13/03/2013

Scola e Scherer teriam mais votos


O primeiro escrutínio, feito ontem, após uma meditação, serviu como sondagem preliminar de tendências


Nos próximos dias as alas progressistas e a mais próxima da Cúria Romana disputam espaço no comando do Vaticano. Para especialista, o nome de dom Odilo Scherer aparece como porta-voz de uma tendência conservadora foto: Reuters

Cidade do Vaticano. A fumaça preta, que subiu da chaminé da Capela Sistina às 19h42 de ontem, horário de Roma (15h42 no horário de Brasília), foi um sinal de que nenhum dos 115 cardeais havia conquistado dois terços dos votos (77).
A contagem é secreta, mas, segundo o jornal La Repubblica, o arcebispo de Milão, Angelo Scola, saiu na frente, seguido pelo arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer. Em terceiro estaria o arcebispo de Budapeste, Peter Erdö, que teria se fortalecido após embate entre integrantes contra e a favor da Cúria.
Os 115 cardeais eleitores - 60 da Europa, 19 da América Latina, 14 da América do Norte, 11 da África, 10 da Ásia e 1 da Oceania, representando 48 países - foram isolados ontem, quando o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, monsenhor Guido Marini, fechou as portas da Capela Sistina.
“Extra omnes!” (Todos para fora), ordenou Marini, enquanto todos, inclusive o secretário do Colégio Cardinalício, arcebispo Lorenzo Baldisseri, e ele mesmo, deixavam os cardeais diante da tela Juízo Final, de Michelangelo, para elegerem o sucessor de Bento XVI.

Sondagem inicial
O primeiro escrutínio, realizado à tarde, após uma meditação, serviu como sondagem preliminar das tendências. E terminou sem a definição do papa.
A fumaça negra subiu da chaminé da Capela Sistina 40 minutos depois do que se esperava, em comparação com conclaves anteriores. Hoje, haverá quatro escrutínios - dois pela manhã e dois à tarde.
Desafios
O 266º papa enfrentará notáveis desafios, como os escândalos relativos a abusos sexuais cometidos pelo clero, as disputas internas na Cúria Romana (burocracia do Vaticano) e a expansão do secularismo e de religiões concorrentes. Não há um favorito claro, mas vaticanistas dizem que os cardeais italiano Angelo Scola e brasileiro Odilo Scherer estão despontando.
O primeiro devolveria o pontificado aos italianos após um hiato de 35 anos, ao passo que o segundo se tornaria o primeiro papa não-europeu desde o sírio Gregório III, no século VIII.
Mas vários outros candidatos também têm sido citados, como os norte-americanos Timothy Dolan e Sean O’Malley, o canadense Marc Ouellet e o argentino Leonardo Sandri. Alguns prelados querem um papa que tenha pulso firme, e outros preferem um pregador carismático que difunda o catolicismo.
Brasileiros


Ativo em redes sociais como Twitter e Facebook e presença mais corriqueira em páginas de jornais do que costuma ocorrer com religiosos, o gaúcho dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, é um defensor ferrenho de questões caras à Igreja, como demonstrou ao atacar a liberação do aborto de fetos anencéfalos.

Natural de Cerro Largo, no Rio Grande do Sul, dom Odilo foi criado e iniciou sua carreira religiosa na paranaense Toledo, onde foi ordenado padre e chegou a dirigir uma paróquia.
Apontado como um dos favoritos, dom Odilo viu suas chances de ser papa caírem ontem, segundo o diário italiano “La Repubblica”. Para dois influentes vaticanistas do jornal, Paolo Rodari e Marco Alsaldo, o brasileiro perdeu apoio após um discurso no último dia do encontro preparatório para o conclave ao defender a Cúria Romana.
Dom Odilo teria, ainda, falado bem da gestão do Instituto para Obras da Religião (IOR), o Banco do Vaticano, sobre o qual pesam denúncias de falta de transparência e lavagem de dinheiro. O brasileiro é membro da comissão que supervisiona o banco. Ele teria discursado logo após o camerlengo, Tarcisio Bertone, figura controversa que atua como líder temporário do Vaticano neste período de Sé Vacante, sendo apontado como provável pivô de rachas e disputas internas.
Bertone apresentou um resumo sobre a situação do banco, de acordo com o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. “Ele (dom Odilo) defendeu as ações do Vaticano dos últimos anos em relação às finanças, depois de uma intervenção de Bertone que foi muito criticada”, disse.
A imprensa italiana tem citado ainda o nome de um outro cardeal brasileiro, com menos frequência, mas representando uma ala mais progressista da igreja, o do ex-arcebispo de Brasília João Braz de Aviz, de 65 anos. Ele é o atual prefeito da Congregação dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Ele foi nomeado cardeal por Bento XVI em 2012.



Reformas dependem de vontade política
Anna Carletti
Professora de Relações Internacionais da Unipampa

Armando de Oliveira Lima
Repórter

No trabalho "O internacionalismo vaticano a nova ordem mundial", publicado em 2012, a senhora fala que Bento XVI recebeu um papado já em decadência por conta dos escândalos sexuais - o que se agravou com o chamado Vatileaks e os escândalos financeiros envolvendo cardeais e demais membros da igreja. Até onde a senhora acha que a temática política vai influenciar na escolha do novo Papa?
A difícil situação que a Igreja católica está enfrentando desde o papado de João Paulo II (que foi 1978 a 2005), certamente terá influência na escolha do novo papa. Há uma forte demanda por parte das Igrejas locais que aconteça uma reforma principalmente na Cúria Romana, o órgão de governo da Santa Sé. Por isso, Bento XVI, ao escolher as palavras que explicavam o significado de sua renúncia colocou ênfase no vigor, na energia física e espiritual indicando que o novo papa terá que enfrentar grandes problemas.
Ainda na década de 1960, com o Concílio Vaticano II (série de conferências realizadas entre 1962 e 1965 pela Igreja Católica), chegou-se a esboçar temas reformistas para a igreja católica, mas nada foi concretizado. Este seria, enfim, o momento de ter encampada uma reforma ?
No Concílio Vaticano II, a Igreja Católica abriu-se ao diálogo com o mundo e com as grandes religiões. O papa João XXIII (cujo pontificado foi de 1958 a 1963) foi um verdadeiro reformador da Igreja Católica. Bento XVI também pode ser considerado o homem do diálogo. Acredito que esse seja o momento adequado para reavivar o espírito inovador do Concílio Vaticano II.
O que é necessário acontecer no cenário atual para que as reformas voltem a ser pauta, ou seja, tornem-se realidade?
Vontade política por parte dos integrantes da Cúria Romana e, sobretudo a liderança de um papa que possa ser um ponto de unidade entre os vários grupos da Igreja Católica. Trata-se, sem dúvida, de uma empreitada difícil, espera-se do novo papa uma mudança estrutural que, porém, necessitaria de bases novas sobre as quais consolidar tais reformas. Se a Cúria Romana não passar por uma renovação, o novo papa não terá como realizar as reformas esperadas. 
Outra questão em evidência é a possibilidade de ter um brasileiro como pontífice. A senhora acredita na possibilidade de Dom Odilo Scherer ser eleito pelos cardeais?
O nome de Dom Odilo parece ser bem cotado e nesses dias ganhou força. Contudo, ele aparece como porta-voz de uma tendência conservadora da Cúria Romana que certamente, se continuar a ser apresentado dessa forma, não encontrará o consenso do lado progressista dos eleitores.
Por fim, dentro desta perspectiva real de reformas políticas, sociais e religiosas na Igreja Católica, a senhora arriscaria um nome dentre os cardeais?
Não me arriscaria a fazer nomes. Tem muitos homens de boa vontade entre os 115 cardeais e o processo do conclave sempre reserva surpresas, ao final acredita-se que além das disputas políticas, tenha também a ação do Espírito Santo que ajudará na escolha da pessoa certa.


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