27/05/2013

Por que o trabalho em casa nem sempre funciona

PRESENÇA José Alfredo, da Cisco, na tela da sala de videoconferência da empresa. Ele fica em casa e participa de reuniões pelo vídeo (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)Yahoo, empresa americana de serviços de internet, tomou uma decisão incomum no Vale do Silício, o berço de companhias inovadoras nos Estados Unidos, que sacramentou práticas de trabalho informal e flexível. Em fevereiro deste ano, proibiu os 12 mil funcionários de seus escritórios no mundo todo de trabalhar em casa, prática também chamada de home office. Com tanta gente que nem aparece no escritório, o Yahoo perdera o controle de quem faz o quê. O objetivo da decisão, tomada pela presidente Marissa Mayer (ex-Google), foi reorganizar a casa e conter anos de declínio na receita e no número de usuários – mais um lance na tentativa de sobreviver à concorrência com FacebookTwitter e Google.

O caso do Yahoo mostra que a fórmula-padrão de trabalho em casa tem limites e não funciona para todos. Há no Brasil 12 milhões de funcionários com carteira assinada que trabalham pelo menos parte do tempo em casa, de acordo com estimativas do Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível, em São Paulo. O número cresce 30% ao ano. Em geral, é bom para o empregado e para a empresa, que reduz custos, com manutenção, aluguel de imóvel, limpeza e alimentação – uma economia de pelo menos 20% por funcionário. Mas a experiência dos últimos anos mostra que cada empresa precisa de um modelo próprio. A seguir, os estilos – e os limites – do trabalho flexível:
Casa: modo de usar (Foto: reprodução/Revista ÉPOCA)
Agressivo
A flexibilidade total é encontrada em empresas com maior maturidade em relação ao trabalho remoto, disposição financeira para investir na tecnologia necessária e cujas atividades não envolvem contato pessoal intenso. A fabricante de equipamentos digitais Cisco permite o trabalho doméstico há mais de 15 anos. Os 500 funcionários da Cisco no Brasil, distribuídos em setores como administrativo, vendas e engenharia, podem ficar em casa cinco dias da semana, com horário flexível. Têm direito a telefone, computador e internet pagos pela empresa. Podem conversar com os colegas no escritório, que usam salas de teleconferência para as reuniões. O engenheiro de sistemas José Alfredo Souza vai à empresa duas vezes por semana. Diz que o arranjo permite acompanhar melhor o crescimento da filha. Para Silvio Paciello, diretor de recursos humanos da Cisco, a distância não é problema. “Com a tecnologia, os funcionários podem trocar informações e conhecimentos sem nenhuma perda”, diz. Não por acaso, a tecnologia é um dos produtos da Cisco, uma das melhores empresas para trabalhar no Brasil, de acordo com o ranking elaborado por ÉPOCA, com a consultoria Great Place to Work.
Moderado
Outras empresas têm intenção de facilitar a vida familiar dos funcionários, mas não abrem mão do contato pessoal no escritório. Na farmacêutica Boehringer Ingelheim, com 300 funcionários em São Paulo, o trabalho em casa foi autorizado em 2009. Todos podem trabalhar do sofá da sala uma vez por semana, com horário flexível. “Tem gente que pode abusar da liberdade e fazer corpo mole”, diz Adriana Tieppo, diretora de recursos humanos. “Mas fariam isso aqui no escritório também. É uma questão de postura e responsabilidade.”
Misto
Muitas empresas gostariam de liberar seus funcionários para trabalhar em casa, mas a natureza do negócio impede que a equipe toda faça isso. Nesse caso, adotam uma estratégia mista. É o caso da Acesso Digital, especializada em digitalização de documentos. Desde a fundação, há sete anos, a equipe pode trabalhar de casa, exceto os funcionários de dois setores: tecnologia e administração. “Eles são os mais requisitados todo o tempo internamente”, diz Diego Martins, presidente da Acesso. A flexibilidade foi útil há um mês, quando a Acesso reformou sua sede, em São Paulo. Durante a obra, Martins mandou 30% dos 110 funcionários ficar em casa.

A Philips também tem políticas diferentes, dependendo da função do empregado. Dos 900 funcionários de São Paulo, 80% podem trabalhar remotamente uma vez por semana. Os outros têm um esquema mais livre. São representantes comerciais ou engenheiros que dão assistência técnica. Eles já passam parte do tempo na rua, de um cliente para outro.

No banco HSBC, com 22.500 funcionários no Brasil, o privilégio de ficar um pouco mais com a família depende do nível hierárquico. Os funcionários mais graduados das equipes comercial e de tecnologia podem ficar em casa até quatro dias por semana. Mas precisam estar disponíveis em horário comercial. A liberdade mudou a vida da especialista de crédito empresarial Fernanda Biral. Ela gasta duas horas e meia no trânsito para ir e vir do escritório. “O trânsito me deixa muito cansada. Em casa, meu nível de concentração é maior”, afirma. Com o tempo extra, Fernanda passou a correr na academia antes de abrir o computador.
Conservador
Certas empresas experimentam com cuidado a opção de trabalho em casa. A farmacêutica Pfizer começou há um ano. Por enquanto, metade dos 750 funcionários da sede, em São Paulo, pode ficar em casa uma vez por semana, com horário fixo. “Começaremos devagar a analisar e monitorar os resultados, para então decidir como poderemos ampliar o programa”, diz Lisandra Ambrózio, diretora de recursos humanos. A expansão exige investimentos, como troca de computadores de mesa por notebook e o pagamento de telefone para os funcionários em casa. A novidade já agrada a Janaína Peres, gerente de compras da Pfizer. Casada e mãe de um menino de 2 anos, ela leva o computador para uma sala de trabalho no prédio onde mora. “Ali, não me interrompem o tempo todo”, afirma. Ela diz que recebeu propostas de trabalho e optou por ficar na Pfizer por causa da flexibilidade.

Qualidade de vida é uma das principais demandas dos funcionários hoje. Oferecer a opção de trabalho em casa virou uma solução automática no mercado. Adotada sem controle, como fez o Yahoo, pode gerar mais ineficiência que economia de custos. O bom-senso deve reger os casos em que ela se aplica. 
PAZ DOMÉSTICA Janaína, da Pfizer,  na sala de trabalho  do prédio onde mora.  Ela diz que não  gosta de ficar no apartamento, para evitar interrupções (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)

Um comentário :

  1. Hoje em dia é realidade para muitos brasileiros trabalhar em casa, aumenta cada vez mais o número de empresas que oferecem oportunidades. Eu trabalho a mais de 2 anos em minha casa perto dos meus filhos e recomendo, escolhi a empresa e estou muito satisfeita com meus ganhos podendo assim ajudar no orçamento familiar. www . rendafrpromotora . com

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