14/05/2013

Congo: violações usadas como arma de guerra

FáTIMA
Arcebispo passou por Fátima para deixar testemunho
Texto Francisco Pedro | Foto Lusa | 13/05/2013 | 18:08
François-Xavier Maroy Ruseng, arcebispo de Bukavu, República Democrática do Congo
A população do leste do Congo vive uma situação dramática com a proliferação das milícias e a falta de disciplina das forças governamentais. Arcebispo de Bukavu acredita que os homens da guerra estão a ser contratados pelo exterior
IMAGEM
«Na Europa dizem com frequência que existe uma guerra civil no Congo movida por grupos a que chamam rebeldes. Eu digo que são mercenários, contratados por alguém para desestabilizar o país», afirmou esta segunda-feira, em Fátima, o arcebispo de Bukavu, François-Xavier Maroy Rusengo. 

Convidado a visitar Portugal pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), para dar a conhecer a dura realidade que se vive no leste da República Democrática do Congo (RDC), o prelado explicou que a população congolesa está a passar «por uma situação dramática», com muito insegurança e «falta de paz». 

A razão principal do conflito, segundo Maroy Rusengo, está na disputa dos recursos naturais do país - sobretudo minerais -, na falta de controlo sobre as armas, nas disputas pelo poder e na própria instabilidade dentro das forças de segurança governamentais. Este flagelo assumiu ainda maiores proporções quando, em 1996, um ataque aos refugiados do Ruanda provocou a sua dispersão pelo país. 

«Os criminosos – do Congo, do Ruanda e do Burundi – vivem ao ar livre nas florestas onde existem os minérios, estão armados, e atacam as aldeias, fazendo pilhagens e violações. No fim, incendeiam as casas. Esta situação levou a que muitas aldeias tenham criado milícias para se defenderem, mas que acabam por fazer o mesmo» que os rebeldes, adiantou o arcebispo. 

Numa terra sem lei, com elevados índices de pobreza, de falta de emprego e de absentismo escolar, a população torna-se um alvo fácil para os combatentes. Uns são recrutados à força, outros, inclusive mulheres e crianças, são forçados a trabalhar nas minas, em condições degradantes. E o resultado deste trabalho, por norma, é todo enviado para o exterior, segundo Rusengo. 

Depois, existe o tormento das violações usadas frequentemente «como arma de guerra». «Servem não só para humilhar as mulheres, mas também para transmissão da Sida e para obrigar as populações a abandonarem as suas aldeias, porque o marido da mulher violada acaba com o casamento. Por isso, todos querem fugir para não voltarem a passar pelo mesmo drama», reforçou o arcebispo. 

Maroy Rusengo está no nosso país até 17 de maio. Até lá, tem prevista amanhã, às 18h00, uma conferência na Junta de Freguesia de São Victor, em Braga. Na quinta-feira, 16, reúne com o Núncio Apostólico, e celebra uma missa (19h00) no Colégio de São Vicente Paulo, em Lisboa. Sexta-feira, depois de ser recebido pelo cardeal patriarca de Lisboa, fará uma palestra no Santuário do Cristo Rei, em Almada, às 15h30, e outra na paróquia de Évora de Alcobaça, às 21h00.

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