Marcus Eduardo de Oliveira
Até dezembro do corrente ano conheceremos o primeiro indicador de bem-estar e felicidade no Brasil. O Well Being Brazil (WBB), como será chamado o Índice de Bem-Estar Brasil, vai medir o nível de satisfação do brasileiro. Dez temas serão contemplados nessa análise: clima e atividades ao ar livre, transporte e mobilidade, família, redes de relacionamento, profissão e dinheiro, educação, governo, saúde, segurança e consumo.
Tal proposta está relacionada, na prática, à ideia em torno da Economia do Bem-Estar Social que se assenta numa visão de equilíbrio e equidade, evitando-se assim distorções socioeconômicas. Em outras palavras, é aquela situação em que o sistema econômico envereda-se por caminhos visando alcançar uma justa distribuição dos ganhos, tornando menos desigual, mais humana, justa e mais inclusiva à participação das pessoas dentro do conjunto da economia.
Dito de outra forma, para uma sociedade alcançar bem-estar deve se atingir aquele estágio em que a economia cresça sem agredir os serviços ecossistêmicos, respeitando os limites do meio ambiente, além de fazer da questão social sua mais elementar prioridade. Para tanto, é imprescindível colocar as pessoas em primeiro lugar visando assegurar de forma satisfatória o atendimento pleno das necessidades dos menos privilegiados, uma vez que a economia precisa estar à serviço das pessoas, e não o contrário.
No entanto, resta saber: quem são esses menos privilegiados? São milhões de seres humanos que se encontram “excluídos da economia mundial”, para usarmos a expressão de Amartya Sen. Colocar a economia para atender esse contingente de excluídos só faz sentido se o sistema econômico apresentar como característica precípua um modelo de organização econômica pautada na cooperação, capaz de somar e incluir.
Enquanto a teoria do bem-estar não apresenta essa faceta, lamentavelmente aumenta-se de forma assustadora o contingente de excluídos da economia mundial. Vejamos alguns números em relação a isso: 870 milhões (12,5% da população mundial) passam fome; 783 milhões (11% da população mundial) de pessoas não têm acesso à água potável; apenas 63% dos habitantes do planeta têm acesso a saneamento básico; 1,1 bilhão de pessoas ao redor do mundo ainda fazem suas necessidades fisiológicas ao ar livre - a grande maioria (949 milhões) vive em zonas rurais.
Mais de 28 milhões das cerca de 80 milhões de crianças encontram-se atualmente longe da sala de aula vivendo em 12 nações da África e da Ásia. Nesse pormenor, só a Nigéria tem 10,5 milhões de crianças sem estudar.
Em 2011, 13% do total de jovens, ou cerca de 75 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos, estava sem trabalho.
Ainda no que toca aos aspectos relacionados à saúde, todos os anos quatro milhões de pessoas morrem vítimas de malária, AIDS e tuberculose. Fora da África, apenas a malária afeta 34 milhões de pessoas, levando mais de 40 mil delas ao óbito a cada ano. No mundo, todos os dias, 7,5 mil pessoas são infectadas pelo vírus HIV e 5,5 mil morrem em consequência dessa doença.
Em relação às crianças, 19 delas com menos de cinco anos de idade morrem a cada 5 minutos de pneumonia; são cinco milhões de crianças que a cada ano não completam cinco anos de vida. Quinhentas mil mães morrem a cada ano na hora do parto devido à assistência médica insuficiente.
Diante desse quadro terrível de degradação das condições de vida humana, é possível encontrar na atividade econômica todas as possibilidades para reverter essa situação. Que a economia do bem-estar social possa alcançar e resgatar esses excluídos da economia mundial o quanto antes. A vida agradece.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
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