14/03/2013

Um Papa cozinheiro é incomum

Jorge Marirrodriga
O novo papa é uma personalidade de firmes convicções, com suavidade e humildade nos modos de relacionamento. Jorge Mario Bergoglio é, sobretudo, um sacerdote que acredita muito na força da oração e transmite essa convicção profunda no relacionamento com as pessoas e na hora de tomar decisões difíceis.
Antes da abertura do Conclave, vivia sozinho numa pequena habitação em um anexo ao lado da catedral metropolitana de Buenos Aires. Trata-se de um lugar sóbrio que revela com clareza o espírito e as convicções de quem aí morou até às vésperas do Conclave.
Mantinha a Igreja aberta o dia todo para quem quisesse rezar, confessar-se ou conversar com os padres. Nas dependências da igreja funcionam também as atividades de ajuda social. Quem entra na igreja percebe que há uma preocupação e um cuidado especial pela arrumação, pela liturgia nas missas, nas exposições do Santíssimo.
Quando em 2001 foi nomeado cardeal não procurou vestuários novos, mas procurou adaptar todas as peças de roupa deixadas pelo seu antecessor. Fiel a esta simplicidade, na sua primeira aparição como papa, Francisco I só vestiu a batina branca sem aqueles símbolos habituais nos seus antecessores para expressar a dignidade da figura do papa. E na hora da bênção, depois de pedir ao povo que rezasse por ele e o abençoasse, seu mestre de cerimônias apresentou-lhe a estola para que com ela pudesse dar a primeira bênção papal.
Essa simplicidade não deve ser interpretada como desleixo ou infantilidade. É exatamente o contrário. O Papa Francisco se inclina humildemente diante do povo de Roma e pede sua bênção. Quando era cardeal se manteve muito firme perante os governos, primeiro de Néstor Kirchner (2003-2006) e depois de sua esposa Cristina Fernández, ao ponto que o presidente decidiu mudar do lugar que lhe era reservado como presidente quando participava no Tradicional Te Deum da Festa Nacional para não ter que escutar as denúncias e observações do Cardeal. A presidente se via obrigada a escutar as críticas do cardeal à pobreza e à crescente desigualdade social.
O novo papa dá muito valor aos símbolos e recuperou alguns da antiga tradição cristã que nos últimos anos foram abandonados como aquele da imposição das mãos sobre a cabeça dos fiéis no fim de algumas missas. E no que diz respeito a questões de aborto e homossexuais não tem ficado calado.
Seu caráter é muito reservado e familiar. Não causará surpresa aos seus assistentes se de vez em quando o encontrarem cozinhando perto do seu quarto. Enfim, o colégio cardinalício elegeu um papa que sabe fazer sua comida. Agora vai ter que perder o costume de andar pelas ruas como fazia em Buenos Aires. Certamente não deixará de assistir a alguns jogos de futebol do seu time: San Lorenzo de Almagro. Ele conhece bem os meios de comunicação e sua importância. Enquanto governou o arcebispado de Buenos Aires organizou o centro de informação, tendo escolhido sacerdotes bem preparados para gerenciá-la.
Fonte: www.elpais.com

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