-Bôas. "Seu objetivo era preservar a cultura dos índios", diz, ganhando assim, a maior honraria que um caraíba (homem branco) poderia receber. Mais de dois mil índios, vindos de diversas regiões, se concentraram na aldeia Yawalapiti para celebrar o que eles mesmos consideraram o maior kuarup já realizado na região. Uma homenagem àquele que dedicou sua vida à causa indígena. "Casou com Marina Villas-Bôas, que era enfermeira, e foi viver lá".

A importância de Orlando e seus irmãos na interação do homem branco com os povos indígenas é inquestionável, assim como sua relevante atuação na implantação de políticas de proteção à saúde e à cultura desses povos. Essa luta pelos direitos indígenas e sua cultura representou uma verdadeira ruptura intelectual e política, com o reconhecimento dos indígenas como comunidades com cultura e valores próprios.

A mostra está dividida em quatro partes: a primeira, com a biografia de Orlando, é representada por fotos pessoais, além de mapas e textos. A segunda parte mostra objetos pessoais.

Na terceira, há um ambiente multimídia no qual poderá assistir a um documentário, realizado por Maureen Bisilliat, durante o kuarup, em 2003, no Xingu, que traz depoimentos dos familiares. Na quarta e última parte são exibidas as 34 fotografias de Renato Soares.

Mais informações:

Exposição: Kuarup - A Última Viagem de Orlando Villas-Bôas
Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 20h, na galeria da Caixa Cultural Fortaleza (Avenida Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema). Grátis. Dispõe de acesso para portadores de necessidades especiais e assentos adaptados. Contato: (85) 3453-2770

IRACEMA SALESREPÓRTER
Diário do Nordeste

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